Capítulo V

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       Quando eu tinha cinco anos, estava brincando no parque com o Tom. Ele subiu no teto da casinha de brinquedo e me chamou pra ir com ele, eu fui. Mas escorreguei lá de cima e cai de peito no chão. Por angustiantes segundos, eu não conseguia respirar, meus pulmões simplesmente não respondiam. Então Tom veio até mim, me ajudou, e a dor passou.
       Entretanto, onze anos depois, aqui estava eu com a mesma sensação. Com a diferença de que quem precisava de ajuda agora era o Tom, e de que eu não podia me dar ao luxo de esperar alguém vir me ajudar.
       Quando me recuperei do choque corri até ele, pra fazer não sei o que, mas eu queria dizer que eu estava lá com ele, que eu me importava. Me importava mais do que eu mostrava, mais até do que seria ideal. E vendo ele ali, sendo cercado e socorrido por um monte de gente, eu tive certeza disso.
       Me ajoelhei ao lado dele, e agarrei sua mão esquerda, já que a direita estava ocupada com uma Marina chorosa. Nem vi quando ela chegou até ali.
- Meu deus Tom, onde tá doendo meu amor? - A mãe dele estava preocupada, e examinava todo o corpo dele.
- No pé mãe, no pé. - Ele disse com voz rouca e os olhos fechados. Eu faria de tudo pra dor dele passar, porém me limitei a apertar sua mão num gesto encorajador, mas duvido que ele soubesse ao menos que era eu.
- Vamos logo com esse carro Carlos! - ela fala com o pai de Tom.
- Vem cara eu te ajudo a levantar. - Igor fala levantando Tom do chão e colocando o braço dele sob seu ombro, o ajudando a chegar até o carro do pai dele. Marina foi junto, e deu um tchauzinho pra mim. Enquanto eu fiquei sentada no chão sem saber o que fazer.
       Então isso muda quando eu vejo Diego falando com o juiz "Qual é, o jogo vai parar só por que ele caiu?"
Caiu!?
       Eu nunca fui de violência, mas tinha gente que praticamente implorava. A raiva tomou conta de mim e eu corri até ele, na intenção de cravar minhas unhas em qualquer lugar que doesse muito, foi quando uma pessoa entrou na minha frente e me segurou. Eu estapeei, assunhei, gritei, mas de nada adiantou. Então eu desisti. Desisti não de tentar me soltar da pessoa, mas de tentar bancar a forte. Afundei minha cabeça no ombro da pessoa e chorei.
       Era simplesmente muita coisa pra aguentar, tudo que eu queria agora era saber onde Tom estava, saber se ele estava bem, e principalmente saber o que era isso que eu estava sentindo por ele. Eu ainda não sabia quem me segurava, tão pouco me importava, desde que continuasse me abraçando enquanto eu tentava me controlar.
       Depois de algum tempo eu parei. E finalmente vi que quem estava na minha frente, era Igor, que agora sorria e como estava virando costume, eu sorri de volta.
- Oi vizinha. - foi a primeira vez que ele falou comigo, e eu me acalmei na mesma hora.
- Oi vizinho. - falo com uma voz baixa.
- Se você quiser eu te deixou em casa. - ele fala.
- Não precisa eu vou sozinha. - falo me afastando.
- Ei? Tá maluca? Olha em volta. - ele fala apontando ao redor.
Me desespero ao perceber que não tinha mais ninguém, pelo jeito eu passei tempo de mais chorando. Fico envergonhada.
- Eu vou sozinha, não precisa. - falo me desculpando. - Além do mais, eu ainda vou ao hospital.
- Eu também vou ao hospital. - ele fala. - Além do mais, eu não vou deixar você ir sozinha.
- O problema, é que você não precisa me deixar fazer nada. - falo, surpresa com minha arrogância.
- Ha, por favor... Você nem sabe pra que hospital ele foi, e eu tô aqui te oferecendo ajuda. Não vou perguntar de novo, você vem? - ele fala sério.
- E se você for um bandido? - depois de falar percebo como soou estranho.
