Capítulo XXII

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- Você poderia pelo menos arrumar uma desculpa menos esfarrapada. - falei para Igor.
       Por que era óbvio que aquilo era uma desculpa, ele não poderia se mudar assim, sem mais nem menos.
- Você acredita no que você quiser. - ele falou, saindo com algumas caixas na mão e me deixando sozinha com cara de tacho.
       Esperei algum tempo para que eu não encontrasse com ele novamente,  pois ele havia deixado bem claro que não queria isso, e fui para sala.
       Quando entrei, passei pela frente dele e ele fingiu que nem percebeu, caramba, aquilo estava me deixando irritada, se alguém tinha que tá assim era eu. Quer dizer que ele simplesmente chega, fala que tá apaixonado por mim, que vai embora, me trata mal e espera que eu fique sentada batendo palmas?! Faça-me o favor.
       Assim que eu me sento na carteira Tom vira pra mim.
- Qual o problema? - ele sussurra.
- Nenhum. - falo, forçando um sorriso. - Tô bem.
- Hm. - ele não acredita, mas também não faz mais perguntas. Me sinto aliviada.
       Depois do que pareceu uma eternidade, a aula acabou, e eu estava indo pra casa com Tom e Marina.
- A gente podia ver um filme hoje... - Tom fala. - O que acham?
- Por mim fechou. - falo. - Rola Marina?
- Oi? - ela fala, como se somente agora percebesse que falávamos com ela.
- Filme, hoje, lá em casa. - Tom fala, estalando os dedos em frete o rosto dela.
- Pode ser. - ela fala, voltando pra o mundo da lua.
       Alguns minutos depois chegamos na casa do Tom, ele se despediu de nós com um abraço e uma piscadinha de olho pra mim que com certeza me fez corar.
- Você não vai acreditar no que o Igor me disse hoj... - Começo a falar pra Marina, mas paro quando vejo que ela não presta atenção em nada do que eu falo. Ali tinha coisa. - Ho-ou. - balanço a cabeça negativamente. - Desembucha, o que tá acontecendo?
       Ela me olha, e por alguns segundos achei que ela fosse me falar alguma coisa.
- Nada. - ela me dá um sorriso amarelo.
- Você sabe que pode me falar tudo sobre qualquer coisa não é? Que a gente é irmã. - Falo, segurando na mão dela e apertando de leve.
       Ela simplesmente olha pra mim e balança a cabeça afirmativamente. Eu só não pressionei ela mais por que sabia que ela não falaria nada agora. E algo me dizia que eu logo iria saber.
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        Almoçamos juntas, e meus pais ligaram avisando que chegariam mais ou menos três da tarde.
       Marina continuava estranhamente calada, e logo após o almoço avisou que iria pra casa. Nos despedimos, e fiz ela prometer que iria ver o tal filme na casa do Tom.
       Era estranho ficar no meu quarto sozinha, depois de tanto tempo. Abri a janela para entrar um ar e imagine qual foi minha surpresa ao dar de cara com Igor na janela do quarto dele. O vento balançava de leve seus cabelos e uma expressão perdida, como se estivesse pensando, se encontrava no rosto dele. Ele finalmente me olha, mas finge que não e entra no quarto, longe da minha visão.
        Quer saber? Eu iria lá. Iria tentar conversar decentemete, e não como duas crianças birrentas. Desci as escadas e sai de casa antes de perder a coragem.
- Oi. - Falo, quando a mãe de Igor aparece na porta.
- Olá Deborah. - ela fala sorrindo e me fazendo entrar. - Como vai?
- Bem. - falo, pondo as mãos nos bolsos.
       Olho ao redor, tudo estava fora do lugar e várias caixas estavam com coisas dentro. Será que...? Não. Não podia ser. A mãe de Igor percebe meu olhar.
- Desculpe a bagunça. - Ela ri. - Mudanças sempre são complicadas. Você deve ter vindo falar com Igor, não?
- Sim. - Falo.
- Ele está no jardim. - Ela fala. - Pode ir lá...
- Tudo bem. - Forço um sorriso. - Obrigada.
       Deixei as lembranças da noite de conversas com Igor me levarem até lá, o jardim estava com a grama um pouco maior, mas estava tudo lindo como sempre.
       Perto de um pé com umas florezinhas vermelhas lindas, Igor estava de costas pra mim, sentado em um banquinho e cortando alguns galhos que cresciam desordenadamente.
- Pensei que seu lance era só com rosas. - Falei, o assustando.
- Às vezes você precisa dar uma chace para coisas novas. - Ele fala, arrancando uma florzinha do pé e estendendo ela para que eu a pegue. - É mais simples que uma rosa, mas tão bonita quanto.
- Parece que... você vai mesmo se mudar. - Falo, sentando num banquinho ao lado dele e sentindo pouco a pouco aquela ideia absurda se tornar não tão absurda assim.
