Parte 1: Branco 3 - O que é que tem o Sartre

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— Quatro horas… trinta e um minutos… nove segundos… É quando… o mundo vai acabar — disse Sam, pensativo.

— O que vamos fazer? — Rachel engoliu o próprio desespero.

Ele não respondeu de imediato. Precisava pensar. Massageou as têmporas com um gesto ausente, os olhos fixos no implacável cronômetro da Sala de Controle. A contagem regressiva prosseguia: oito segundos… sete segundos… seis segundos…

Rachel encarou-o, suplicante:

— É melhor sair daqui antes que os guardas apareçam, Sam.

— Espere um minuto. Acho que sei como anular o ataque...

Com determinação, Sam pressionou uma tecla azul no painel de controle. De repente, hesitou. Havia uma tecla amarela e outra verde logo abaixo. Qual delas validaria a neutralização? Agora que havia iniciado a sequência de comandos, não poderia interrompê-la, ou o alarme soaria. Ele não podia falhar.

O destino da humanidade dependia da próxima tecla.

Alto e magro, Sam era treinado em artes marciais, e seu corpo se traduzia em pura massa muscular. Mas toda a sua força era inútil naquele momento. Ele coçou a barba bem aparada, e seus olhos escuros relampejaram. Notando-lhe a frustração, Rachel pousou a mão no ombro dele e o fitou com um par de olhos perfeitos e azuis como retalhos de céu de outono. Desde a reconstrução facial para mudar de identidade, sentia-se como uma boneca Barbie. Tinha saudade do rosto original, mais assimétrico, mais seu. Esse era, porém, o preço para continuar viva.

— E se você tentasse a tecla vermelha? — ela arriscou.

— Não sei que comando aciona. Pensei na tecla azul e na verde porque o código secreto mencionava mar e montanha… mas me lembrei que também mencionava um grande sol…

Enquanto Sam e Rachel estudavam as teclas no painel negro, as caixas acústicas embutidas no teto solfejavam uma sonata de Mozart, abafando os passos do guarda. Ele esgueirou-se por trás dos dois e sacou a arma...

O grito de Rachel ecoou na Sala de Controle.

Marisa acordou com um sobressalto e pausou o filme que passava em streaming na tela do computador. Tinha adormecido na escrivaninha com a cabeça apoiada no livro de física, junto a um prato com os restos mortais de um punhado de jabuticabas. Ainda atordoada, esfregou os olhos e consultou o relógio: quase dez e meia. Fez menção de desligar o computador, e então lembrou-se…

O cursor do mouse desviou-se do botão Desligar e, com o ímpeto de um cão farejador, atravessou campos de pastas, desviou-se de atalhos floridos e trotou até o dossel de abas do navegador. Aí, finalmente entocou-se na caixa postal, instigando em Marisa outro sobressalto ao encontrar uma mensagem de Marco.

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De:  Marco Aurélio Fares  <mafares@gmail.com>

Para:  Marisa Constant  <mconstant@uol.com.br>

Data:  Seg, 08 de outubro de 2012, às 20:46

Assunto:  teste vocacional

Oi, Marisa,

Como prometido, segue em anexo a lista de profissionais que eu recomendo.

Essa fase de indecisão é difícil, eu sei, mas você vai superá-la. Aqui vai outra citação de Sartre para inspirar você: O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós...

VERMELHO: Uma História de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora