QUARTO

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Atrás do homem sedutor havia uma enorme estante que ocupava grande parte da parede, onde vários tipos diferentes de objetos eróticos estavam expostos, apenas esperando que ela escolhesse um deles para que ele pudesse lhe mostrar as variadas facetas mescladas de prazer e diversão que cada um daqueles objetos podia lhe trazer.


O relógio ao lado da cama mostrava que já passava das duas da tarde.

Eu deveria sentir vergonha de mim mesma. Certamente. O meu comportamento estava sempre digno de repreensões desde que eu havia concordado com aquela ideia insana de escrever o tal livro erótico.

Depois de chegar em casa, ainda atormentada pelos acontecimentos na boate, havia colocado meu pijama de flanela, sempre tão confortável, e me deitara para dormir, iludida que conseguiria conciliar uma agradável noite de sono.

A minha imaginação me pregava peças e, estranhamente, aquela noite estava quente demais para que eu continuasse com todos os botões do pijama fechados. As janelas abertas não fizeram nada para aliviar o calor. O sono vinha, porém acompanhado de uma mistura de cenas onde eu e alguém a quem eu não conseguia ver a face, protagonizávamos todas aquelas imagens que eu havia visto nos filmes pornográficos que eu vira anteriormente, somados à flashes que me colocavam no lugar da morena no espetáculo da noite anterior com striptease, algemas e chicote. Acordei assustada por diversas vezes, sedenta e suada, com os lençóis bagunçados ao meu redor, porém o cansaço me levava a dormir de novo e quando o sono me embalava, as cenas retornavam, mais eróticas que antes, se possível.

Apesar de sem rosto, o homem tinha costas largas e a pele firme ao toque, ainda que macia. Seus músculos convidavam meus dedos e a enorme tatuagem em forma de asas, ocupando grande parte de seus ombros, me faziam querer redesenhá-las com a ponta de meus dedos, para saciar minha curiosidade ao mesmo tempo que lhe despertaria arrepios.

Em algum momento da madrugada, cansada de ser abatida por aquelas fantasias sexuais, completamente novas para mim, peguei o caderno e descrevi cada uma daquelas cenas que se passavam na minha mente. No papel, eu era tão poderosa quanto podia e o homem sem face sabia todos os meus pontos mais fracos, que nem eu mesma conhecia. As informações apreendidas com alguns vídeos e o striptease fluíam através de mim, transformando-se em cenas novas que envolviam mais que apenas tesão e sexo. Aquele livro tinha de ter uma marca minha, algo que minhas leitoras reconhecessem e as fizessem saber que ainda que fosse completamente divergente do gênero que eu costumava escrever, ainda era minha escrita e minhas ideias que estavam presentes naquelas páginas.

Por isso utilizei sentimento. Fiz com que as carícias fossem mais apaixonadas e os sussurros fossem suaves e românticos. E pareceu completamente certo, ainda que eu não tivesse mais do que um punhado de cenas sem conexão alguma. Estava razoável e isso era mais do que eu poderia pedir anteriormente.

Ainda não havia uma trama, um enredo nem nenhuma definição sobre as personagens, mas havia mais que um fio de esperança agora e eu me agarraria nisso da melhor maneira que pudesse. Minha mente ficou tão focada em chegar a uma conclusão sobre o enredo que o sono me abateu novamente, cansada por todas as atividades do dia e pela escrita frenética da madrugada e quando dei por mim, o sol atravessava fortemente as janelas abertas, esquentando o meu rosto e me acordando.

E fora então que eu descobrira que eram duas da tarde.

No mesmo momento, meu celular começou a tocar. Algo que me dizia que não era a primeira vez que ele tocava naquele dia, mas atendi com a minha melhor voz, não querendo dar ao meu interlocutor a impressão de que eu estava dormindo até às duas. O que pensariam de mim? Uma dama deveria acordar cedo e cuidar de todos os seus assuntos antes do almoço. E resolver todos os seus pormenores antes do chá das cinco. Que mal exemplo eu era!

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