DÉCIMO TERCEIRO

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Apesar do som contínuo de carruagens passando de um lado para o outro, retornando ou indo em busca de novos convidados que se ausentavam do grande baile na casa do Duque de Westham, a noite estava calma, permitindo que os leves e relaxantes sons noturnos entrassem pela janela aberta, junto com a brisa marinha que tornava o calor de julho mais suportável. Era uma noite como qualquer outra, até que pequenos ruídos completamente destoantes daqueles que a noite em comum fazia, a fez virar-se assustada. Diante de si estava um homem. Seus cabelos compridos e um tanto revoltos escapavam por baixo do lenço preto estampado em branco e sua postura era altiva, ameaçadora até, e uma vez combinada com seu físico atlético e alto, fazia com que ele parecesse ainda mais temível. Todas aquelas características já lhe conferiam um ar feroz, mas havia algo em seus olhos verdes e sorriso confiante e malicioso que, a ela, provocou ainda mais pavor. O terrível Corsário Negro estava ali para levar suas joias e outros itens de valor inestimável, todavia, bastou um olhar para o corpo bem formado oculto pela camisola branca e casta, tão trivial quanto as camisolas de qualquer outra senhorita de sua idade, para que seus olhos brilhassem em uma decisão silenciosa, onde o capitão do maior navio pirata daqueles dias decidiu levar não apenas as joias, quadros e demais pertences adornados com ouro, prata e outras preciosidades. O Corsário Negro decidira levar também o maior tesouro que já havia encontrado: a senhorita à sua frente.


Logo que escutei o som das rodas de Peter no cascalho, afastando-se de minha casa e tomando a rua, voltei para meu escritório, sentindo-me infinitamente mais calma e certa de minhas próximas ações, enquanto sentava-me diante de meu computador, observando o ponteiro piscar, aguardando a próxima palavra que eu não fazia a mínima ideia sobre qual seria.

Conversar com Peter havia sido revigorante, inspirador até, mas não era aquela a inspiração exata de que eu precisava para finalizar o meu livro. Havia apenas uma pessoa que seria capaz de me proporcionar o que eu necessitava, mas eu estava determinada a ignorar qualquer chamado de minha mente.

Um brilho suave à minha esquerda alertou-me da presença do meu celular, fazendo-me notar que, enquanto eu estava no banho, Peter havia trago o meu carregador para o escritório e havia deixando que meu celular recarregasse, permitindo que as mensagens de Theodore chegassem novamente ao meu aparelho telefônico.

Eu as ignoraria. Novamente.

Já possuía problemas o suficiente para acumular as sensações conflitantes que certamente apareceriam assim que eu lesse às suas mensagens. Não, eu já estava satisfeita com a frustração de um grande espaço em branco no meio do meu livro que parecia insolúvel.

O brilho começou a ficar mais intenso e meu corpo agiu antes que minha mente pudesse processar a execução de tal ato. Logo o celular estava em minhas mãos e meus hábeis dedos já haviam desbloqueado a sua tela e acessado a página de mensagens, onde quatro delas pertenciam à Theodore Newman.

"É complicado fazer pontos quando o time adversário está com o passe" dizia a primeira delas, enviada algumas horas depois de ter sido maravilhosamente devorada no banco da frente de seu carro. As palavras "Novo encontro. Cherry às oito" compunham a mensagem seguinte. Sem bateria, a tentativa de convite não havia chego até mim. E mesmo que eu houvesse recebido sua mensagem, o seu tom arrogante, sem um cumprimento ou a confirmação de que eu estaria realmente livre para comparecer já teria influenciado em minha resposta negativa. E então vinha a mensagem recebida há alguns minutos:

"Você deve estar ocupada com seu livro, mas isso não vai te absolver de ter me dado um bolo noite passada". Como ele ousava escrever uma mensagem como aquelas? Sem paciência para mais de seus joguinhos, me vi selecionando a opção de resposta e digitando furiosamente. "Não pedi para que me absolvesse de coisa alguma." Após apertar o ícone de envio, apoiei o celular de volta à mesa, segurando o mouse para retroceder algumas páginas, pronta para reler aquele capítulo em específico e descobrir alguma forma de finalizar o meu livro.

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