Wings

DÉCIMO QUARTO (pelos olhos de Theodore)

(Não podia ser só o primeiro encontro. Vocês tinham que saber o que tinha no coração do nosso Theo no momento mais especial dos dois)

Seria um prazer. Eu sabia que seria.

Enquanto esperava que ela chegasse, deixei que meus pensamentos voassem para uma porção de lugares diferentes. Eu já tinha arrumado o apartamento duas vezes, com medo de que ela visse algo de que não gostasse.

Eu sabia que ela já tinha estado ali vezes o suficiente, mas eu queria agradar a Jess. Não queria que ela tivesse qualquer motivo para ir embora, qualquer razão para me deixar.

Não agora que eu tinha percebido o quanto eu a amava.

Certo, ela tinha um noivo. Um babaca que nem ao menos sabia como ser o cara que ela precisava, que não a desejava, que não provocava o que havia de melhor nela. E se ele não podia ser quem Jessica precisava, era bom que houvesse alguém que tinha interesse e poderia ser exatamente essa pessoa.

E esse era eu.

Eu não conseguia me impedir de fechar meus olhos e desejar que houvesse uma escolha. Que em algum momento Jess ficasse indecisa entre eu e aquele otário do Peter. Que quando o seu coração pendesse, que ela se lembrasse que eu não podia ser tão rico ou possuir um titulo de nobreza, como o outro parecia ser e ter, mas eu estava apaixonado. Eu a amava de verdade e faria de tudo para fazer dela a mulher mais feliz do mundo.

Não tinha tanto dinheiro quanto ele, mas daria tudo de mim para que a existência dela ao meu lado fosse a mais rica de sorrisos, a mais valiosa de carinho e amor. E eu podia não ter nenhum título de nobreza, nem no ramo mais longe da minha árvore genealógica, mas eu tinha uma Rainha. Jessica era a Rainha do meu ser, era a dona dos meus sentimentos. E isso deveria valer de alguma coisa.

Minhas mãos tremiam e eu respirei fundo tentando fazer com que meu nervosismo diminuísse pelo menos um pouco, mas era impossível. Eu e Jess estaríamos sozinhos naquele apartamento, tudo poderia acontecer. E eu queria que acontecesse. Eu queria tocar o corpo dela sem pensar no dia de amanhã, queria beijar seus lábios apenas por beijar, e não para provar que eu estava certo e que tínhamos sido feitos um para o outro.

Porque tínhamos. Eu não queria acreditar antes, quando tinha visto aquela Jess cheia de pose dentro do meu pub, mas quando eu a vi se observando no espelho dentro do banheiro da boate, eu entendi exatamente o que havia acontecido. O destino sabia o que fazia e agora eu tinha total certeza disso.

Ouvi o barulho da porta do Cherry ser trancada e soube que o momento havia chegado. Minhas malditas mãos poderiam parar de tremer um pouco, né? Respirei fundo e voltei para o banheiro, olhando no espelho e me perguntando se eu realmente tinha alguma chance.

Haviam muitas tatuagens, uns olhos verdes que nem eram tão bacanas e meu cabelo era comprido demais. Nobres não usavam coques. Eu parecia mais um pirata malvado do que um barão que fosse. Eu queria muito pensar que seriam as minhas diferenças que fariam com que ela gostasse mais de mim, mas ali, agora, eu não tinha tanta certeza disso.

Os passos suaves de Jess fizeram barulho na sala e encarando o meu próprio reflexo, disse a mim mesmo que não saberia se não tentasse. E naquela noite eu tentaria. Eu daria tudo o que eu tinha para que ela visse a verdade do meu coração. Eu nem era tudo aquilo, mas aquilo tudo que eu era, pertencia a Jessica.

Ela estava no meio da sala, observando as asas que eu tinha desenhado ali e imediatamente senti minha própria tatuagem coçar, como se minhas asas estivessem inquietas querendo se abrir para abraçar ela, para acolher Jessica bem dentro de mim e proteger ela de que qualquer coisa. Do mundo, dela mesma e do que quer que fosse.