PRIMEIRO

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Ai meu Deus, por onde eu começo?


- Você o quê?

Respirei fundo, servindo outra xícara de chá ao meu melhor amigo, ocupando minha mente e minhas mãos na tarefa simples de colocar dois pequenos cubos de açúcar em sua xícara de porcelana antes de entrega-la a ele, que a aceitou sem desviar os olhos de mim, deixando evidente que estava esperando uma resposta logo.

- Eu disse sim.

Peter me encarou ainda mais irritado e eu fiz um sinal para que deixasse a xícara pacientemente em cima da mesa antes de começar a brigar comigo. Aquela porcelana havia sido caríssima e eu a adorava demais para deixar que Pete a estragasse.

- Mas, Jess... Você é...

Encarei-o com firmeza, sabendo que ele não terminaria a frase. Aquele era um assunto que eu não estava interessada em discutir no momento, por mais importante que fosse. Eu daria um jeito de escrever aquele livro, não sabia como, mas daria.

- Era um contrato de oito anos.

- Eu sei. Mas você... - Peter tentou novamente e dessa vez desistiu antes mesmo que eu o encarasse. Haviam certos assuntos que havíamos decidido nunca discutir. Minha vida sexual e a vida familiar de Peter eram dois tópicos que nos faziam mudar de assunto automaticamente, desejando que nenhum silêncio desconfortável se instalasse entre nós.

- O que pretende fazer, então?

Abaixei a cabeça, me servindo de mais água quente, realmente confusa. Eu não sabia por onde começar. Era a primeira vez em anos que eu não tinha nem mesmo um pré-enredo em minha cabeça. Não tinha personagens implorando em meus neurônios para que eu desenvolvesse belas histórias de amor para eles, não tinha cenários tão vívidos em minha mente que conseguia descrevê-los como em um filme. Não. Eu estava oca.

E nada me deixava mais frustrada do que me sentir incapaz de produzir minhas tão amadas histórias.

Eu não tinha a menor ideia nem sequer sobre por onde começar. Sobre o quão erótica a minha história seria. Deus, eu nem sabia flertar. Como diabos se pretendia que eu escrevesse um livro sensual se eu mesma não tinha uma grama disso em meu corpo enfadonho?

Pousei a xícara no pires e olhei para Peter com os olhos arregalados, uma demonstração óbvia do puro terror que me consumia.

- Eu não sei flertar.

- Ok. Você quer escrever esse livro, realmente? - assenti e Peter imitou-me, colocando a xícara no pires, cruzando as pernas enquanto observava o pequeno e aconchegante jardim de inverno com móveis em estilo vitoriano, evidentemente o meu local preferido em minha casa. - A primeira coisa que preciso saber é: há quanto tempo exatamente você não beija alguém, Jess?

O rubor em minhas faces era tão intenso que sentia minhas bochechas arderem por dentro e por fora. Eu odiava completamente perguntas daquela natureza tão pessoal. Mesmo sendo feitas pelo meu melhor amigo, eu ainda assim não conseguia levá-las de maneira normal e corriqueira como todo o resto das pessoas no planeta pareciam fazer.

- Algum tempo. - sussurrei em resposta, mortificada.

- Quanto tempo?

Respirei fundo. Eu teria mesmo de responder, não havia escapatória. Eu precisava de ajuda e não havia pessoa em quem eu confiasse mais do que em Peter, ele parecia me conhecer bem o suficiente para me ajudar a passar por aquela prova de fogo de uma maneira mais confortável do que outro alguém desconhecido.

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