Capítulo XI

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A aula estava acabando, eu tinha pegado Igor olhando pra mim algumas vezes, o que por si só já é bem constrangedor, imagine com aqueles olhos verdes e o sorriso convencido que ele exibia. Ainda não sabia o que era o tal bilhete, e acho que a essa altura nem descobriria.
Estava pensando sobre como Igor deixou de ser o novato bonitinho e passou a ser o novo alvo da Esther, quando Marina passou por mim e deu um puxão em uma mecha do meu cabelo.
- Vai ficar por aí? - ela pergunta. - O sinal já bateu.
- Doeu sabia?! - falo, a alcançando e puxando o cabelo dela do mesmo modo que ela fez comigo.
Ela abre a boca pra falar alguma coisa, mas é interrompida por Tom.
- Hãm... Garotas? Tem uma pessoa que tá só com um pé disponível aqui. - ele fala. - Então, se puderem ir mais devagar...
- Quando você vai tirar essa coisa do pé Tom? - Marina pergunta quando ele nos alcança.
- O médico disse que foi bem menos grave do que parece. - ele dá de ombros. - E que se eu me cuidar direito e essas baboseiras todas... Talvez em uma semana. Mas vai ser difícil, já que alguém me abandonou. - ele olha diretamente pra mim nessa última frase.
- Você não estava exatamente abandonado. - Falo sorrindo ironicamente.
- Eu já te disse qu... - ele começa a falar mais é interrompido por Marina.
- Aí meu deus! - ela fala exaltada, passando na nossa frente. - DR agora não né, façam o favor.
- Que DR maluca? - falo. - Ninguém tá tendo DR aqui, né Tom? - falo, quase pedindo ajuda.
Ele não responde nada, dá somente o sorriso "não me meta nisso".
- Não disse. - Marina fala.
- Humpf. - cruzo os braços. - Só por isso não te chamo pra ir no milk shake comigo e com o Tom hoje.
- E você acha mesmo que eu ia servir de vela lá? - ela sorri, no momento em que chegamos na casa do Tom. Depois desse comentário desnecessário, ficou um clima estranho por alguns segundos, até Tom puxar Marina pra um abraço e falar alguma coisa pra ela. Fiquei curiosa, mas não perguntei nada. Quando chega minha vez ele me envolve num abraço gostoso, e fala no meu ouvido.
- Não esqueça de hoje a tarde, da última vez que eu você chegou atrasada, eu quebrei o pé. - ele sorri.
- Não se preocupe, eu não vou. - falo saindo.
Marina eu eu nos distanciamos um pouco da casa de Tom, então ela tem um de seus surtos de mudança-repentina-de-personalidade e começa a saltitar na minha frente.

- Conta do jantar! - ela fala.
Revirei os olhos e já ia dizer que não tinha acontecido nada, mas não seria verdade, então conto tudo que aconteceu na noite do jantar. Quando termino ela está com uma expressão engraçada no rosto, rio e falo.
- Não é como se ele tivesse me beijado de verdade ou algo assim... Desencana.
- Você tá caidinha por ele né? - ela fala, me fazendo parar.
Se essa pergunta tivesse sido feita um dia atrás, eu negaria veementemente, diria que Marina estava ficando louca, e provavelmente ficaria com raiva dela. Talvez eu não estivesse realmente "caidinha" por ele, mas havia uma coisa que eu não poderia negar.
- Eu gosto dele.
Saiu assim, naturalmente. E pareceu mais verdadeiro falado assim, sem medo. Eu gostava dos olhos dele, gostava do jeito que ele sorria, gostava das "borboletas" dele, gostava de como o cabelo dele parecia dourado às vezes, e fazia pouco tempo, descobri que gostava dele completamente. Marina me olha feliz e fala.
- Parabéns Deborah, mas se você perguntasse pra ele. - ela aponta pra um menininho com um pirulito na mão que passava por nós. - Ele te diria a mesma coisa. Qualquer um sabia.
