O som do mar estava mais e mais alto conforme as suas passadas a levavam para longe do navio, diante da prancha estreita formada por uma tábua fina demais para que ela pudesse se considerar à salvo. Diante de si havia o mar aberto, onde milhões de criaturas marítimas aguardavam o seu corpo para lancharem, atrás dela havia o corsário, vestido em negro, parecendo tão perigoso quanto a profundeza abaixo de si. Ela tinha uma escolha a fazer. Ou o oceano ou render-se à ele. Sua escolha foi óbvia e deixou-se cair no oceano.
- Espero que não acredite que ficaremos neste lugar.
- Como disse? - perguntou Theodore, já vestido com outras peças de roupas que ele havia retirado de sua mochila, como eu, já estávamos devidamente compostos e secos, apenas com os cabelos ainda por secarem, como uma breve prova de que o que havia acontecido anteriormente era real.
Estávamos sentados diante em uma espécie de banco do lado de fora, onde Theodore havia me encontrado depois que havia trocado sua toalha por um par de calças justas e rasgadas e uma camiseta vermelha com algo em francês escrito que, se meus conhecimentos no idioma estivessem precisos, significava uma blasfêmia absurda.
Ele havia chego com a minha valise e sua mochila pouco tempo depois que minha raiva e frustrações já haviam sido devidamente descontadas na parede ao meu lado e não esperei tempo algum antes de buscar um dos cômodos daquela casa que possuísse uma porta onde eu pudesse me vestir com um pouco de privacidade. Depois de vestida, eu havia voltado para a entrada do pequeno casebre onde havia um pequeno banco que permitia, a quem estivesse sentado nele, uma bela visão do mar.
As suas cores estavam se alterando. O céu estava adquirindo um tom mais escuro e como as nuvens chuvosas que nublavam o céu não permitiam que se visualizasse o sol, o pôr do sol no mar não apresentou as cores laranja, amarelo, violeta e então azul marinho que eram comuns em filmes românticos quando o casal se beijava ao crepúsculo em meio ao mar.
Eu mais sentira a sua presença do que realmente a vira quando ele sentou-se ao meu lado, um tempo depois, um tempo demorado demais para alguém que fora apenas se vestir, mas o que eu sabia sobre o comportamento masculino, não? Era como se eu houvesse desenvolvido um sentido especial que se acionava apenas para perceber a presença de Theodore. Um sentido que eu tinha plena certeza de que funcionaria em meio a uma multidão. Poderiam haver milhares de pessoas e eu ainda sentiria que Theodore estaria entre elas.
- Que eu não vou dormir nessa casa. Não há uma só cama, a casa está suja, não há nada que possa tornar nossa estadia, ainda que por uma noite apenas, tolerável.
- Você já acampou, Jessica?
A pergunta pegou-me completamente de surpresa. Eu havia elaborado em minha mente uma grande lista de motivos pelos quais eu não poderia dormir naquele local e já me considerava pronta para rebater todos os argumentos que ele pudesse pensar em levantar. Eu não dormiria em um local como aquele. Não era digno de uma dama e eu jamais faria algo que Jane Austen não faria. Todavia, não havia me preparado para uma pergunta como aquela.
- Perdoe-me?
- Acampar? Montar uma barraca, dormir olhando as estrelas? Fogueiras? - minha cabeça moveu-se em negativa. Meus pais jamais me permitiriam algo tão selvagem como acampar. Não ficava bem para pessoas tão eruditas e cheias de pompa dormir ao relento. - Sua infância deve ter sido uma porcaria.
Estava preparada para argumentar que o clube de xadrez e a esgrima não eram tão ruins quanto as pessoas faziam pensar, quando ele estendeu a sua enorme mão para mim, uma vez mais.
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Wings
RomanceA escritora de romances históricos Jessica Sandford recebe uma proposta irrecusável de sua editora: um livro erótico em troca de oito anos de publicação imediata. Porém, como a virgem e inocente Jessica poderia escrever um romance erótico sem nenhum...