Capítulo IX - Os Furos e o Acampamento

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O vampiro estava ofegando. O ar parecia-lhe faltar, e sentiu gotas de suor descendo por sua testa, indo parar nos olhos claros. Pestanejou para afastá-las.

O caçador estava caído na sua frente, desacordado. Ele ainda vivia, pensou com desgosto.

Ouviu gritos de desafios vindo da ponta do túnel. Outros caçadores! Olhou para os dois lados e recuou um passo. Ia matar o maldito caçador, mas outros estavam vindo para terminar o serviço que o primeiro tinha deixado pela metade.

Anton não entendeu porque estavam vindo se juntar ao primeiro apenas agora, se tivessem vindo antes, Anton estaria em sérios apuros. Principalmente se os demais fossem tão hábeis quando o que estava caído diante dele.

As vozes estavam mais próximas, e Anton se virou, dando uma última olhada no caçador. O sangue escorria de sua cabeça. Talvez morra nas próximas horas, pensou. Já tinha visto coisas desse tipo acontecer.

Pegou a bolsa no chão, e caminhou para o outro lado do túnel, onde Hoif o esperava.

Andar era difícil. Tinha levado dois tiros. Um próximo ao coração, e outro na barriga. Cada passo era como se enfiassem ferro em brasa em seus ferimentos. A dor subia pelo seu corpo e parecia ir dilacerando os outros órgãos.

Mancava enquanto percorria o caminho até o outro lado do túnel. Soltou o ar, aliviado por estar em um túnel, e não em uma caverna.

Os gritos tinham cessado, e Anton deduziu que os outros tinham encontrado o atirador. Não podia diminuir o ritmo, agora eles iriam atrás dele. Conhecia muito bem os caçadores. Perseguiam até o fim sua presa. Veriam o sangue do vampiro no chão e saberiam que ele estaria fraco.

Andar era um sofrimento, estava se apoiando na parede fria do túnel. Cada segundo contava.

Não sabia o que aconteceria se levasse outro tiro. Estava fazendo um esforço anormal para se locomover. Estava tirando forças de lugares que nem sabia onde. Sabia que se parasse; que se ele se entregasse a dor, morreria. Caçadores eram caçadores. Não tinham piedade.

Finalmente saiu do túnel, e lá estava Hoif, amarrado a uma árvore. A sela estava pendurada em um galho.

Anton bufava de dor, e pulou sobre o cavalo. Largou todos os pertences para trás, exceto a bolsa, que carregava inconscientemente. Tocou Hoif para frente, e o cavalo o obedeceu. Anton se afastou.

Estava longe o bastante do túnel para ficar tranquilo mais uma vez.

Desceu com esforço de Hoif, e jogou a bolsa no chão. Sentou de qualquer modo, estava exausto.

Vazava sangue de seus ferimentos, e se considerou com sorte por ter matado a jovem. O sangue dela o tinha deixado forte o suficiente para a breve luta que teve com o caçador. Se não tivesse passado aquela noite se recuperando no túnel, nada disso teria acontecido.

Só agora estava entendendo o que tinha ocorrido. As coisas não tinham assentado em sua cabeça.

Estava dormindo, quando de repente acordou, e não viu nada de anormal. Para ser mais exato, nem tinha aberto os olhos quando sentiu algo quente entrando no seu peito. A primeira coisa que pensou no momento do tiro, foi alguma coisa em relação a Nom.

Depois desse instante inicial de atordoamento, se levantou e correu para trás de uma rocha. Fez isso mais por instinto do que por raciocínio lógico. E foi só então que percebeu que estava sendo atacado por um caçador.

Lembrou-se de ter trocado algumas palavras com o desgraçado, e recordou-se de que o caçador era diferente de todos.

Ou Anton tinha se esquecido de como eram os caçadores, ou esse era especial. O homem que atirara era seguro e poderoso ao mesmo tempo. O vampiro já tinha encontrado caçadores com essas características, mas todos tinham uma película de tolice e auto-suficiência. Esse, não.

O Inverno de AntonOnde histórias criam vida. Descubra agora