QUINTO

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O som, os perfumes e o próprio sabor de seus lábios ficou mais intenso. Era como se privando um sentido, todos se intensificassem para que ela o sentisse melhor. Deveria temê-lo, porém só conseguia desejar mais. Tanto mais daquelas sensações, quanto mais dele.


Envergonhava-me profundamente ter de admitir que eram três da tarde e eu ainda continuava estirada sobre a cama, observando o teto em derrota.

Aquela noite não fora melhor que a anterior. Nem a anterior àquela. Nem a outra. Tudo o que eu conseguia pensar era naquele livro e isso estava afetando completamente minhas necessidades básicas, como o sono, por exemplo.

Eu passava as madrugadas acordada, dividida entre escrever cenas aleatórias e sem conexão e tentar dormir, apenas para ser fustigada por todas as imagens sensuais e voltar a acordar, suada e estranha, voltando a escrever furiosamente.

Maldito momento em que eu havia conhecido Theodore Newman. Maldito momento em que eu havia aceitado aquela ideia estúpida de escrever um livro erótico.

O telefone tocou e o identificador de mensagens mostrou que era Peter, fazendo com que eu me sentisse mal. Por alguns segundos, desejei que fosse Theodore e mais um de seus encontros comerciais.

Ele podia ser um arrogante maldito, mas eu tinha de lhe dar o devido crédito. Desde que o havia conhecido, minha imaginação finalmente conseguira se direcionar para aquele livro e, se a quantidade de páginas do meu caderno fosse algum demonstrativo, eu estava me saindo razoavelmente bem.

- Diga que você não acordou agora. - riu meu melhor amigo.

- Direi, se é o que deseja.

- Nunca pensei que viveria para o dia em que Jessica Sandford acordaria às duas da tarde. O que está acontecendo com você?

- Eu não sei. - respondi e fui completamente sincera. Eu não sabia o que estava acontecendo e por mais que tentasse compreender, tudo ficava ainda mais nublado. De repente, minha vida que era tão estritamente preta e branca, havia ganhado uma porção de tons cinzentos que eu não conseguia administrar. - Passo as madrugadas escrevendo e quando finalmente consigo dormir, acordo a esse horário e exausta.

- Finalmente você está agindo como uma escritora normal. - Gemi e grunhi, pouco femininamente, enquanto escondia a cabeça debaixo do travesseiro, cansada, com o telefone ainda colado ao ouvido. - Mas me diga, como anda o livro?

- Consegui obter várias ideias para cenas aleatórias. Provocações, preliminares e todas as derivações, mas ainda não consegui um enredo ou algo mais explícito.

- Entendo. E a sua relação com o Sr. Newman?

- Por que não falamos da sua relação com o outro Sr. Newman, Peter? - eu sabia que estava sendo completamente indelicada, mas não pude resistir. Peter ainda não me contara de onde conhecera Nate Newman e a cada vez que conversávamos, eu tentava extrair essa informação dele, porém sem nenhum sucesso.

- E a sua editora, Jess? Já entraram em contato?

Eu jamais poderia tirar o crédito da habilidade de meu mais velho amigo em mudar de assunto. Porém, como aquele em si era mais neutro do que os gêmeos Newman, me vi contando a Peter sobre a ligação que eu havia recebido de Andrea, ansiosa por saber se eu ainda estava completamente de acordo com a ideia de escrever um livro erótico, se as datas estavam de acordo com o meu ritmo de trabalho e animada com minhas respostas positivas. Ela não precisava saber que eu ainda estava no escuro, apenas com uma pequena luz em minha cabeça. Uma luz nem tão brilhante assim.

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