Joana 1

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Mais uma Sexta-feira de jantar só de mulheres, eu, a Flávia, a Diana  e a Eunice. Somos amigas e poucos segredos há entre nós. A Flávia sabe de tudo da minha vida e eu sei de tudo da dela. Sabemos dar na cabeça uma da outra na hora certa, por isso é que vivemos juntas. 

Conheci a Eunice e a Diana no lar em que crescemos. A Eunice esteve lá desde bebe  foi ela que me ajudou nos primeiros tempos de lá. A Diana chegou 2 anos depois de mim e desde logo eu e Eunice torná-mo-nos amigas dela. A Flávia conhecia num trabalho de pares da escola, no início não gostávamos uma da outra, pois eu era descriminada por vir de um lar e não ter um pai e uma mãe e, Flávia não passava de uma menina problemática rica que já tinha sido expulsa de três colégios privados.

Agora tudo é diferente. A Eunice e a Diana são engenheiras das mais conceituadas de Lisboa, Flávia é uma negociadora e gestora excepcional - capaz de vender um prego ao preço de ouro - tornou-se a nº2 da empresa do pai. Eu também me considero uma gestora de qualidade, sou assistente pessoal do chefe e envolvo-me nas negociações. A empresa onde trabalho tem tudo para dar certo excepto o chefe e o chefe do departamento financeiro, o que levou a que daqui a duas semanas fique no desemprego.

- Joana, a tua pesquisa para descobrires os podres do teu chefe está a dar-te cabo da cabeça. - diz Flávia, despertando-me dos meus devaneios.

- Ouviste alguma coisa do que dissemos? - pergunta Eunice

- O que se passa? - pergunto - Sabeis que tenho feito noitadas para prepara a venda da empresa, de maneira a que todos recebam os salários em atraso e as indemnizações.

- Sabemos disso. Mas já compraste o vestido para a festa de beneficência do lar? - pergunta Diana com cara de "Haja paciência" 

A festa do lar, como me fui esquecer. As irmãs andam tão entusiasmadas com a raríssima presença do principal benfeitor.

- Foi o que pensamos. Amanhã vamos às compras, tens que ir a arrasar. Já estás à muito sozinha, caraças és a única de nós. Esquece aquele estúpido. - falou a Flávia, como sempre a chamar-me à razão mesmo sendo num restaurante caro e a falar alto demais.

- Ok. Amanhã vamos às compras. Agora deixemos de falar de mim e falemos de coisas mais animadas.

Aproveitando de falar de coisas animadas, chegaram as nossas entradas, salmão com molho de tártaro com natas frescas e pepino brioche tostado. Adivinha-se um bom jantar, até que meti o primeiro pedaço de comida à boca - está bom - e na mesa à minha frente senta-se um Homem. Mas que Homem deve ter menos de 30 e é lindo, fazendo-me aquecer a cara antes de tomar vinho, fiquei hipnotizada por aquele intenso olhar castanho.

- Humm. Isto está bom, não achas? - pergunta Diana, mas  não consigo olhar para ela e desviar o olhar Dele que me olha cada vez mais intenso

- Joana não acredito. - diz Flávia com uma cotovelada, o que me fez olhar para ela - Tu coras-te por aquele tipo Ele deu-te a volta aos neurónios só com os olhos. Estou admirada!

Ao ouvir isto, Eunice e Diana viram-se para olhar para ele e os amigos dele também já estão a olhar. Poderia ser mais embaraçoso? Acho que nunca estive tão vermelha.

- Meninas como é que vão as coisas no trabalho? - perguntei a ver se elas o deixam de encarar

- Vai bem vai.  Tu realmente não é por menos. - responde Eunice. Não resultou mudar de assunto elas continuam a olhar para ele  e eu aproveito para comer e me recompor

- Vai falar com ele.  - diz Diana. E, eu a pensar que a noite ia correr bem

- Gosto dele faz-te corar. Estou habituada a ver-te a pisar as bolas deles com os teus belíssimos sapatos - decididamente, não era o dia para a Flávia fazer os seus comentários

- Eu e o Sérgio descobrimos que o chefe anda a ter orgias no iate dele e que o gestor financeiro foi 2 semanas para o Brasil com uma das suas amantes.

- A sério como descobriram? - pergunta Eunice. Enfim mudei de assunto

Passamos as entradas a falar de mexericos e das relações delas. Embora Flávia esteja à mais tempo com Márcio ainda não vive com ele. Vive comigo, o que é bom, pois moramos num apartamento em que o dinheiro que íamos dar para o aluguer, dá-mos para ajudar nas despesas do lar, cortesia do pai da Flávia. Eunice vive com o futuro marido, Pedro, formando um casal bem divertido. A Diana vive com o namorado, Miguel.

É bom passar tempo com elas, depois destes tempos a ver o que se pode fazer para o chefe e o gestor financeiro não ficarem com todo o dinheiro da venda, e deixar 500 pessoas sem emprego e sem dinheiro para comerem. Mas algo não está bem, sinto-me a ser observada e, não é Ele.

- Ei, acho que estou a ser observada. Tenho que ir lá fora apanhar ar. - falei baixinho para Flávia, enquanto Eunice e Diana trocam comentários sobre viverem com os Homens da sua vida.

- E não é Ele? Está tudo bem? - pergunta Flávia também baixinho

- Não, não é Ele. É só a sensação, está tudo bem - respondi a Flávia - Meninas vou apanhar ar

Levantei-me e dirigi-me à porta do restaurante, onde uma brisa fria e fez arrepender de ter vindo apanhar ar sem casaco, apenas com um vestido curto sem alças.


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