DÉCIMO SÉTIMO

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Lembrete: Nenhum personagem com olhos verdes, cabelos compridos ou qualquer associação com asas. DE MANEIRA ALGUMA. E em hipótese nenhuma pensar em Theodore Newman.



Estacionei o carro em frente à minha casa e deixei minha cabeça apoiar-se no volante. Os últimos dias haviam sido terríveis.

Mas aquele além de terrível, ainda havia sido o mais exaustivo que eu já vivera.

Ergui a cabeça, observando a chuva cair contra as janelas, não sentindo a menor vontade de sair daquele carro. Além de toda a dor que eu tinha de lidar dentro de mim, Peter Mason, o melhor amigo que eu poderia ter, havia escolhido justamente aquele dia para decidir contar toda a verdade à sua tradicional e super protetora família. Os gritos, acusações e faniquitos produzidos pelos mais diversos membros da família já eram esperados e perguntei-me inclusive como eles jamais haviam nem sequer suspeitado de que o filho deles era homossexual. Francamente, não era como se fosse um dos maiores segredos do mundo. E não era algo que mudava em absoluto a incrível pessoa que Pete era, em absoluto. Por isso, contrariando toda a minha criação elitista e minha educação notável, ergui-me diante de seus pais e fiz um discurso emocionado e feroz, defendendo Pete e enumerando todas as suas qualidades, lembrando a cada um de seus maus agradecidos parentes o quanto eles possuíam sorte em dividir com o meu melhor amigo o sobrenome Mason.

Talvez eu tenha me exaltado um pouco mais do que o devido, inclusive chamando o pai de Pete de balofo esnobe, sua mãe de piranha egocêntrica e sua irmã caçula de pirralha mimada. Porém, ainda que meus atos não tenham sido os recomendados à uma moça de boa estirpe como eu, não me arrependia de nenhuma das palavras que eu havia proferido. Finalizando meu grande ato com:

- Não querem manter contato com o Peter, ótimo, menos problemas para ele. Fiquem com a porcaria falsa que chamam de vida perfeita e continuem sendo os hipócritas ridículos que sempre foram. Porém, ouçam-me atentamente, se um de vocês, qualquer um e esse é um aviso, erguer a voz para falar qualquer coisa que seja para destituir a honra ou qualquer qualidade de meu amigo, eu virei pessoalmente tornar a vida de vocês um verdadeiro inferno revelando à imprensa os seus segredos de família.

- Não ousaria, Jessica Sandford. - rosnou o senhor Mason e como resposta, ergui as sobrancelhas, tão ameaçadora que os vi arregalar os olhos, e segurei a mão de Pete, saindo do imponente palacete de seus pais, levando-o para casa, sob o som de seus soluços e frases entrecortadas, onde ele me agradecia, dizia sentir-se mais leve por finalmente revelar o seu tão terrível segredo e em como ele não podia acreditar que os pais fossem capazes daquilo. O que eu não concordava, afinal, os pais dele nunca foram as melhores pessoas do mundo e a reação dele já era, de certa forma, esperada. Depois de deixá-lo em casa, certa de que ele precisava realmente de um tempo sozinho para pensar sobre tudo e com a promessa de que ele me ligaria quando precisasse conversar, dirigi na chuva de volta para minha casa, onde estava até aquele momento, observando as gotas grossas contra o vidro, sem vontade alguma de atravessar a tormenta até minha casa.

O som suave da vibração do meu telefone chamou minha atenção e temi que fosse Theodore novamente. Todavia, naquele momento, não era Theodore Newman, o nome piscando em minha tela, e sim o de Andrea, a minha editora. Nem preocupei-me em atender. Eu não estava com cabeça para decisões sobre o livro e sua festa de lançamento. Ela e outros editores estavam no meu pé querendo um lançamento cheio de coisas inovadoras para A Sedução Do Corsário, o maldito livro que provocara grande parte dos meus problemas, enquanto tudo o que eu queria era esquecer que aquele livro havia sido escrito.

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