DÉCIMO PRIMEIRO

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Seu corpo estava encharcado, acreditava que havia engolido bastante água, mas não poderia precisar quanto. Não era capaz de recordar-se em que momento havia sido salva, mas fora resgatada. O corsário ainda não descobrira que ela estava acordada, ou ao menos não se virara, permitindo que ela continuasse úmida e repousada contra sua cama. Continuava diante da janela, as costas viradas para ela, as asas permitindo-se serem vistas em sua totalidade. "Resgatar tesouros do fundo do oceano vem a ser minha vocação, sendo assim, bela dama, acreditou verdadeiramente que eu não resgataria o maior e mais precioso dos meus?"



Meu corpo espreguiçou-se, notando que havia muito mais espaço para este agora, do que havia durante a noite. O que só poderia significar que Theodore não estava mais na barraca.

Em segundos, fui capaz de repassar todos os eventos da noite anterior e ao contrário do que deveria, peguei-me sorrindo, os olhos se abrindo com cuidado, recebendo a luz de um novo dia e o coração disposto, aberto, de maneira errônea, porém tão sincera.

Eu deveria simplesmente juntar meus pertences e partir. Ficar o mais distante de Theodore o possível e deixar que o tempo e o espaço fizessem sua parte e me permitissem esquecê-lo da forma mais eficaz que eu pudesse encontrar. Depois dos eventos da noite anterior eu havia aprendido muito sobre o homem que viajava comigo e podia compreender melhor sobre seus momentos cheios de ironia e grosseria. Esses eram seus mecanismos de autodefesa e a melhor forma que ele havia encontrado para proteger a si mesmo de pessoas que poderiam fazer-lhe mal. Ao que se indicava, eu havia lhe provado, ainda que inconscientemente, que era incapaz de causar-lhe dano, por isso recebera um pouco de sua confiança, um tanto o bastante para permitir que ele despisse a máscara de insolência e rudeza e me mostrasse quem realmente era sob aquela faceta.

As velas estavam apagadas e o espaço parecia completamente diferente à luz do dia, ainda mais pois finalmente a chuva decida oferecer-nos uma trégua e permitir que o sol brilhasse. Andei incerta até a porta, de onde poderia ver melhor o mar e o céu e uma figura diante do mar chamou imediatamente minha atenção.

Sem camisa, Theodore estava de costas para mim, não muito longe, observando o mar revolto à sua frente como um pirata teria feito em tempos antigos, parado no convés de seu imponente navio, avaliando o mar diante de si com a certeza que apenas o conhecimento de anos e a devoção de uma vida poderiam trazer.

De onde estava, pude observá-lo e deixar que meus pensamentos fluírem sem problemas. Distante como estava, ele não poderia visualizar ou ao menos adivinhar o quão apaixonada eu parecia, ou realmente estava. Os fatos estavam expostos, as cartas viradas, eu só precisava descobrir como lê-las, o que realizar com elas. Eu podia simplesmente correr, ir o quão longe fosse possível e me livrar daquele sentimento que beirava o sufocante. Era estranho notar-se apaixonada por alguém, afinal, as evidências estavam todas ali, esperando para serem reunidas, porém encarar a verdade era o que provocava a estranheza e a sensação de impotência.

Se pudesse descrever como sentia minha nova descoberta em uma palavra, esta seria vulnerabilidade.

Eu, que passara anos planejando cada segundo, perguntando-me mais de duas vezes o que fazer antes de tomar qualquer decisão, encontrara-me apaixonada e eu nem tinha ideia de quando aquilo havia acontecido. Todos os momentos ao lado de Theodore eram espontâneos o bastante para não me permitir planejar, calcular ou mensurar as consequências. Enfrentávamos as marés de peito aberto, sem medo das ondas ou dos respingos, sem medo das possibilidades, resultados ou qualquer interferência. Apenas deixávamos ser.

Apesar de todo o despreparo, ao seu lado eu não me sentia desprotegida. Apesar de toda a insegurança, havia em sua presença uma segurança que levava-me a sentir como se fantasias permitidas apenas em meu imaginário fossem possíveis.

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