Capítulo VI - Seguindo Pistas

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O último degrau rangeu sob o peso de Thomas Ullmann.

Tinha chegado ao salão, que estava surpreendentemente cheio. Contudo, o público noturno não era o mesmo que se encontrava lá naquela manhã. Algumas famílias tomavam café e comiam torradas, e não havia sinal dos bêbados ou das prostitutas.

Thomas não tinha dormido muito bem, a empolgação da noite anterior havia lhe roubado o sono. A notícia que Milen trouxe o havia deixado um pouco confuso. Tinha planejado atacar o vampiro em seu castelo, mas de uma hora pra outra teve que trabalhar com outras idéias. Anton sairia para uma viagem, e Thomas teria que interceptá-lo na estrada. Não seria de todo mal, refletiu na noite anterior, após Milen ter ido embora. O velho Anton estaria desprevenido, e Thomas talvez tivesse mais espaço para manobrar um ataque, ou uma retirada.

Tinha que ir logo, senão poderia perder o vampiro de vista. Apesar, que não se preocupava muito com isso. Se Anton não soubesse que estava sendo seguido, não andaria em um ritmo alucinante, e Thomas conhecia os hábitos vampirescos; Anton pararia uma hora ou outra, diminuiria a marcha em algum momento, e então Thomas o pegaria. O caçador tinha paciência. Não poderia se apressar, ou as coisas não sairiam bem para ele.

Localizou Dennis no salão. Ele estava sentado no balcão, no mesmo lugar da noite anterior. Estava virado para a estante com bebidas, e não viu Thomas se aproximar.

- Estou aqui, como você pediu - disse o velho assim que o caçador sentou-se ao seu lado.

Dennis vestia uma roupa de camponês. Camisa leve, um colete de couro, uma calça surrada, e botas velhas. Thomas estava semelhante, entretanto usava com um paletó simples sobre a camisa.

O maneta estava com uma caneca de cerveja, e Thomas se impressionou. Dennis percebeu a reação do outro.

- Esse é meu combustível, jovem - tomou um grande gole da bebida.

- O senhor quer alguma coisa? - perguntou o garçom.

- Me traga uma cerveja - pediu Thomas.

- É assim que se fala! - o velho cacarejou.

A bebida de Thomas havia chegado, e ele tomou de bom grado.

Mal tinha se aproximado de Dennis, e já o achou uma ótima companhia.

Talvez ele fosse uma figura um tanto paterna, e Thomas se identificava com ele por isso. Seu pai havia morrido antes do seu nascimento, e uma figura paterna sempre foi ausente em sua vida. Será que o velho representaria isso para ele depois de tanto tempo a deriva? Esqueça. Isso não importa. Disse a si mesmo.

Já tinha passado muito tempo sem pai, e Dennis era apenas uma boa companhia, nada mais.

- Você tem filhos? - Thomas se viu perguntando.

Dennis ficou um pouco desconfortável, mas só um pouco.

- Tive.

A resposta foi seca, e Thomas não tocaria mais no assunto. Diabos! Nem teria tocado agora, mas o velho o instigava de uma forma estranha. O estilo despojado de Dennis Strand o deixava curioso. O homem de um braço só parecia não se importar com as coisas, e tinha um interesse sutil pela vida de Thomas.

- Vamos partir que horas? -perguntou, e seu tom não estava seco quanto antes.

Thomas bebeu um gole de cerveja antes de responder.

- Estava pensando. Acho que não vamos partir hoje.

Dennis fitou Thomas, com a expressão inalterada.

O Inverno de AntonOnde histórias criam vida. Descubra agora