Capítulo VIII - O Túnel

12 5 0
                                    

A água dentro da panela de ferro fervia, e o vapor era tão branco e espesso quanto a neve.

Dennis estava fazendo chá. Ficar o tempo todo exposto ao frio estava sendo cruel para o velho. Thomas via como ele não parecia sentir frio, e usava poucas roupas, mas o inverno devia estar entrando nas veias do maneta.

- Está pronto – disse passando as xícaras aos outros dois.

O cheiro era bom, e mesmo Thomas que não gostava muito de chá, apreciou o feito por Dennis. Pareceu revigorá-los.

- Os rastros ainda são de um dia de diferença? – perguntou Thomas.

Dennis sorveu um gole do líquido quente, e olhou para o caçador. Thomas viu que seu nariz estava vermelho de frio.

- São. Pelas minhas contas, pelo menos. O vampiro deve ter saído dessa caverna há um dia. Agora deve estar se afastando de Tellisen. Não estamos longe. Você está pronto para quando o encontrarmos?

- Estou.

- Sabe o que vai fazer? – questionou Dennis depois de algum tempo. Seu tom era calmo, e ele parecia mais aquecido depois do chá.

- Sei de um modo geral. Não detalhadamente.

- Pode nos contar? – Dennis parecia um pouco interessado, mas na verdade Thomas achava que o velho queria era puxar assunto.

- Quando o encontrarmos lhe darei um tiro. – Thomas falava de forma lenta, e Erling escutava assiduamente. - Eles não morrem por tiro, mas a bala vai ferí-lo, e ele não terá a mesma força. Cairá no chão, e então vai ser uma presa fácil. Vou pegar meu machado e arrancar sua cabeça.

Thomas falou como se estivesse recitando uma receita.

- Você não parece preocupado – disse o maneta.

Thomas deu de ombros.

- Não estou.

Lá fora o vento estava forte, e os galhos chacoalhavam com um som quase anormal. A caverna era um lugar agradável, e o vento frio não os atingia. O teto era baixo, e eles não conseguiam ficar em pé. Mas também não precisavam. Os cavalos estavam amarrados do outro lado da estrada.

Quando Thomas voltou da floresta, como era de costume, as coisas já estavam prontas para a marcha. Não era tão ruim ter assistentes, pensou Thomas quando se aproximou deles.

- As trilhas continuam aí? – indagou o caçador.

- Continuam. Estão fracas, mas consigo identificar as patas do cavalo em alguns trechos. Foi para o norte – anunciou Dennis.

Thomas não estava cansado, ao contrario de Dennis. Thomas estava ansioso. Queria encontrar o vampiro, no entanto conseguia manter as coisas de forma não aparente. Não queria que seus companheiros o vissem com essa ansiedade, poderiam tomar como algum tipo de fraqueza. Não que isso realmente importasse, ponderou, mas queria que as coisas continuassem do jeito que estavam. Seus companheiros o respeitavam, e o relacionamento tinha que continuar assim.

Gostava de Dennis, entretanto se deixasse a rédea muito solta, o velho poderia se mostrar uma pessoa diferente.

O cansaço do maneta estava aparente, e Thomas se perguntou se ele aguentaria chegar até o fim. Até o olhar de Dennis estava mais frouxo.

Estava em cima de seu cavalo, com a única mão segurando a guia com firmeza. As pernas o mantinham preso e equilibrado sobre o animal.

Todos os três estavam com a barba crescida, e Thomas lembrou que usaria a navalha na manhã seguinte.

O Inverno de AntonOnde histórias criam vida. Descubra agora