- Não sabia não! - falo exaltada. - Até por que não tinha nada pra saber.
- Hmrum... Agora deixa eu pensar. - ela fala serrando as unhas com uma lixa que ela tirou não sei de onde. - Você vai me dizer que não gosta do Tom também.
- De novo isso? - falo tomando a lixa dela pra que ela prestasse atenção em mim. - Eu gosto do Tom como amigo, e como poderia ser algo mais se eu gosto do Igor?
- Agora tem quantidade limite de gente pra gostar? - ela pergunta, pegando a serra de volta. - Você não gosta do seu pai e da sua mãe?
- É diferente. - falo.
- É o mesmo raciocínio. - ela fala. - Que lei é essa que diz que se você gosta de uma pessoa não pode gostar de outra também?
- Lei nenhuma, mas é uma coisa que todo mundo sabe. - falo impaciente.
- Ninguém sabe de nada quando o assunto é amor Deborah. - ela fala, e eu não encontro um argumento para rebater aquilo.
- Eu não te entendo. - ela continua, falando mais calmamente. - Você quase morre quando ele foi pro hospital, ficou cheia de ciúme quando viu ele com a Clarisse, e agora tá aqui, negando que gosta dele.
Chegamos na casa dela, nos despedimos com um simples "tchau" e eu fui pra casa, pensando em tudo que ela tinha em falado.
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Chego em casa, pego meu prato sobre a mesa, digo um "oi pai, oi mãe" e subo pro meu quarto, chamando Zeus pra me acompanhar.
Caraca, hoje ainda era quinta-feira e essa semana já foi sem dúvida a mais agitada da minha vida, olha que isso e muita coisa.
Termino de comer, e coloco ração no pratinho de Zeus, que hoje estava inquieto.
Me viro rapidamente, e meu olhar para sobre o porta retrato no criado mudo, em que raramente eu mexia. Vou até lá e o pego, enquanto deito na cama. Era uma foto antiga, a minha preferida, onde estavam Tom, Marina e eu. Cada um com um sorvete diferente. Na hora da foto eu comecei a rir, Marina olhou para o lado e Tom derrubou o sorvete, nesse dia eu dividi meu sorvete com ele, e Marina me chamou de boba. O que eu podia fazer se Tom desde pequeno tinha o olhar do gato de botas do Shrek?
Após tomar um banho e fazer minhas tarefas, estava escolhendo minha roupa quando sou interrompida por uma mensagem no meu celular.
Tá pronta?
Tom. Respondo com um sorriso bobo no rosto.
Sim, já já passo aí.
Envio e ele me responde no mesmo momento.
Nada disso. Eu vou te pegar aí, onde já se viu uma garota pegar um garoto pra sair?
Reviro os olhos, sem evitar um sorriso. Como ele podia ser tão fofo? Troco de roupa antes de responde-lo, pois já estava quase na hora de ir. Vesti um short jeans qualquer, uma blusa branca, meu all star azul e prendi o cabelo num rabo de cavalo. Sorri imaginado a voz de Marina dizendo que "Você tá parecendo uma mendiga"
Alguns minutos depois, pego o celular para responder Tom. Eram exatamente 4hrs da tarde.
Hãm... Senhor super homem? Eu não sei se você sabe mais seu pezinho tá machucado e você tá de muletas. Então, deixe de machismo que eu vou na sua casa.
Ele visualiza, e alguns segundos depois escuto um grito do lado de fora da minha casa "Rapunzel jogue suas tranças".
Não era possível. Eu conhecia muito bem essa voz. Vou até a janela e vejo Tom lá em baixo, com uma bermuda xadrez preto e branco e uma blusa amarela, com os olhos serrados por causa do sol que bate diretamente no rosto dele, deixando ele lindo.
- Você é maluco? - pergunto.