- Bandidos costumam consolar mocinhas indefesas? - ele fala, com a intenção de me constranger. E ele consegue.
- Vamos logo antes que eu mude de ideia. - falo de mal-humor.
- Você que manda. - ele fala e eu rio, mas paro quando ele balança uma chave de carro na minha frente.
- Desencana, eu não vou entrar num carro com você. - falo apontando pra chave.
- Então Tchau, cansei. - ele fala e vai embora. Eu espero ele olhar pra trás, espero, espero. Ele não olha.
- Ei espera! - falo contrariada. - Eu vou.
       Então ele olha pra mim, e dá um sorrisinho idiota.
- Então vem, ora.
       Ele entra no carro vermelho que eu vi na garagem da casa dele ontem, e eu entro logo em seguida.
- Você sabe dirigir? - pergunto afivelando o cinto.
- Você vai descobrir agora. - ele fala, e eu não sei se é brincadeira ou não.
- Igor! - censuro.
- Prazer. - ele muda de assunto. - Mas eu ainda não sei seu nome.
- Deborah. - eu falo.
       Eu ligo pra minha mãe e tento resumir os últimos acontecimentos, e Igor grita ao meu ouvido para que eu peça pra ela avisar aos pais dele também. Minha mãe entendeu tudo, e me desejou sorte. Desliguei.
Ficamos então em silêncio, até que Igor falou.
- Chegamos. - ele anuncia, e depois completa. - Deborah, não se preocupa não, seu namorado no máximo quebrou o pé.
Então ele pensava que...? Eu rio. E ele abre a porta pra mim.
- Então você é do tipo que abre portas? - faço piada. Ele fica tímido, e eu tomo isso como resposta.
- Você não estava apressada? - ele fala.
- Estou. - eu falo. - Vamos logo...
       O hospital era grande, e todo branco. Assim que entramos, Igor me guiou pra recepção, onde uma secretária gordinha e baixinha nos atendeu.
- Ham... - fico sem saber o que falar. Olho pra Igor, mas ele parecia tão perdido quanto eu. - Estamos procurando um garoto que deu entrada aqui há pouco tempo, com o pé machucado.
Ela me olha desconfiada e fala.
- Desculpe, mas eu só posso dar esse tipo de informações a pessoas que são da família.
No desespero, lembrei do que Igor disse e só vi uma saída.
- Eu sou...ham...a namorada dele. - falo aquelas palavras que pareciam tão estranhas em minha boca, foi mais fácil do que pensei. Igor se mexe impaciente do meu lado.
- Ha, me desculpe. - a secretária fala. - Tomaz Munhoz?
- Sim. - eu falo.
- Quarto trezentos e dezoito. - ela fala e entrega adesivos de visitas pra nós dois.
       Esperava ver muita gente no quarto de Tom, mas quando entrei, só estava lá o pai e a mãe dele. Ele estava na cama dormindo.
- Oi. - falo envergonhada.
- Deborah! Igor! - tia Angélica, a mãe de Tom parece aliviada em nos ver, e nos recebe com um abraço. - Graça a deus que você chegou, ele dormiu perguntando por você. A gente tem que ir em casa pegar umas roupas, será que vocês podem ficar um pouco com Tom? Todo mundo acabou de sair.
- Claro dona Angélica. - Igor fala. - Vá tranquila.
- Obrigada meus amores. - ela fala dando um beijo na testa de Tom e saindo, segurando a mão do tio Carlos, seu marido e pai de Tom.
Igor senta na poltrona, fazendo um barulho gigantesco no silencioso quarto, e Tom acorda, meio confuso.
- Deborah! Você viu? Eu ganhei! - ele fala com um sorriso infantil e tenta se levantar, mas eu me apresso em impedir.
- Vi Tom, mas você ainda não virou o homem de ferro, por isso, fica quietinho aí. - falo e ele faz bico, mas eu não cedo. Me sento do lado dele na beira da cama.
