Capítulo XIII - Um Vilarejo no Fim do Vale

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Sentia-se melhor. A fadiga ainda estava presente, porém o ânimo estava melhor.

Lembrar da morte de seu pai tinha sido difícil para Anton. Ás vezes aquelas cenas vinham-lhe a mente. Muitas vezes, aliás; e em todas elas o sofrimento era grande.

Ficou um pouco surpreso ao perceber que não nevava mais. Nos últimos dias sempre nevou, e Anton pensou que a nevasca continuaria. Mas não, agora o céu estava apenas vermelho, e nenhum floco caía.

Selou Hoif e não comeu nada. Até Nom já estava achando o queijo ruim, e comendo pouco. Os grãos de Hoif estavam começando a acabar, contudo, pelas contas de Anton, seria o suficiente. O animal relinchou, e os enormes olhos do cavalo negro brilharam na escuridão. Anton montou e respirou o frio ar da noite.

As emoções das últimas lembranças estavam passando, mas alguma coisa ainda latejava em sua cabeça. Alguma coisa do passado ainda estava ressoando na sua mente, todavia, era algo um pouco mais longínquo do que a morte seu pai.

Uma bifurcação na estrada tinha ficado para trás na última noite, e ele ficou em dúvida sobre qual caminho seguir. Ioran tinha dito para ir direto ao norte, portanto, manteve a mesma estrada que estava seguindo. E se o caminho para Austmark fosse pela outra estrada?

Decidiu não arriscar.

Estava sendo perseguido, pensou de repente enquanto cavalgava sobre a neve. Talvez, em breve tivesse outro encontro com o caçador.

Anton não estava com medo. Sentia um leve tremor ao se imaginar morto antes de conhecer a vampira, antes de saber definitivamente que não era o último. E quase tinha calafrios ao se imaginar morto antes de ver seu filho. Teve mais de um século para morrer. Se morresse entre o dia do falecimento de seu pai, e o dia em que Ioran deu a grata notícia, não se importaria; de verdade. Anton quase desejava a morte naqueles dias; agora não. Pelo menos não antes de seu filho virar um vampiro adulto, que saberia se virar sem o pai. Anton tinha um novo prazo para morrer. Não podia ser agora. Nesse caso, o caçador morreria no próximo encontro.

Nunca dera importância para a vida dos caçadores. Os matava sem nenhum remorso. Havia matado muitos deles; os que o caçavam pessoalmente, os que caçavam seus amigos, os que caçavam seus familiares, os que passavam por ele, qualquer um.

De uns tempos pra cá, Anton havia perdido o gosto na matança de caçadores, mas após o incidente na caverna, seu apetite por matadores de vampiros tinha renascido.

Quando parou após algumas horas, apurou os ouvidos, para tentar distinguir o som de cascos vindo na sua direção. Nada foi escutado. Se o estavam seguindo, ainda não estavam próximos.

- Você não anda mais com fome? – perguntou ao camundongo.

Nom franziu o focinho ao ver o pedaço de queijo congelado.

- Talvez queira alguma coisa mais quente – o vampiro pensou alto. - Não temos tempo para fazer fogo. Sinto muito, caro Nom. Então terá que esperar até chegarmos a Austmark. Não está longe, pode acreditar em mim.

O ratinho fitou os olhos de Anton, e logo começou a tremer.

- E você Hoif? Também não quer comer?

O cavalo tinha algum apetite, porém não era o mesmo do principio da viagem.

As coisas não eram mais as mesmas. O equilíbrio tinha sido abalado desde a noite no túnel. Tudo se tornou mais cansativo desde então. Até os animais sentiam isso. A sorte deles era que Austmark estava perto, a jornada estava acabando. Finalmente uma espera de séculos estava acabando.

O Inverno de AntonOnde histórias criam vida. Descubra agora