- Eu disse que viria. - ele fala. - Desce logo aqui.
- Tô indo. - falo sorrindo. - Louco.
Zeus começa a latir quando escuta a voz de Tom.
Zeus era o cachorro mais carinhoso do mundo quando estava comigo, mas quando Tom aparecia era outra história... Eu ficava literalmente no canto.
- Vamos meu amor! - falo tentando colocar a coleira nele. - Você quer ver o Tom não quer? Então tem que colocar a coleira.
Como se entendesse, ele se acalma um pouco e deixa que eu coloque a coleira. Desço com ele, só para o ver escapar das minhas mãos em direção ao Tom.
- Eu podia ter ido na sua casa, seu cabeça dura. - falo.
- Ei amigão! - Tom afaga a cabeça de Zeus carinhosamente - Senta.
Ele senta. Ele nunca sentava comigo.
- Como você faz isso? - pergunto. - Quase não consigo colocar a coleira nele.
- Não sei. - ele fala simplesmente. - Dá a patinha. - ele fala estendendo a mão pra Zeus, e ele corresponde a gesto perfeitamente.
- Ok. Pode parar. - falo chegando perto dele. - Você com certeza treina ele escondido.
- Não treino não! - ele fala me entregando a guia de Zeus. - Vamos logo.
- Vamos. - falo, começando a caminhar junto com ele.
Após alguns minutos andando e conversando banalidades, estávamos sentados em um mesa com dois milks shake de morango.
- Desembucha. - Falo, meio desconfiada.
- Eu não sei como começar. - ele respira fundo.
- Que tal aquele negócio: tenho uma boa e uma má notícia? - brinco, esperando que ele fosse rir.
- Isso. - ele fala me surpreendendo. - Qual você quer?
- Hm... A má. - falo meio receosa do que vou ouvir.
- Tudo bem. - ele se acomoda direito na cadeira. - Você sabe que eu não sou de falar disso Deborah. - ele fala baixo, como um segredo. - Mas você sabe como ninguém o que aconteceu entre mim e Clarisse. Eu queria dizer que esqueci isso, que não me importo com quem ela fique ou deixe de ficar. Era verdade afinal. Até que ela veio atrás de mim dizendo que foi uma louca de me deixar, que o Diego não tratava ela bem e que queria... Voltar. Que se eu quisesse tudo seria como antes. - ele sorri amargamente, com o olhar vazio. Fico enjoada ao imaginar Clarisse tocando Tom, dizendo essas coisas pra ele, mas não o interrompo. Ele continua. - Eu pedi um tempo pra ela, não que eu tenha pensado em aceitar. - ele fala com sinceridade. - Mas pra entender como ela era baixa ao ponto de me procurar depois de tudo. Então eu vi que realmente não tinha esquecido nada, que a mágoa e a raiva ainda estavam em mim e que essa era uma grande chance de eu fazer com ela a mesma coisa que ela fez comigo.
De repente aquele discurso todo faz sentido, fico confusa ao perceber o que Tom realmente quer, ele quer se vingar de Clarisse. Ele me encarava avidamente, esperando uma reação ou uma resposta.
Eu nunca tinha tido o coração partido, não vou falar que entendo ou que sei como é. Mas eu sabia de uma coisa. Peguei na mão dele sobre a mesa e disse.
- Você não é assim Tom. Você não precisa disso.
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Tcharam!
Não aguentei esperar até segunda. ^.^
Me falem o que acharam do capítulo de hoje, fiquei muito curiosa sobre o que vocês acharam do plano do Tom.
Não esqueçam da estrelinha, por favor. S2
Vocês tem alguma curiosidade sobre algum personagem? Não se acanhem! Me perguntem, talvez isso até me ajude a compreender à eles e à vocês melhor ;)
*Próximos capítulos segunda*
Beijinho estalado,
Bianca B.

Um conto quase de fadasOnde histórias criam vida. Descubra agora