OITAVO

12.8K 1.2K 975
                                    


O vento fazia com que cachos longos de cabelo escapassem do grampo e ficassem úmidos, devido aos inúmeros respingos água, uma mistura salgada de mar e chuva. Porém, enquanto os lábios dele estivessem nos seus, ela não sentia nada que não fosse mais desejo.


Observei a porta vermelha do Cherry bater atrás de Theodore enquanto ele corria sob a leve garoa, colocando a mochila azul marinho de suas costas para dentro do porta malas do velho carro que ele possuía.

Queria descrever o veículo de uma maneira mais concisa, porém eu era péssima com automóveis e aquele era velho o suficiente para que eu soubesse o nome dele. Dizer que era preto, bem conservado, com detalhes cromados e aparentemente produzido pela Ford era a melhor e mais precisa descrição que eu podia dar.

Depois de acomodar sua mochila ao lado de minha valise, que continha tudo que seria essencial para mim em um fim de semana, Theodore sentou-se diante do volante, respirando fundo e lançando a mim uma das perguntas mais difíceis já feitas:

- Pronta?

Honestamente, como eu poderia estar pronta para algo que eu havia decidido apenas com base em um leve vislumbre de uma tatuagem de grandes asas em suas costas? Como eu poderia me considerar pronta diante de algo completamente sem planejamento?

Os filósofos tinham razão: o desconhecido era sempre assustador.

- Pronta.

Era irônico pensar que eu realmente me sentia pronta, me via até mesmo desejando começar aquela pequena viagem. Finalmente eu havia criado interesse em ver o mar tão de perto. Talvez eu devesse agradecer Theodore por mais coisas do que eu gostaria de admitir em algum momento futuro.

Com minha confirmação cheia de uma duvidosa confiança, Theodore finalmente ligou o carro e habilmente entrou no tráfego calmo do centro. A garoa leve era apanhada pelo para brisa e fazia um som calmo e relaxante que poderia me levar a dormir sem maiores dificuldades. Não era estranho que eu dormisse em viagens. Havia algo no balançar de um veículo e na estrada que embalava meus pensamentos, levando-me ao sono. Por isso já segurei minha bolsa de uma maneira mais confortável e sentei-me de forma a me proporcionar um sono de qualidade quando fui assustada com o repentino som do rádio de seu carro.

Encarei-o chocada, completamente incomodada com o estilo musical escolhido. Afinal, eu não era muito habituada com os novos artistas do cenário musical britânico. Ainda mais aqueles que envolviam muitos ruídos de guitarras e bateria num nível quase gutural.

Olhando-me com o canto dos olhos, Theodore permitiu que um sorriso nascesse em seus lábios enquanto voltava a sua atenção para a avenida em nossa frente que, segundo o aparelho GPS anexado precariamente ao painel do carro, deveria ser percorrida em sua totalidade para podermos alcançar a rodovia que nos levaria ao litoral.

- Imaginei que você não fosse muito fã de heavy metal.

- Não sei nem ao menos o que o termo deveria significar.

A sua risada ecoou pelo carro e perguntei-me se eu deveria realmente me arrepiar quando o som da sua risada, tão rouco e profundo, atingiu meus ouvidos. Era estranho como meu corpo reagia às variações do seu. Como um ator respondendo fisicamente à trechos de um roteiro. As palavras que formavam Theodore moviam meus sentidos, levando-me a ações que eu normalmente não cometeria se estivesse com a consciência em um estado normal.

- E o que você gostaria de ouvir, amor?

- O que você tem de clássico? - questionei ignorando o fato de o apelido "amor" haver retornado.

WingsOnde histórias criam vida. Descubra agora