- Igor, e aí cara? - ele dá um abraço em Igor. - Não te falei que o jogo ia ser coisa de louco? - ele fala e sorri.
- Põe louco nisso. - ele também sorri, e depois olha pra mim. - Bom, vou deixar vocês a sós, te espero lá em baixo Deborah.
- Ok... - eu falo e ele sai. Então eu pego na mão de Tom e sorrio da forma mais encorajadora que consigo. - Parece que você fez um belo estrago aí. - aponto pro pé dele, que estava engessado.
       Ele acaricia minha mão suavemente e fala.
- Se preocupa não... Isso é besteira. O importante é que você veio, e que tá aqui comigo. - ele fala, e eu sinto as lágrimas embaçarem meus olhos, tudo que eu senti mais cedo volta agora com mais força, o medo, a raiva... Apesar de tudo ele ainda se preocupava comigo, se preocupava se eu estava ali ou não, pra ele eu fazia a diferença. E fazer a diferença pra ele era o que me bastava.
       Quando percebi, ele já tinha encostado minha cabeça no peito dele e estava mexendo no meu cabelo do jeito que só ele sabia fazer, enquanto eu me permitia colocar pra fora tudo que ainda havia restado dentro de mim.
- Eu fiquei com tanto medo Tom. - Desabafei, e ele me ouviu silenciosamente. - Medo de que você tivesse se machucado sério, medo de achar que eu não fui te ver, medo de... - então eu não consegui mais colocar em palavras tudo que eu senti. Mas ele entendeu, até quando eu não falava ele entendia.
- Calma Deb. - ele fala. - Eu tô aqui, e não vou sair tão cedo. Por duas razões, eu não posso. - ele sorri. - E eu não quero. - ele fala agora sério.
Ele estava com o pé quebrado, provavelmente sentindo dor, e ainda sim conseguia me consolar, quando quem devia estar fazendo isso era eu. Tom era de mais.
- Quando tudo aconteceu, sabe do que eu lembrei? - pergunto.
- De chegar na hora nos compromissos? - ele arrisca.
- Não... - eu começo. - Daquele dia que eu cai no parque e você veio me ajudar. Eu senti a mesma coisa, só que ao contrário, foi horrível. - confesso.
- Aquele dia... - ele lembra e sorri.
- Quando você vai pra casa? - pergunto me sentando na beira da cama.
- De madrugada... - ele fala e põe a cabeça no meu colo, bocejando.
- Vai pra escola amanhã? - pergunto.
- Acho que não... - ele fala claramente com sono. Eu rio, esse tempo todo ele estava tentando não dormir. Começo a passar a mão nos cabelos macios dele, retribuindo o que ele havia feito comigo. Ele sorri e fala quase dormindo.
- Eu sei o que você tá fazendo.
- Fui descoberta! - falo e ele ri.
- Pega no flagra... - ele fala.
- Agora dorme Tom. Boa noite. - digo ainda mexendo em seus cabelos.
- Boa noite. - ele diz no mesmo momento em que dorme.
       Eu levanto, e quando vou cobrir-lo, ele segura minha mão e fala meio dormindo e meio acordado.
- Você volta?
- Sempre. - respondo, e dou um beijo na bochecha dele, percebendo como ele me fazia bem.
       Deixo um bilhete pra mãe dele e saio, me sentindo muito mais leve.
No corredor, andando com a cabeça baixa, esbarro em uma pessoa. Já estava me preparando pra perguntar se Igor estava cego, quando percebo que quem estava na minha frente não era Igor, era Diego.
- Oi boneca. - ele diz, me olhando de cima a baixo.
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Tomzetes cantam aleluia...
Bom, como esse capítulo foi grande, acho que vocês podem esperar até quarta, né?
Não esqueçam da estrelinha por favor.
Gente que lê e não se manifesta, vou fazer uma coisa: a cada cinco estrelinhas de pessoas novas eu posto um capítulo. Só depende de vocês.
Beijo,
Vocês são minha inspiração,
Bianca B.

Um conto quase de fadasOnde histórias criam vida. Descubra agora