REMINISCÊNCIA

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Nathaniel Newman sempre acreditara que tinha poucos pontos fracos, mas o maior deles sempre seria o seu irmão gêmeo, três minutos mais velho, Theodore Newman.

Sempre seria grato por todas as coisas que seu irmão fizera por ele, todas as renúncias, todos os esforços, todos os conselhos e às vezes as broncas também, Nate sabia que não era o melhor dos irmãos, mas por alguma razão as forças superiores haviam lhe presenteado com alguém fisicamente idêntico a ele que tinha a capacidade de ser o melhor irmão que qualquer pessoa poderia almejar.

Por isso lhe partia o coração ver o irmão com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas por vir, sofrendo por amor. Era a primeira vez que Theo se apaixonava daquela maneira, mas era algo maior do que o encanto e as tristezas do primeiro amor. Ele havia olhado nos olhos de Jessica Sandford, sabia reconhecer o amor verdadeiro quando o via e sabia que aquilo que havia entre seu irmão e a escritora era mais do que uma paixão que logo seria esquecida. Era amor de verdade, algo que Nate sempre sonhou em sentir.

- Eu amo Jessica Sandford. Eu sei que vai parecer dramático ou o que for, mas ela é minha vida, Nate. – a maneira como a voz de seu irmão soou fez com que Nate se arrependesse por ser tão duro com Jessica momentos antes, mas apenas em partes. Ao pressioná-la, tivera a certeza de que os sentimentos profundos de seu irmão eram correspondidos. E saber que aquilo não era unilateral, dobrou a certeza de Nate em fazer tudo o que pudesse para ver aquele casal unido.

Sabia o que era amar e ver tudo ruir. Já acontecera com ele antes e quando fora a sua vez, não havia ninguém para consertar o que estava quebrado. Não havia ninguém para segurar a sua mão, porque o próprio Nate não quisera encarar quem quer que fosse e contar que havia ido longe demais. Não podia confessar que havia entregado o seu coração a alguém que o rejeitara.

Seu irmão não merecia aquele sofrimento, e por isso a escolha de Nate fora clara. Uma vez Theodore havia salvo a sua vida, lhe dando uma segunda chance de viver da maneira certa, sem esconder, sem olhar para trás.

Era hora de retribuir o favor.

Ainda que para retribuir esse favor, Nathaniel tivesse que voltar ao passado e reviver um de seus piores momentos. Sacou o celular do bolso, habilmente rolando a tela até achar os contatos salvos sobre a letra M.

Mason. Peter Mason.

- Preciso ir para o bar, hoje é um dia cheio. Te encontro em casa, mais tarde? – Nate apenas assentiu, vendo o irmão limpar as lágrimas uma vez mais, porém não abaixando a cabeça. Não era do feitio de Theo simplesmente deitar e curtir a fossa, isso era mais coisa de Nate mesmo. Assim que a porta se fechou atrás de Theodore e o som do bar se isolou, deixando apenas o silêncio do escritório do irmão ao redor de Nathaniel, este finalmente permitiu que as recordações o inundassem.

Não havia dúvidas de que o cara que vira buscar Jessica no bar era Pete. Nem que Nate desejasse com todas as forças, que se entregasse para qualquer cara que encontrasse, que desse tudo de si, era capaz de esquecer aqueles olhos tão vívidos, tão cristalinos que eram quase capazes de penetrar sua alma.

E Nate queria esquecê-lo. Ele tentava, e havia uma fila de corações partidos capaz de dar uma volta inteira ao redor da cidade para provar como Nate tentara. No entanto, de nada havia adiantado. Ele entregara o seu corpo, recebera dinheiro e favores ocasionalmente, mas jamais havia voltado a entregar o seu coração.

Como poderia? Já o havia entregado uma vez e Peter Mason o devolvera.

Jogado no sofá, observando a tela azulada do celular piscar com sete dígitos e um nome, pronto para ser discado, Nathaniel revirava memórias e sentimentos, buscando forças para ouvir a voz de Pete novamente.

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