Cristiano 10

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Hoje é o primeiro dia dela na minha empresa, não consigo tirar o sorriso da cara. Demorei a escolher o fato, a gravata, os sapatos e, até as meias e os boxers. O que me está a dar, nunca fiz isto na vida.

- Bom dia, Senhor Aveiro. - saúda-me Catarina, no seu tom profissional de sempre

- Bom dia, Catarina. - respondo, mas acho que não disfarcei o sorriso, ela ficou com a cara esquisita a olhar ara mim

- Café?

- Sim, obrigado. - digo continuando o meu caminho para o escritório, depois viro-me - Quando a Joana chegar diz que preciso de falar com ela.

- Sr. Aveiro ela chegou antes de mim.

- Diz para vir ao meu gabinete e trás café para os dois.

Chegou tão cedo, deve querer mostrar trabalho. Gosto disso. Lembro-me do nosso almoço e sorrio ainda mais, não sabia que conseguia. Momentos tão simples que com ela se tornam especiais. E o nosso beijo, o sabor dela mantém-se nos meus lábios e, a partir de agora não quero outro. Todos serão muito pouco comparado com o dela. Até que batem à porta e arrancam-me dos agradáveis pensamentos. Deve ser ela.

 - Entre. - ao menos alguém bate à porta e, como sei que é ela vou abrir-lhe a porta

- Bom dia. Pedis-te a Catarina que me chamasse? - diz, falando ainda à entrada

- Sim. Entra. - Ela entra com o seu sorriso que me ilumina e está uau. Tem saia preta, uma camisola de alças branca, uns saltos bem altos e tem uma caneta ou um lápis a prender-lhe um pouco o cabelo - Senta-te- digo e deixo-a passar à minha frente para poder apreciar o efeito dos saltos no rabo dela, mas o que me chamou também à atenção foi outra coisa. Uma tatuagem pequena, no ombro, umas asas de anjo. O meu anjo a quem não resisto de lhe passar os dedos em cima da tatuagem - Tens uma tatuagem?

- Sim. Vejo que és bom observador. - responde e, reparo que o meu toque a está a fazer arrepiar

- Temos 6 anos de diferença, mas a minha visão está muito boa.

- Fico feliz em sabê-lo - diz, sorrindo. Hoje está bem disposta - O que me queres?

- O que tens para me dizer sobre o que te pedi - nisto batem à porta, sei que é Catarina - Entra.

- Com licença, Sr. Aveiro, Joana, aqui estão os vossos cafés.

- Obrigada. Mas já combinamos que não precisas de me trazer café. Quando quiser vou buscar, tu podes-te juntar a mim e quiseres, mas não me vais servir. - volta a surpreender-me. Nunca ninguém disse e, muito menos fez isto

- Ok,.. quer dizer, sim Joana. Se me dão licença. - diz saindo do escritório

- Voltas-te a surpreender-me. - digo

- Porquê? - pergunta, bebendo um golo de café e passando a língua no lábio inferior quando engole. Isto é um espectáculo para ser bem apreciado

- Todos aqui gostam que lhe sirvam café.

- Eu não. Ela não é minha criada. Vamos ao que interessa. Ontem estive a ver os fornecedores e vi que a tua empresa produz quase de tudo o que a fábrica precisa. Sendo só necessário, manter três fornecedores.  

- Temos que falar com eles e tentar negociar para conseguir baixarmos o preço de compra.

- Suspeitei que fosses dizer isso, por isso, falei ontem com dois e hoje com outro. Consegui baixar os preços em 25%. Contudo, com a garantia de que o pagamento será feito logo após a descarga do material. Espero que não te importes.

Conseguiu fazer tudo isto e, pensa que me vou importar. O trabalho dela foi excelente e, em menos de 24 horas. Já devia estar cá há muito mais tempo.

- Cristiano, tens aqui uma bela... - diz Bruno, entrando, outra vez, sem bater, mas ao ver Joana cala-se. Vamos divertir-nos com isso

- Bom dia, para ti também. Agora vou ensinar-te a entrar quando encontrares uma porta fechada.

- Ah?

- Foi o que ouviste. Agora vai lá para fora, bates à porta e, só quando eu disser é que entras.

- O quê?

- Faz o que te digo. - digo e ele vai. Vejo Joana a morder o lábio inferior para não se rir. O que eu gostava de o tirar dali 

Bruno bate à porta, Joana e eu olhámo-nos e tentamos controlar o riso. Só quando estamos, minimamente, sérios eu falo

- Entra.

- Bom dia aos dois. - diz Bruno - Cristiano, és outra vez notícia e, não é pelos negócios. Toma e ela também deveria ver. - pego no jornal e vejo as fotos do meu almoço com Joana em vários momentos, até quando estávamos a provar a sobremesa do outro. As fotografias vêem acompanhadas com o título "Será que o nosso multimilionário já está com o coração preso?". Vou guardar estas fotos, mas o que não entendo é como sabiam que íamos para lá, eu não fiz reserva.

- Desculpa, não queria problemas para o teu lado. - diz Joana, envergonhada

- Não te preocupes. Lido com eles todos os dias, vais ter é que os aturar. -pensando bem, não me importo com estas fotografias, ela já tem o meu coração, é uma questão de tempo até estarmos juntos.

- Eles é que me vão aturar.

- Só te vim mostrar isto. Vou trabalhar. - diz Bruno, saindo

- Mudando de assunto. Já sabes o que vais fazer com o pessoal da administração? - pergunta

- Vou manter o engenheiro informático. Os outros três vão para a rua, não os posso manter.

- Ele é muito bom no que faz. Precisas de algo mais?

Preciso de te abraçar, beijar, sentir-te por completos, falar sobre este tempo separados e de te convidar para a festa. Mas contigo é sempre difícil falar nestas coisas, falta coragem.

- Preciso que convoques todos, incluindo os da administração, para Segunda-feira às 9 horas para saberem desta nova situação e demitir os três. Já sabes que também vais. Partimos daqui às 8.30h. Depois que comeces a inteirar-te de todos os negócios do grupo para me auxiliares.

- Está bem. Se precisares de algo chama. - diz, saindo do escritório a sorrir

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Já é Sexta-feira, ela já foi embora e, eu não a convidei para a festa. Nem por termos almoçado com ela, Bruno, William e Paulo estes dois dias. Não ganhei coragem, porque é tão difícil com ela?

Na verdade, acho que tenho medo que me diga que já tem companhia, ou pior, que me rejeite, ou pior ainda, vai com o namorado.

Não deve ter namorado, senão aquele beijo, nunca falado, não teria acontecido com a entrega que ela o fez. Temos que repetir este beijo e outros muita, muitas vezes.

Que vergonha! Se alguém entrasse na minha cabeça agora não diriam que é o Sr. Aveiro, mas um adolescente qualquer.

Tenho que perder este medo e, ganhar coragem para convidá-la, só tenho 24 horas para o início da festa e menos para a convidar. Cristiano, faz-te Homem! 

Agora vou para casa, já não faço nada aqui.  


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