Capítulo III

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         Acordei terça-feira 5  horas da manhã parecendo um zumbi.
         Prometi pra mim mesma nunca mais chegar atrasada, nem dar nenhum motivo pra Rodríguez "precisar tomar as devidas providências". Apesar de que, se tratando de mim, ela não precisar de nenhum.
         Virei-me na cama e vi uma luz esquisita no chão do meu quarto, percebi que vinha da janela. Me levantei pra investigar, e vi que a janela da casa ao lado estava aberta e a luz do quarto estava ligada, o que provocava a luz estranha no meu quarto. Que tipo de louco acorda cinco da manhã, abre a janela, e ascende uma luz? Se bem que eu tinha feito exatamente isso, mas... Então a pessoa do outro lado fecha a cortina. Minha luz deve ter incomodado também, e eu não estava exatamente culpada.
            Aproveitei que estava levantada e fui me arrumar pra escola. As sete e quinze já tinha tomado banho, vestido o uniforme, dado um jeito no cabelo e estava atrasada como de costume. Pego meu celular e desço rápido, tem cinco chamadas de Marina, com certeza querendo saber onde eu estou. Passo pela cozinha e roubo uma maçã da mão de minha mãe.
- Tem certeza que não quer ir com a gente filha? - meu pai pergunta, enquanto come uma torrada.
- Não pai. Vou com a Marina e o Tom. Preciso acertar os detalhes do jogo de hoje. - falo animada
- O Tomaz vai jogar? - minha mãe pergunta interessada.
- Claro. Tchau, até a tarde. - respondo saindo.
         Vejo Marina já saindo de casa, com uma cara nada boa.
- Time perfeito como sempre. - falo rindo quando a alcanço.
- Perfeito Deborah?! Anda logo se não a gente chega atrasada. - fala zangada. - Onde você enfiou seu celular?
- Eu não ouvi tocar foi mal... - Marina ia falar, mas eu a cortei. - E o jogo hoje? Você vai né?
- Claro, você acha que eu ia perder o confronto da história? Esse jogo vai ser tipo Brasil e  Argentina, Flamengo e Fluminense... - exagerada. Ela continua a falar, mas eu só prestei atenção em uma parte. - Fora que o novato vai jogar... - ela fala sonhadora.
- Quem te disse que ele vai jogar? - pergunto curiosa.
- O Tom. Ele disse que ele foi treinar ontem, e que o cara é tipo, de mais. - ela diz animada, enfatizando o "de mais". - Mais por que o interesse nele? - pergunta de repente.
- Interesse nenhum, só não sabia que ele jogava. - vejo Tom em frente ao portão de sua casa, claramente animado exibindo seu sorriso Colgate. - Vamos logo, preciso falar com Tom.
- Oi Deb, oi Marina. - ele diz abraçando Marina e depois passando um braço em torno da minha cintura, tão naturalmente como se pegasse em minha mão. - Quem quer ver sangue hoje? - ele consegue ser bem sinistro às vezes.
- Eu! - Marina fala imitando uma  criança.
- Nossa Tom! - falo rindo, mas fico na dúvida se era piada ou não.
Após alguns segundos ele fala.
- Eu soube ontem que o idiota do Diego é o capitão do outro time. - o ressentimento claro em sua voz.
         Isso explicava muita coisa.
         Tom gostava de todo mundo. Mas se tinha uma pessoa que ele não suportava era Diego. Pra falar a verdade, eu nunca soube ao certo o porquê. Marina certa vez comentou que eles eram melhores amigos no passado, e que a ex namorada de Tom, Clarisse, tinha tido um rolo com ele. E se tinha uma coisa que eu sabia que Tom não gostava era infidelidade.
         Ele podia não demonstrar, mas eu sabia que no fundo ele estava com medo de perder, pior ainda, perder  pro cara que estava com a ex dele.
         Segurei a mão dele que ainda estava na minha cintura.
- Você é muito melhor que esse babaca Tom. - digo, e ele sorri timidamente.
         Entramos na escola e sentamos nos lugares de costume. Agradeço silenciosamente por não ter aula da Rodríguez hoje. A primeira aula era de história, e a professora Cristina era gente boa.
         De repente o novato entrou na sala. E o mundo perdeu a cor.
         Eu não tinha olhado ele assim, de frente. Eu sabia que ele era bonito, mas não havia percebido antes que era tanto. E eu não falo só fisicamente, ele tinha um jeito diferente. Ou eu só estava ficando louca...
         Na hora da chamada percebi surpresa, que estava esperando para ouvir o nome dele.
         Então quando a professora falou "Igor Rocha", ele respondeu " presente" com uma voz suave e bonita. Acho que eu passei muito tempo o encarando, pois depois de alguns segundos, ele olhou pra mim. E eu descaradamente sustentei seu olhar, então ele sorriu. E eu não consegui evitar sorri junto. Era só o que me faltava...
         Desvio o olhar rapidamente pro lado, para Tom. Ele estava olhando o pátio com um ar de seriedade anormal. Procurei então manter os olhos focados no quadro, que eu ganhava mais... Então o resto da manhã passou surpreendentemente rápido. E quando percebi já estava caminhando para casa com Marina e Tom.
- Tá estranho Tom. Fala aí, o que foi? - Marina pergunta.
- Tô nada... - ele fala com um sorrisinho. - É só o jogo...
- Só o jogo... - falo cutucando ele. - sei...
- Qual é? Tão de marcação agora é? - ele fala, abrindo o portão da casa dele e puxando a Marina pra um abraço. Depois foi minha vez, e eu falei baixinho só pra ele ouvir.
- Não se preocupa não Tom...Vai dar certo hoje.
- Eu espero Deb, espero... - ele fala se distanciando. - Não esqueçam, sério mesmo. Vocês prometeram.
- Claro que não... Vou arrastar a senhora atraso aqui se for preciso. - ela apontou pra mim. - e a gente vai. Tchau.
- Tchau. - ele fala e entra.
         Alguns minutos depois, Marina estava na porta de sua casa falando animadamente sobre a roupa que iria vestir, quando parou de falar de repente. Olhei pra ela, que estava pálida como um fantasma. Olhando pra trás descobri o porquê.
         Igor caminhava na calçada do outro lado da rua, olhando despreocupadamente pro chão.
- Onde diabos ele tá indo? - ela pergunta nada discreta.
- Eu que vou saber? - falo quase tão surpresa quanto ela.
- Vai atrás dele boba, pra saber até aonde ele vai. Aí a gente descobre a casa dele. - ela fala.
- Tá louca? Vou seguir o garoto? Tchau Marina. - falo indo pra casa.
- Chata! - ela grita e Igor, do outro lado da rua olha pra mim. - até mais tarde.
- Até... - falo indo embora.
         Quando vou entrar em casa, olho pra trás, para Igor. E meu queixo cai quando ele entra na casa em frente a minha, olhando pra trás e dando um sorrisinho quando viu minha expressão.
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Bom, eu não sei se vocês já tinham sacado que o novato e o vizinho eram as mesmas pessoas, então... Kkk
Digam o que acharam nos comentários... E se gostaram, dêem uma estrelinha. 
Beijo,
Vocês são de mais,
Bianca B.
* próximo capítulo na quinta.* s2

Um conto quase de fadasOnde histórias criam vida. Descubra agora