Capítulo II - A Chegada em Bukesker

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Ficou feliz por ter chegado. A viagem tinha sido longa e cansativa. Seu cavalo não aguentaria mais muito tempo. Ambos precisavam de um descanso.

Na noite anterior, a neve os tinha castigado. Uma nevasca forte até mesmo para a época do ano. A neve os vinha atrapalhando desde que saíram em busca da pequena vila. Os boatos o tinham levado a fazer a viagem, e finalmente tinha chegado.

A neve não estava tão alta como imaginava, e Yorken conseguia andar sem maiores problemas. De qualquer maneira o animal estava acostumado a esse tipo de tempo. Alguns flocos brancos desciam vagarosos do céu, e a cidade tinha uma aparência morta. As árvores em torno dela estavam brancas, e os telhados também. O chão era forrado pela neve; essa estava suja de terra e barro. Marcas de cavalo, homens e carroças estavam impressas no chão com aparência suja, que fazia contraste com o resto da paisagem. Tudo era branco e pacífico.

Viu uma carroça simples passar de um lado a outro da cidade. O pobre cavalo parecia estar a ponto de cair. Andava devagar e com a cabeça baixa, e o homem que ele transportava o incitava com um chicote. Fora isso, a vila estava em silêncio. As janelas estavam abertas, porém nenhum movimento era visto dentro das casas.

Bukesker era uma vila pequena, que ficava em uma região montanhosa e cheia de bosques e cavernas. A estrada até o lugar era precária, e isso fora um fator determinante para a demora na viagem. Poucas construções compunham o humilde lugar, e uma fonte ficava no meio da cidadezinha. O espaço era amplo, e não parecia ter mais nada além daquilo. As construções de pedra passavam uma impressão acolhedora.

Thomas Ullmann apertou o casaco de pele de alce e se ajeitou na cela. O alforje fez um baixo ruído que ele não percebeu. Ansiou por entrar logo em uma hospedaria. Já estava cansado de ficar ao relento.

Por menor que a cidade fosse, sempre teria uma hospedaria e um estábulo, Thomas já tinha viajado o suficiente para saber disso. Agora que tinha chegado, não via a hora de dormir em um lugar decente. Seu corpo estava dolorido de dormir no chão.

O homem na carroça tinha estacionado em frente a uma casa no canto esquerdo da vila. Thomas cutucou Yorken e o animal respondeu no mesmo instante, apesar do cansaço. Ele o tinha há mais de cinco anos, e os dois se entendiam. Thomas sabia quando ele estava cansado e não conseguiria mais ir em frente; e o cavalo parecia saber quando Thomas precisava que ele se movesse e para onde virar, antes mesmo de seu dono lhe dar o comando.

A tralha chacoalhava a medida que Yorken andava. Thomas até gostava do barulho. Parecia marcar um ritmo para tudo ao redor.

O homem que estava desatrelando a carroça não o havia visto até ele chegar ao seu lado. Fazia seu serviço de modo lento, e parecia estar com a cabeça longe. Moveu-se apenas quando Thomas parou Yorken e este deu um relincho baixo.

- Boa tarde, senhor – disse o homem, que parecia ter menos de quarenta anos, e Thomas via uma lustrosa careca de cima de seu cavalo. O homem tinha modos humildes.

- Boa tarde. Você poderia me indicar onde fica o estábulo?

O homem o avaliou por um instante, e seus olhos se perderam no adorno que Thomas trazia na cela. Os três crânios.

- Você sabe ou não sabe onde fica? – disse Thomas de modo agressivo, para tirar o homem de seus pensamentos.

Era comum as pessoas se distraírem assim que botavam os olhos nos crânios que ele trazia amarrado à cela. Eles estavam amarrados um acima do outro, formando uma espécie de corrente macabra. O talismã ficava próximo ao seu joelho direito, e toda vez que cavalgava, o estranho objeto batia incessantemente na sua perna.

O Inverno de AntonOnde histórias criam vida. Descubra agora