Capítulo 24

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James narrando...

Não pisei em solo russo desde que minha mãe nos tirou daqui e isso me trazia memorias perturbadoras. Aos sete anos meu pai me levava para ver inimigos sendo torturados, dedos cortados, ácido sendo jogado na pele daqueles sujeitos que gritavam tanto que jurava que toda a Rússia poderia ouvir. Depois dessas visitas eu não conseguia dormir, aqueles gritos ficavam sendo reproduzidos em minha mente como uma playlist infinita.

Brigas ficaram constantes entre minha mãe e meu pai, ela implorava para ele não me levar e ele dizia que eu tinha que assistir para que eu pudesse aprender. Meu pai dizia que não concordava com aquilo também, mas era exigido que os filhos dos membros compartilhassem esses momentos "Gloriosos" para aprender como ser um guerreiro, como ser um Russo.

Mas tudo que meu pai foi e acredito que ainda seja é um covarde e eu não tolerava a covardia.

- Conheço um lugar para ficarmos até que eu consiga falar com eles - Disse para Alaric.

- Espero que você não esteja blefando, pois não me limitarei a colocar uma bala na sua cabeça.

- Não se preocupe com isso, assim que você pegar os pais da Alexa, eles mesmo vão fazer isso comigo - Os conheço o suficiente para saber o que farão com um traidor, mesmo eu sendo filho daquele verme.

Chegamos à casa um pouco velha, mas me parecia igual desde a última vez em que a vi. Bati na porta com cuidado e alerta, mas logo a porta se abriu e imediatamente reconheci o rosto daquela mulher na qual minha mãe confiara a segurança dos seus filhos.

- Oh meu Deus, James? - Seus olhos encheram de lágrimas e ela me abraçou.

- Sou eu, Anya - A abraço também.

- Você está bem? Como chegou aqui? Oh Deus eles vão te achar, você tem que ir logo - Fala rapidamente sem me dar oportunidade de responder uma pergunta.

- Preciso estar aqui Any e tenho que falar com meu pai - Ela olha para mim e logo em seguida para Hexsel atrás de mim - Ele está comigo.

- Entrem, entrem antes que alguém os veja.

Sua casa era simples, mas bem espaçosa e tinha um grande quintal passando por aquelas portas da sala. Eu me lembrava de brincar algumas vezes com seu filho nesse quintal, ele era um ano mais novo que eu e era bem mais calmo e gentil.

- Onde está o Ygor? - Assim que pergunto seus olhos voltam a lacrimejar e aquilo era o suficiente para entender o que acontecera.

- Eles o levaram, Ygor vinha me visitar e me dar dinheiro de tempo em tempo, mas eu nunca aceitava aquele dinheiro sujo - Cuspiu suas palavras - Ygor era gentil e calmo, eles o tornaram um mostro coberto por tatuagens estúpidas - Suspirou - Ygor parou de vir por um mês e eu já temia o pior, então eles vieram me falar que meu filho tinha sido morto em combate, como se eu tivesse que ficar orgulhosa de meu filho por ter morrido por aqueles vermes.

- Eu sinto muito - Segurei sua mão e ela usou a outra livre para passar pelo meu rosto.

- Você sempre teve o coração bom da sua mãe, mesmo tendo os olhos parecidos com os de seu pai - Todos elogiavam meus olhos pela anomalia, mas eu somente me apegava aquela parte castanha, pois o resto era igual daquele verme - Ele mudou muito depois da morte de sua mãe, ele tinha os seus defeitos e também via algo bom em seu coração, mas agora só vejo maldade.

- Talvez ele tenha abraçado a sua origem de vez.

- Creio que sim e espero que você nunca venha seguir esse caminho, o que me faz perguntar o quê você deseja falar com seu pai?

Contei tudo o que era necessário para ela, creio que não tenha gostado da maioria das partes, mas não pronunciou contra o plano.

Estávamos cansados daquela viagem planejada com rapidez, Hexsel deitou um pouco no sofá, mas mantinha sua mão na arma. Agradecia mentalmente por ficar sempre alerta, ninguém poderia vacilar nesse lugar.

Peguei meu celular e fiquei pensando se ligava para Kyle e perguntar como elas estavam, sentia falta de Alexa e pensar que nunca a veria novamente fazia minha alma estremecer. Mas aquilo era certo a ser feito, Amy e Alexa ficariam seguras e Alexa teria seus pais de volta se assim ocorresse como planejado.

Meu celular começou a tocar me tirando daquele mar de pensamentos e o nome de Alexa aparece no visor, não poderia atender, mas sentia falta de sua voz e queria dizer adeus.

- James - Sussurrou assim que atendi e fechei meus olhos escutando sua voz.

- Becker.

- Você está bem? Onde estão? - Sabia que ela descobriria logo sobre tudo aquilo.

- Estamos bem e estamos na casa de uma amiga - Tentei ser evasivo e não dar detalhes.

- Helsten, por favor, não faça isso vamos arrumar outro jeito e-e...

- Alexa está tudo bem, vou fazer o possível para que seus pais voltem para você a salvo - Suspiro.

- Mas você nunca mais vai voltar James... - Sua voz falhou e percebi que ela estava chorando e isso matou uma parte de mim - Preciso de você, preciso que você volte para mim Helsten - Isso era perturbador e doloroso, precisava dela e me culpava por não ter percebido antes, mas estava fazendo isso por ela e ela já tinha perdido muito tempo longe de seus pais.

- Becker você se tornou o ar que eu precisava respirar, seus lindos cabelos ruivos e olhos num perfeito tom esverdeado, seus perfeitos gemidos quando estamos nos unindo, seu sorriso me leva ao céu, sua falta de perceber uma ironia ou sarcasmos me diverte, sua coragem e determinação me inspiram a continuar dando meu melhor - Tomo fôlego e continuo - Foi tudo isso que me fez ficar perdidamente apaixonado por você e não poderia deixar de fazer o que estivesse ao meu alcance para te ver feliz.

- Então me espere e não faça nada, pois estamos a caminho - Alexa desliga o celular e não tenho reação, eu com certeza mataria Kyle.

- Você a ama, não é mesmo? - Anya diz me assustando. Fico ponderando o que ela disse.

- Creio que sim - Dou um suspiro com a minha súbita percepção e me dei conta que realmente a amava.

Anomalia • Concluída •Onde histórias criam vida. Descubra agora