Capítulo XIV

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Corro até ela ansiosa para contar a novidade.
- Nossa... Viu o passarinho verde? - ela pergunta passando a mão no cabelo, inutilmente tentando controlar as ondas vermelhas.
- Melhor. - Falo ofegante por causa da corrida. - Meus pais vão viajar esse final de semana, e você pode ir passar uns dias lá em casa, se quiser claro.
- Vai ser demais! - ela fala com um gritinho estérico. - Daí a gente faz brigadeiro, conversa besteira, faz mais brigadeiro e ainda vai pra festa juntas. - ela diz, como se fosse uma chance única no mundo.
- Só tenta não por muito fogo na casa ok? - falo sorrindo.
- Vou pensar. - ela fala.
Após alguns minutos caminhando em silêncio, lembro que Marina ainda não sabia de uma coisa muito importante.
- Mar... - chamo. - O Tom meio que quer... se vingar da Clarisse.
- Sério? - ela pergunta. - Nossa.
- E meio que ele pediu minha ajuda. - falo dando de ombros...
- Deborah isso vai dá merda... - ela fala seriamente, mas logo abre um sorriso. - Mas vai ser tão divertido!
- Ele não me disse o que vai fazer, só que vai ser na festa do Igor. - falo. - E você não pode falar pra ninguém.
- Aff, até parece que não me conhece. - ela fala com uma indignação fingida.
- E justamente por te conhecer que tô falando isso. - falo.
- Estou tão ansiosa pra hoje a noite. - Ela fala.
- Por que exatamente? Ou eu deveria perguntar por quem?- Pergunto com um sorrisinho pra irrita-la
- Nem vem. - Ela cruza os braços. - Escuta, eu vou direto pra sua casa com você ok?
- Tabom. - falo, chegando na casa de Tom e tocando a campainha, pois ele estranhamente não estava na porta. Após alguns minutos ele sai, carregando a mochila e as muletas.
- Olá meninas. - ele fala, exibindo pra mim um sorriso cúmplice, cheio de significado.
- Oi. - Marina fala. - Você pode passar na casa da Deborah hoje a noite, quando você for pra festa?
- Por que na casa da Deborah, não na sua? - ele pergunta.
- Por que eu vou ficar uns dias lá. - Ela fala impaciente. - Heim? Pode ou não?
- Não, vou mais cedo por que o Igor me pediu pra ajudar a arrumar as luzes. - ele fala. Depois me cutuca na cintura. - Você costumava me convidar pra suas festas do pijama.
- Costumava... Há dez anos atrás. - falo sorrindo. - Nem vem. Meus pais nunca vão deixar. - Agora ele faz um biquinho. Quando ele vai me responder alguma coisa, o celular dele toca e ele atende.
"Oi amor"
Amor?!
"Sim dormi bem, só com saudades suas"
Saudades?! Marina faz um gesto de vomitar, enquanto eu não escondo a cara feia.
"Então, vou ter que desligar, te ligo mais tarde ok?"
Humpf.
Ele fica meio sem graça, e Marina começa a rir compulsivamente.
- Qual é? - pergunto entrando na escola com eles. - Quando isso vai acabar?
- Hoje. - ele responde sinistro.
- Eu não perco isso nem morta. - Marina fala. E com isso, sentamos em nossas carteiras e começamos a assistir a aula.
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Cerca de algumas horas depois ( cinco minutos) cansei de prestar atenção na história dos Estados Unidos e, sem querer, meu olhar foi da professora para Igor. Percebi pela primeira vez que ele estava diferente desde que chegou aqui, o cabelo loiro cresceu um pouco, deixando ele mais velho. Eu poderia citar algumas pequenas mudanças, mas nessa hora ele olhou pra mim com seus belos olhos verdes e eu esqueci de todo o resto. Ele ainda me encarava, quando fez sinal para que eu o seguisse, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa ele informa a professora que vai beber água e sai da sala, olhando uma última vez pra mim. Será que ele queria qu...?
- Professora vou ao banheiro. - falo, ela consente e eu saio da sala.
Quando a porta se fecha atrás de mim, sinto uma mão se encaixando na minha, e depois me puxando.
- Vem. - Igor fala, correndo pelos corredores da escola. - Quero te mostrar uma coisa.
- Calma. - rio dele. - Onde a gente vai?
- Shiu! - ele fala com o dedo indicador encostado nos lábios, no momento em que chegamos em uma porta de madeira. Ele roda a maçaneta, me puxando para dentro de uma salinha com uma janela grande de vidro, onde dava pra ver tudo que acontecia lá em baixo, no pátio da escola.
Somente quando paramos em frente à ela, percebo que ainda estamos de mãos dadas, retiro então minha mão da dele, disfarçadamente a usando para ajeitar o cabelo.
- Que maneiro. - Falo. - Como você descobriu?
- Você não é a única que fica entediada durante as aulas. - ele fala sentando no chão.
- Acredito que não. - falo sorrindo e sentando ao lado dele.
- Bem, eu acho que quando você divide mais de um lugar que era só seu com uma pessoa, ela passa a ser especial. - Ele fala baixo, quase tímido, o que faz tudo ficar ainda mais fofo. Fico sem jeito por ele ter falado isso, então rio sem graça e rezo para ele mudar de assunto.
Ele está muito próximo de mim, se eu virasse o rosto, talvez aconteceriam coisas que não deveriam acontecer. Somente o fato de ele estar tão próximo já me fazia ter borboletas no estômago.
- Eu... Quero ter dar uma coisa. - Ele fala no meu ouvido. Me fazendo virar de frente pra ele, ele me estende um colar prateado, com um pingente de cachorrinho que parecia muito com Zeus.
- Como você...? - Falo de boca aberta.
- Eu vi você saindo com ele uma vez. - Ele dá de ombros. - Vire-se. - Ele fala, e quando eu viro ele coloca o colar em mim. Olhando o pingente, falo.
- Não sei se posso aceitar.
- Desencana. - Ele sorri olhando pra janela. - Não é como se fosse um anel de noivado.
Não, não era. Mas havia algo implícito ali, eu tinha certeza. Ele se aproxima de mim, e eu penso se talvez não fosse melhor deixar acontecer. Quase lá... Quando o sinal do intervalo bate. Ele suspira, e eu rio.
- Hãm... Talvez seja hora de ir. - Falo desconfortável. - Não quero que sintam nossa falta.
- Como você quiser. - Ele fala me estendendo a mão, que eu aceito. Descaradamente me olhando firmemente, ele fala. - Não esqueça que hoje a noite não tem sinal nenhum.
Empurro ele de leve, sorrindo.
- Isso não muda nada. - falo, saindo e deixando ele pra trás. Ele não achou que ia ser fácil assim, achou?
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Oi!
O que vocês acharam do capítulo de hoje? Me falem!
Não esqueçam da estrelinha!
Até mais.
Estamos chegando a mil olhinhos,
Como estou feliz,
Culpa de vocês,
Bianca B.

Um conto quase de fadasOnde histórias criam vida. Descubra agora