Relatives pt. I

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Como prometido, Robert levou Savannah até o túmulo da irmã e consequentemente, ao túmulo de Vincent. Ela levava uma dúzia de rosas com ela e Robert também, ao lado dela como sempre. Savannah vestia uma calça social negra, camisa de linho cinza e sapatilhas no mesmo tom. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo, com alguns fios caindo pelo rosto. Robert também estava totalmente vestido em tons escuros, como sempre. Dessa vez, ela não precisou perguntar se Beatrice e Persia queriam ir - elas já estavam no carro antes mesmo de Savannah perguntar. Durante o caminho, Beatrice explicou a Persia quem eram Emma e Vincent, orgulhando Savannah e Robert. Ao chegarem ao cemitério, Robert segurou a mão de Savannah, lhe passando confiança. Ela limpou as folhas secas de cima dos dois túmulos e depositou as novas, se ajoelhando como sempre fez.

- Ahn... Desculpa por não ter vindo antes, vocês sabem que eu estava ocupada. Eu andei doente, eu não conseguia sair do hospital. - Savannah comentou, olhando para Robert e as filhas - Trouxe minha outra filha, o nome dela é Persia e... Vem aqui, meu amor. - chamou, sentando Persia ao lado dela - Essa é sua tia Emma e esse é seu vovô Vincent. - apresentou, mostrando os túmulos. Persia assentiu e engatinhou até mais perto do túmulo de Emma, analisando uma foto dela ali.

- Oi, eu sou a Persia e a minha mãe Savannah e meu pai Robert me trouxeram do hospital. Eu... Desculpe, eu não sabia quem são vocês, mas a minha irmã me explicou e eu queria trazer uma flor, mas não tem mais.

- Não faz mal, amor. Da próxima vez, você traz as suas. - Robert explicou, limpando as mãos dela. Beatrice se aproximou dos túmulos, também sem as flores, e tirou o cabelo do rosto.

- Oi, tia. Oi, vovô... Foi um ano difícil para a mamãe, mas agora eu tenho uma irmã e vamos ganhar mais dois! E eu acho que são mais duas meninas, mas eu acho que o papai não pode ter mais princesinhas, então queria que fossem principezinhos.

- Ah meu anjo, imagina a casa cheia de meninas? - Savannah sorriu, beijando a cabeça de Beatrice e Persia. Ela deu uma última olhada nos túmulos, saudosa, e levantou com a ajuda de Robert. Ao erguer a cabeça, franziu o cenho ao ver que Calvin entrava no cemitério, carregando tulipas. Robert também viu e estranhou, não sabia que havia algum parente enterrado ali, mas ignorou.

Os quatro voltaram para casa, conversando entre si. Persia estava quieta, olhando para fora do carro com uma expressão desconfiada. Savannah estava curiosa para saber o que se passava na cabeça da filha, mas esperou chegar à casa. Robert deu banho em Beatrice e Savannah deu banho em Persia, que permaneceu calada. Enquanto Savannah arrumava o cabelo dela, Persia resolveu perguntar o que tanto lhe afligia.

- Mamãe, posso te perguntar uma coisa?

- Pode sim, meu amor.

- A tia June... Ela é irmã da tia Emma? Não se chateie comigo. - pediu, apressada. Savannah franziu o cenho.

- Não estou chateada, só estou surpresa com a sua pergunta. Qual o motivo?

- Bem... Quando eu vi a foto da tia Emma, eu lembrei da tia June. E se olhar bem, elas até se parecem um pouco.

- Você acha? Vamos ver isso, vou pegar duas fotos delas. - Savannah disse, indo até o quarto e pegou várias fotos das duas e levou até o quarto de Persia.

Persia espalhou as fotos de Emma e June na cama, uma do lado da outra, e começou a observar. Savannah estava ficando nervosa, nunca havia observado aquilo.