- E você precisou vir aqui, ver as caixas para acreditar em mim. - Ele sorri irônico.
- Igor... Me desculpe. - Falo. - É que, convenhamos, não é tão fácil de aceitar que do nada você vá embora assim.
- Não te culpo. Às vezes nem eu que tô acostumado com isso aceito. Mas você nunca se perguntou como eu vim parar aqui do nada, no meio do ano escolar?
       A verdade é que eu realmente nunca havia pensado sobre isso, quer dizer, aconteceram tantas coisas depois que Igor chegou, que isso era a última coisa em que eu iria pensar.
- Na verdade não. - Falo. - Eu... Queria te pedir desculpa Igor.
- Não Deborah, quem precisa se desculpar sou eu. - ele fala. - Fui eu que gritei com você, quando você ao menos sabia meus motivos. É que... Eu só tô cansado disso.
       Então aconteceu o que sempre acontecia, desde o começo. Ele me olhando com aqueles olhos verdes que demostravam realmente cansaço, tão exposto, se abrindo pra mim... Foi impossível não me sentir tocada por ele. Pare com isso. A parte sã da minha mente gritou.
- Eu ainda não entendo Igor... Cansado de que?
- Deborah, meu pai é vice presidente de uma grande rede de supermercados. - Ele falou. - E desde criança, sempre que abre uma nova franquia em qualquer canto do país, ele tem que acompanhar de perto toda a construção até que esteja tudo pronto e ele possa ir pra outro canto. Quando eu era criança, eu achava aquilo incrível, viajar pelo país todo, fazer vários colegas na escola. Mas com mais os menos dez anos aquilo começou a me incomodar, sempre mudando e mudando... Sem ter a chance de me apegar a nada ou a ninguém. - Eu ouvia calada tudo que ele dizia, a emoção com que ele falava aquilo fez eu me colocar no lugar dele, deve ter sido terrível ter crescido assim. - Não me orgulho de dizer que nunca tive um amigo de verdade. E muito menos de nunca ter me apaixonado por ninguém. Até pouco tempo atrás. É disso Deborah, é disso que estou cansado...
       No final da sua fala uma lágrima escapou de seus olhos, e ele se apressou em limpa-la. Foi uma sensação estranha ver ele chorando, me senti quase na obrigação de faze-lo se sentir melhor.
       Meio que involuntáriamente, o abracei, ele soltou um suspiro aliviado.
- Não posso dizer que te intendo Igor, mas imagino como deve ter sido terrível pra você. - Falei passando a mão nos seus cabelos. - E sobre você dizer que está apaixonado por mim... - Ele se afastou um pouco para me olhar nos olhos. - Me desculpe, mas não posso retribuir seu sentimento.
       Ele põe uma mão no meu rosto.
- Eu nunca pedi pra você retribuir, eu só te agradeço por... Por ter me presenteado com esse sentimento. Agora eu não posso mais dizer que nunca me apaixonei antes. - ele sorria.
- Você está errado numa coisa que falou. - falo, vendo o sorriso no seu rosto se tornar uma expressão confusa. - Você disse que nunca teve um amigo antes. Quem disse que não somos amigos?
- Amigos, então? - Ele fala, me estendendo a mão para que eu apertasse.
- Sim, amigos. - Falo. Apertando a mão dele.
- Então... Vamos nos beijar, sabe, só pra fortalecer a amizade? - Ele falou, não sei se ele estava brincando ou não, mas foi impossível não ri dele, que me acompanhou.
- Eu preciso ir agora, meus pais chegam a qualquer hora e eu tenho que espera-los. - Falo, ainda rindo um pouco e me levantando.
- Tudo bem. - Ele fala, também se levantando. - Eu te levo até sua casa.
- Não precisa. - falo sorrindo. - Continue cuidando das suas plantas. Eu sei o caminho.
- Tudo bem. - Ele fala, sem inclinado rapidamente e deixando um beijo na minha bochecha. - Até mais.
- Até. - Falo.
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        Entrei no meu quarto, e peguei meu celular. Ho-ou. Dez chamadas perdidas de Tom. Aquilo não era nada bom. Me apressei em ligar pra ele, preocupada.
- Onde você tava? - Ele fala, claramente alterado.
- O celular tava no silencioso. - minto. - O que foi?
- Vem pra minha casa agora. - Ele fala, de um jeito que não me agrada nenhum pouco. - A Marina tá aqui e não para de chorar e falar umas coisas meio sem sentido. Eu não sei mais o que fazer.
- Chego aí em quinze minutos. - falo, com o coração apertado. Eu sabia que tinha alguma coisa errada com ela.
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O que será que aconteceu com a Mari gente? O.O
Bem, parece que o Igor vai mesmo embora... Será?

Não esqueçam da estrelinha e da opinião de vocês!

Obrigada por todo o carinho de vocês,
Bianca B.

Um conto quase de fadasOnde histórias criam vida. Descubra agora