Cristiano 28

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Não sei como me sinto agora que larguei o braço de Joana e a deixei ir conversar com aquela menina. Por um lado, sinto-me mal por não estar ao seu lado a consola-la agora que ela contou a toda a gente que tinha sido violada, por outro ainda bem que ela me deixou um tempo porque eu não saberia controlar a raiva que sinto por lhe terem feito tanto mal. Nunca imaginei que ela tivesse passado por tudo isso.

Porque raio eu não a vim buscar logo que fiz 18 anos?

- Cristiano o que aconteceu à Joana e à outra menina é muito grave? - pergunta Christian, ainda agarrado à minha mão

- É muito feio o que lhes fizeram, mas não é para a tua cabeça ficar a pensar nessas coisas. A menina vai curar esta dor, todos vamos ajudá-la. E a Joana já quase que a curou e, agora tem a mim para cuidar dela. - digo e vejo a madre a sair, deixando-me sozinho com Christian

- Tu gostas dela?

- Muito, sabes eu e ela agora somos namorados.

- E vão casar e morar juntos?

- Um dia, vamos fazer isso e muito mais.

- A Joana disse que um dia ia ser a minha mãe. Tu não te importas?

- Não, já queria falar contigo sobre isso a algum tempo. Eu também quero que pertenças à família que um dia vamos formar, queres fazer parte dela? - pergunto e vejo que o menino não sabe se ri ou se chora

-Então vais ser meu pai?

- Sim, mas tens que me ajudar na tarefa. Por exemplo, qual é a melhor forma de te por a dormir?

- A Joana conta-me histórias, ajuda-me a dormir bem. Mas não penses que são daquelas histórias de bruxas e princesas, são histórias para rapazes.

- Vamos ver como me desenrasco nisso.

Levo Christian para a cama e conto uma história que não sei bem onde a fui buscar. Ok, é mentira, a história que lhe conto é sobre um empresário muito rico que se apaixonou por uma rapariga pobre mas rebelde. Quando Christian adormeceu fui para a sala, apenas a madre estava lá.

- Sabe alguma coisa da Joana? - pergunto

- Não ela ainda deve estar a falar com a Cláudia. Tu imaginavas isto?

- Não, eu sei que ela tem pesadelos, mas sempre pensei que eles fossem devido à morte dos pais, por isso nunca a pressionei. Agora esta noticia devastou-me. Eu devia ter vindo ter com ela, logo que fiz 18 anos, mas não o fiz. E, ela passou por tudo sozinha.

- E eu? Eu estava aqui e nunca suspeitei nada. Houve uma fase que ela estava mais agressiva e não deixava que ninguém se aproximasse, mas pensei que era a idade nunca pensei que fosse isto.

- Madre, peço desculpa incomodar. A Joana perguntou se não se importava que passasse a noite no seu quarto para a Cláudia dormir no meu quarto - diz a irmã Lucília

- Claro. Eu também vou para dentro. Fechem a porta quando saírem. - diz a madre, deixando-me sozinho

Deixo-me estar sentado e enfio a cabeça entre as mãos. O que será que lhe vou dizer? Ela deve vir devastada com a conversa com a menina. O que será que aquele animal fez com ela? Não imagino como ela se sentiu e, muito menos o que sentia ao vê-lo. Como conseguiu passar por tudo isso sem ninguém saber?

Já não teria chegado perder os pais de uma forma que a marcou tanto. Não chegou ter vindo para aqui? Também tinha que ser violada numa das fases mais essenciais ao desenvolvimento do desenvolvimento de um ser humano.

E eu? Eu fui um burro, nunca a devia ter deixado tanto tempo sozinho, ela poderia ter tentado suicidar-se para acabar com tudo. Sem me aperceber já estou a chorar, não sei se por medo de a poder ter perdido, se é por sentir uma dor pelo o que ela passou ou se é por a ter deixado passado por tudo sozinha. Talvez as três coisas em simultâneo. Sou arrancado destes pensamentos pelo barulho de uns saltos no chão, olho e lá está ela a olhar para mim com os olhos vermelhos.

O OrfanatoOnde histórias criam vida. Descubra agora