Capítulo V - A Estrada Coberta de Neve

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Já fazia algum tempo que Anton Brogger não selava Hoif, e percebeu alegremente que não tinha se esquecido de nada. Era como se tivesse feito aquilo na véspera.

O cavalo preto era bonito, e antes de colocar a sela, Anton o escovou. A pelagem escura ficou ainda mais brilhante, e o vampiro sentiu um orgulho bobo.

Tinha tirado o animal do estábulo, e ele pareceu estranhar. Anton ficou em duvida se o cavalo aguentaria tamanha marcha, e depois se tranquilizou. Sempre comprava bons cavalos.

Hoif bufou e de suas narinas saíram duas nuvens de fumaça. Estava frio, mas não chegava a nevar. Anton o puxava pela rédea, a caminho do portão norte. O pátio estava coberto por uma camada de neve, e as botas do vampiro chiavam no chão.

Olhou para cima e viu seu castelo. Ele era grandioso, e tinha uma aparência que remetia a dias antigos. Era todo de pedra, e as ameias estavam desgastadas, e em alguns trechos até despedaçadas. Anton baixou a cabeça e continuou seu caminho até o lado norte.

Usava um paletó verde musgo, e uma calça da mesma cor; o colete era em um tom amarelado, que dava um contraste interessante. Seu cabelo estava jogado para trás, e alguns fios claros balançavam a favor do vento.

Não levava muita coisa consigo. Apenas algumas trocas de roupa em uma bolsa amarrada a sela, um pouco de queijo, pão e vinho. Tinha momentos que Anton gostava de comer as coisas simples. Já o vinho era normalmente bem vindo. Não levava nenhuma arma. A não ser pela pá, que ainda assim não era uma arma. Ela tinha outra utilidade. O caminho ao norte era inóspito. A não ser por uma pequena cidade, que Anton nem ao menos sabia o nome. Todavia, ele podia passar por ela sem ser visto. Se quisesse.

Claro que levara Nom consigo. O camundongo era sua única companhia. Sentiu o animalzinho se mover em seu bolso.

Anton gostaria que estivessem no verão. Quando o tempo estava quente, o ratinho costumava ficar em seu ombro. Naquele frio, ele não tinha outra alternativa.

- Está gostando de sair um pouco do castelo? – perguntou.

Deu uma risada ao lembrar do corpinho cinzento de Nom.

Anton quase podia ouvir a resposta do camundongo.

Chegou ao grande portão norte. Claro que não sairia por ele, havia uma porta simples ao lado, e Anton a destrancou com um gigantesco molho de chaves velhas e enferrujadas. O som da porta de madeira se abrindo foi ruidoso, mas um tanto agradável. Liberdade! Pensou Anton.

Estava saindo de seu castelo com uma expectativa para o futuro. As coisas poderiam mudar de forma drástica!

Era boa a sensação que ele sentia. Todo o peso da responsabilidade havia sido tirado de seu ombro. Sentia-se livre para seguir seu caminho sem nada a temer. Se alguma desgraça acontecesse, não se sentiria culpado.

Subiu sobre Hoif, e a sela de couro rangeu. O cavalo apenas moveu as patas dianteiras, para se acostumar com o novo equilíbrio. Ele aguentaria; Anton tinha certeza. Hoif exalava força e confiança; as características que Anton mais apreciava em um animal de seu tipo.

O vento da região soprou em seu rosto, e ele sorriu. A idéia de liberdade era fantástica. Poder sair sem culpa era maravilhoso. Ter um motivo real para viajar era melhor ainda.

Uma vampira! Não podia acreditar. Estava indo ao encontro de uma vampira. Depois de todos aqueles anos, depois de não ter mais nenhuma esperança. Sentia a vida dentro de si mais uma vez, e devia isso a Ioran.

O vampiro pensou por um momento. A bruxa não tinha falado o nome da vampira. Certamente Ioran não tinha nem trocado uma palavra com a outra. A bruxa era experiente demais, devia ter apenas se aproximado da vampira e isso fora o bastante.

O Inverno de AntonOnde histórias criam vida. Descubra agora