SEGUNDO

16.3K 1.2K 851
                                    


Vocês também lidam com "estocadas profundas"? Se sim, poderia me explicar o que exatamente este termo significa?


Durante todo o dia eu havia ficado em meu escritório, com as portas devidamente trancadas, vasculhando a internet atrás de termos homossexuais que pudessem ser uteis para mim. Além disso, eu havia elaborado uma lista com dezenas de perguntas para entrevistar Nate. Perguntas que realmente fossem pertinentes e me ajudassem na criação de um enredo e alguns personagens. Eu não queria desenvolver um personagem muito estereotipado, mas ao mesmo tempo queria ser explícita o bastante para despertar as sensações de prazer que os livros eróticos eram conhecidos por proporcionar.

No fim, eu tinha uma porção de folhas de papel unidas por um clipe, dentro de uma pasta azulada, pronta para a minha entrevista com Nate. O fato de nos encontrarmos em um bar, o qual eu já havia recebido o endereço e programado antecipadamente em meu gps, deixaria tudo mais fácil. Eu pediria alguma bebida bem forte e aquela seria a dose de coragem que eu ingeriria para fazer as perguntas à ele. E se minhas bochechas ficassem muito vermelhas, eu poderia alegar que era a bebida me deixando quente e não a vergonha por todas aquelas informações trocadas.

Duas horas antes do combinado, lá estava eu me arrumando. Havia pensado em me vestir um pouco mais reveladora, uma vez que o assunto de minha reunião era realmente sexual, mas bastou uma olhada em meu armário para saber que aquilo não seria possível. Meu armário era uma sucessão de trajes românticos e pouco sensuais. E mesmo as minhas blusas mais apertadas, somadas com minhas saias mais curtas, não davam nenhum ar de sensualidade que eu tinha interesse em exibir.

Por fim, escolhi um dos vestidos azuis, com gola rendada e levemente acinturado que não me dava um enfadonho ar infantil, mas era o mais curto e moderadamente revelador que eu possuía entre todos os meus trajes. A maquiagem também não fora fácil. Não havia nenhum batom vermelho, sombra escura ou rímel que criasse volume dramático. Nunca me arrependi tanto de minhas escolhas mais discretas do que naquele momento. O máximo que consegui foi delinear meus olhos de uma maneira diferente e usar um batom mais intenso, que na verdade não fez muito mais do que deixar meus lábios levemente brilhantes, afinal, a cor era idêntica à cor natural de meus lábios.

Não quis imaginar que toda aquela minha decepção com minhas roupas e itens de maquiagem viesse a se transformar em uma decepção bem maior depois, por isso calcei minhas sapatilhas e juntei todos os papéis da entrevista, rumando para o bar onde me encontraria com Nate.

Para facilitar minha tarefa de achar o tal Nate em meio a todos os frequentadores do bar, Peter havia me enviado uma foto de seu amigo. O tal senhor Newman era bonito e parecia ter plena noção disso. Olhos verdes e expressivos, boca fina e rosada, aberta em um sorriso sarcástico e sedutor e maxilares bem definidos. O tipo exato de cara que despertava suspiros onde quer que estivesse. Seus cabelos castanhos e desalinhados formavam leves cachos, mas eram arrumados para cima, despretensiosamente. Na foto, ele usava um cordão com crucifixo

Se por algum acaso eu não o achasse tão facilmente, era só esperar alguma comoção e uma porção de gente babando por algum cara estupidamente fascinante e eu teria achado Nate Newman.

Em meus planos, eu chegaria às 20h no bar e encontraria Nate facilmente, me poupando alguns minutos de busca. Assim, teríamos cerca de uma hora ou duas para conversas iniciais e marcar novas reuniões em dias que fossem acessíveis a ele. Assim, eu esperava estar de volta ao meu lar por volta das 23h, me garantindo algumas horas para começar a rascunhar o novo livro antes de dormir.

Porém, ao que parecia, recentemente, meus planos não estavam ocorrendo da maneira que eu programava. Prova disso, era o fato de eu já estar sentada naquele bar há mais de quarenta minutos, esperando por alguém com as características ao menos remotamente parecidas com as de Nate. Para garantir, eu havia salvo a sua foto em meu celular, abrindo-a de cinco em cinco minutos para ter certeza de que aquele novo cara que entrava não era o meu entrevistado. Porém, nenhum dos homens que entrara naquele pub era ele.

WingsOnde histórias criam vida. Descubra agora