- Aqui mamãe, o rosto da tia June e da tia Emma se parecem, assim como a boca.

- É verdade... - sussurrou, olhando para as fotos.

- Aqui... Elas têm o mesmo sinal. Na perna. - Persia observou, olhando para Savannah - Você está se sentindo bem?

- Chama o seu pai, por favor?

Persia saiu gritando por Robert, mas quando ele chegou, Savannah estava desmaiada. Aquilo não podia ser verdade, seria crueldade demais. Quando acordou, Robert estava andando de um lado por outro, com o telefone na orelha. June estava sentada na cama, aferindo a pressão de Savannah.

- Robert, chega desse nervoso todo, ela está bem, só teve uma queda brusca de pressão. Já pedi para uma das empregadas trazer comida para ela, acalme-se. - June pediu, franzindo o cenho - Savie, está tudo bem?

- Rob, você poderia nos dar licença? Eu queria falar com a June a sós.

Robert assentiu e saiu do quarto, deixando as duas sozinhas. June guardou o esfigmomanômetro e o estetoscópio em sua bolsa e suspirou, encarando Savannah.

- Posso te fazer algumas perguntas? - Savannah perguntou, tímida.

- Olha, eu sempre tenho medo das suas perguntas, mas faça.

- Quando você conheceu a minha irmã Emma, como você se sentiu? - June hesitou, não gostava de tocar na ferida de Savannah - Não! Está tudo bem, pode falar.

- Eu achava que já a conhecia de algum lugar. Era estranho, mas ela sentia a mesma coisa. E ela era incrível, pelo menos tínhamos a mesma idade quando você chegou na nossa família. Não era como você e meu irmão que saíam juntos o tempo todo e a gente sabia que vocês iam ficar juntos, sabe? Era diferente. - classificou, colocando o cabelo atrás da orelha - Minha mãe não gostava muito dela, assim como ela não gosta de você. Dizia que não gostava da minha amizade com ela porque eu tinha que ter amizades melhores. Já meu pai sempre foi contra essa forma da minha mãe agir. Ele aprovava a nossa amizade, mesmo sem saber o motivo.

- Entendi... Bem, tem uma coisa que eu sempre quis saber e eu ficava com vergonha de perguntar, mas como a Miranda te tratava? Digo, antes de te conhecer?

- Bom, a minha mãe nunca teve paciência comigo. Quando eu nasci, o Rob já tinha cinco anos e eu nasci prematura, mas quem cuidou de mim foi o meu pai. Calvin esteve comigo durante um certo período, mesmo com minha mãe dizendo coisas horríveis para mim. Um dia, no ensino médio, o Rob tirou A+ em um teste de Física e eu tirei um C- em um teste de Álgebra. Meus pais passaram um mês inteiro elogiando o Rob e fazendo piadas comigo. Foi a primeira vez que meu pai foi horrível comigo. Depois, viajei por um ano em um intercâmbio para a África e quando voltei, meu quarto estava desmontado. Meu pai se calou, não me defendeu um segundo sequer, então saí de casa. Morei com uma amiga por alguns meses e então o Rob liberou o apartamento dele para mim. Entrei na faculdade e quando faltava pouco para eu me formar, Robert me deu o meu apartamento. Eu sei o que está pensando, como assim eu não consegui comprar o meu apartamento? Bem, meu pai me dava uma mesada e eu guardava. Jurei que ia sair de casa o mais rápido possível, mas não consegui. Eu odiava aquela casa e Miranda enlouquecia a cada dia mais.

- E então...?

- Eu não ligo para nenhum dos dois. Eu não preciso deles, já tenho tudo que eu preciso aqui comigo. Já tenho minhas ações, meu carro, meu apartamento e o mais importante: eu faço o que eu amo.

Savannah sorriu, mas ainda estava desconfiada. Persia teria razão? Tinha algo acontecendo? Não faltava muito para descobrir.

Strings - Livro DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora