Capítulo VII - Sangue Novo

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Aquele túnel era um bom lugar, pensou Anton. Seguro e tranquilo.

Logo que levantou, sentiu-se ainda mais fraco. Ficou feliz por estar perto da cidadezinha, se tivesse que cavalgar mais um dia, certamente teria que matar uma lebre ou coisa do tipo para conseguir se manter em pé.

Deu o resto da ração para Hoif e um pedaço de queijo para Nom.

Estava na hora de Anton se alimentar de algo realmente substancioso.

Saiu novamente do túnel, mas dessa vez para o lado da estrada. Não havia nenhum movimento. Isso era bom, pois não queria que ninguém soubesse que estava lá.

Os pensamentos da noite passada continuavam na sua cabeça, como se ainda soassem, igual a uma corda frouxa de piano.

Pensar no fim da viagem era algo que lhe deixava ansioso demais para fazer qualquer outra coisa. Sentia vontade de continuar a cavalgada, porém sabia que naquela noite não faria progressos. Estava fraco demais. Não aguentaria poucas horas sobre o cavalo. Tinha que se alimentar.

O sangue humano o deixaria novo mais uma vez. Teria que ser uma grande dose, e assim, talvez suportasse chegar ao fim sem ter que matar mais ninguém.

Afastou o pensamento de seu futuro possível filho. Não que fosse um pensamento, mas era uma imagem sem foco, que ficava vagando pela sua mente. Estava ficando cada vez mais presente.

Voltou para dentro do túnel e colocou um casaco de lã, que tinha trazido especialmente para essa ocasião. Não sentia frio, contudo não queria chamar a atenção. Sabia como agir no pequeno vilarejo. Ia lá às vezes.

Conferiu se sua bolsa de dinheiro estava consigo, e saiu da caverna assim que confirmou que ela estava lá, no bolso interno.

Passou a mão na altura do peito, e sentiu um pequeno calombo.

- Sei que não vai me dar trabalho, vai ficar quieto, então vamos.

Anton saiu do túnel e o vento fez seu cabelo chicotear seu rosto.

A estrada estava escura e deserta, e Anton logo estava andando por ela.

Não foi sobre Hoif, pois o cavalo chamaria a atenção em plena noite. Quando tinha que fazer isso, sempre fazia daquele modo, para não correr nenhum risco.

Matar um humano sempre era arriscado, e todo cuidado era pouco.

Anton estava um pouco preocupado, já que não estava muito bem, sentia-se enfraquecido pela falta do sangue humano.

Deu de ombros. Já tinha passado por coisa muito pior.

Estava na hora de ir embora da França. Os ingleses e seus enormes arcos estavam invadindo o norte. Seria a última noite de Anton Brogger e Haakon Nygaard em Lê Nantes. Cidadezinha a menos de cem quilômetros a leste de Paris.

As sacolas já estavam prontas aos seus pés, e eles tomavam a última caneca de cerveja.

Anton parecia um homem próximo aos trinta anos, mas na verdade, tinha mais de trezentos. O cabelo era longo, como sempre usara, e ele já mostrava um pouco de seu modo elegante, o qual usaria quando fosse mais velho.

Haakon estava sentado na sua frente, tinha olhos perspicazes, e uma pele mortalmente pálida. Seu cabelo era negro e curto, com um corte mal feito por Anton. Os fios rebeldes despontavam da massa de cabelo. Os olhos verdes davam a ele uma aparência estranha, como se algo não fosse verdadeiro.

Tinham se conhecido há algumas décadas; e desde o momento em que se viram naquele castelo na Noruega, não se separaram. Partiram por uma viagem pelo mundo. Conheceram toda a Europa, o norte da África, o oeste da Ásia, e agora voltariam para a Noruega. Se não fosse a guerra, eles permaneceriam mais algum tempo na França. Era um bom lugar.

O Inverno de AntonOnde histórias criam vida. Descubra agora