Capítulo X - O Dia Seguinte

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Não foi fácil abrir os olhos, mas quando o fez, Thomas Ullmann não conseguiu sentir nada de especial. Nada lhe veio à mente, e ele se sentou.

Sentiu uma pontada na parte de trás da cabeça, levou a mão até lá, e havia uma crosta de algo congelado grudado aos seus cabelos.

Só então se lembrou do que havia acontecido.

O vampiro o tinha empurrado, e batera a cabeça.

Levantou de um pulo, e olhou ao redor. Estava em meio a muita neve e árvores cinzentas. Uma fogueira estava apagada, e viu os cavalos amarrados em galhos próximos. A manhã estava mais cinzenta do os dias anteriores, e uma neve fina caía lentamente do céu.

Anton tinha vencido. Sentiu uma pontada de ódio ao lembrar-se dos fatos da noite anterior. Sentiu quase nojo ao lembrar-se de sua pequena hesitação. Não era para ela ter vindo, não naquele dia, não naquela situação.

Ponderou se ela tinha sido seu elo fraco, o peso na balança. Por fim chegou à conclusão de que não. Apesar dele odiar a hesitação que sentira na noite passada (se fosse a noite passada. Poderia ter dormido por dias), ela não tinha sido fator determinante no resultado final.

Quando atirou, não estava com medo ou algo parecido, estava querendo matar.

Tinha demorado muito para disparar, e isso sim poderia ser um fator determinante, se ele estivesse do lado de Thomas; pois tinha outro lado na história. Anton poderia ser um vampiro diferente dos que matara antes. Quem sabe o problema não estava em Thomas, e sim na experiência de seu antagonista.

Ficava relutante de dar os merecidos créditos ao vampiro. Preferia assumir possíveis erros.

Inspirou o ar da manhã, e levantou a cabeça.

Tinha até sido bom o embate. Serviu para Thomas se preparar melhor, ficar mais esperto em relação à Anton. Os outros vampiros que matou, não eram nada parecidos com o velho que enfrentara na noite passada. Teve que admitir que não estava preparado para enfrentar o vampiro. Mas agora era diferente.

Sentiu sua auto-estima voltar. Agora estava pronto para matá-lo.

Não pensou em nenhum tipo de hesitação, ela não viria mais. Da próxima vez não esperaria, não avaliaria o local. Atiraria sem pensar, no coração, e com a espingarda.

Viu que Dennis estava um pouco mais afastado.

Apertou os olhos, e percebeu que o velho estava cavando o chão com seu machado. Tinha um corpo ao lado do buraco que o maneta estava abrindo.

Thomas olhou em volta, procurando Erling, já sabendo qual tinha sido o destino do rapaz. Surpreendeu-se quando sentiu uma tira de tristeza. Era um bom homem. Merecia coisa melhor. Queria saber como tinha acontecido.

Aproximou-se de Dennis, que estava com uma feição murcha, de extremo cansaço. E Thomas viu que não era só cansaço físico, tinha também o mental.

- Como você está? – perguntou Dennis com a voz rachada.

- Bem, e você? – o velho apenas meneou a cabeça.

Thomas viu o corpo de Erling. Estava azulado devido ao frio, e parecia congelado. Thomas teve a impressão que se o acertasse com o machado, o corpo se partiria em pedaços.

Viu que havia marcas no pescoço. Não precisou pensar para saber o que tinha acontecido.

- Sinto muito – disse.

Dennis mais uma vez não disse nada.

- O que aconteceu? – perguntou quando jogaram o corpo do rapaz na cova.

O Inverno de AntonOnde histórias criam vida. Descubra agora