Interlúdio - A Conversa no Corredor

13 4 0
                                    

Ioran Rise estava impaciente.

Procurava por Milen na ordem.

O lugar era amplo, um grande castelo, ao estilo europeu medieval. Ficava no sudoeste da Noruega, e era devidamente escondido por montanhas e rochedos. Ninguém chegava lá, e quem um dia se aproximou, já estava morto.

Os corredores estavam vazios, e a neve caia do lado de fora. As irmãs estavam no grande salão, mas Ioran não tinha visto Milen por lá. Desconfiava que ela tivesse saído.

Na verdade, a bruxa estava um tanto desconfiada da parceira. Ela se mostrava um pouco estranha de uns dias para cá. Talvez ninguém mais tivesse percebido, mas Ioran não era qualquer uma. Tinha seus motivos para ser a líder do clã.

Ouviu passos apressados no corredor logo à frente. Precipitou-se, pois tinha o palpite de que seria Milen.

Quando fez a curva, viu que realmente se tratava da bruxa mirrada. Ela estava se afastando de Ioran, pisando forte no chão, como se estivesse nervosa por alguma coisa. Ioran ficou curiosa.

- Milen – chamou a meia voz.

A outra se virou na hora, e Ioran viu que ela estava com raiva, mas logo Milen escondeu seus sentimentos.

Ela era ainda muito jovem, ponderou Ioran. Não podia esconder coisas dela.

- Sim? – a face de Milen se tornou agradável, entretanto Ioran sabia que era apenas uma máscara.

- Aconteceu alguma coisa? – perguntou a líder das bruxas com a voz amena.

- Não – replicou Milen com segurança.

- Tem certeza?

- Sim – o sorriso subiu a face a jovem bruxa.

Ioran não poderia insistir, pelo menos naquele momento. Não tinha um motivo para acusações, e além do mais, Milen sempre fora uma ótima bruxa.

- Gostaria que você me fizesse um favor.

- Pois não.

- Tenho que ir até a Espanha... resolver problemas da ordem, e preciso que você verifique algo para mim.

Era verdade. Ioran não poderia faltar a esse compromisso. Estava marcado há muito tempo. Já tinha ficado muito tempo ausente por conta de Anton, não poderia faltar a um compromisso desse porte por causa do amigo.

Preferia que Mary, sua amiga de maior confiança fosse no lugar da jovem bruxa. Porém, Mary já estava na Espanha.

- Quero que você encontre um amigo meu. Não precisa se mostrar, apenas o vigie por alguns momentos, para saber se está tudo bem. Depois você pode voltar.

A tarefa era muito simples, mas Milen tinha mudado um pouco sua atitude. Se empertigou um pouco, ficou levemente tensa.

- Quem é? – Milen perguntou, tentando esconder o nervosismo.

Ioran já havia notado todo o desconforto da jovem na sua frente. E sabia que Milen tinha notado o conhecimento da líder.

- Anton Brogger, o vampiro – disse lentamente, para notar a reação da outra.

O grande problema de Milen era que ela estava na frente de Ioran, que quase podia ler os pensamentos dos outros. Ioran pensou que se a jovem estivesse conversando com qualquer outra pessoa, certamente estaria mais confortável. Contudo, assim que Ioran disse o nome de Anton, ela chegou há estremecer um pouco.

- O que foi, Milen? – perguntou diretamente.

- Nada, por quê? – ela desviou o olhar da bruxa mais velha.

Ioran tinha certeza de que havia algo de errado, e era algo que envolvia Anton, e consequentemente, lhe envolvia.

- Olhe para mim quando eu estiver falando com você!

Milen recuou um passo, e olhou assustada para Ioran.

- Você sabe que não adianta mais, Milen. Já sei que algo aconteceu. Conte-me o que é.

Milen não disse nada, e tentava recuperar o alto controle.

- Diga! – vociferou Ioran.

- Fiz algo errado – falou depois de algum tempo, e seus ombros aliviaram depois que a tensão se foi. – Contei para um caçador de vampiros onde Anton estava indo. Entreguei seu amigo.

Milen fazia um esforço enorme para manter os olhos nos de Ioran.

Em algum lugar dentro de si, Ioran sabia que era algo com essa finalidade.

- Ele está longe de Anton?

- A essa altura, o vampiro está morto – disse simplesmente.

Ainda não, pensou Ioran. Sentia que Anton estava vivo. O laço que os ligava era profundo demais, e saberia na mesma hora se Anton morresse.

Ioran já sabia como Milen tinha chegado a todo esse conhecimento. Ou ela tinha ouvido Ioran contar para Mary, ou sua melhor amiga tinha dado com a língua nos dentes. Ficava com a segunda alternativa.

- Mary? – indagou descuidadamente.

Milen confirmou com a cabeça.

Se Anton estava vivo, isso queria dizer que o caçador estava morto. Nem sempre, ela pensou. Tinha razão. Muitas coisas podiam acontecer nesse tipo de encontro, e era possível o caçador ainda estar no encalço do vampiro.

A solução surgiu instantes depois na cabeça de Ioran. Evitou sorrir na frente de Milen.

O caçador já podia estar morto, mas se não estivesse...

- Tem um jeito de você consertar isso – disse com a voz grave.

Os olhos de Milen chegaram a brilhar. Ioran concluiu que ela estava esperando um castigo.

- Como? – perguntou avidamente. Agora ela não escondia mais nada.

- Você está orientando seu amigo?

Ela só moveu a cabeça, em uma concordância.

Ioran deixou um sorriso escapar pelo canto da boca.

- Da próxima vez que você encontrá-lo, dirá para ele ir para outro lado. Fará ele se afastar de Anton.

Milen ia começar a protestar, entretanto Ioran Rise a silenciou com um movimento brusco, o sorriso sumindo de sua face.

- Não quero saber de desculpas. Você prejudicou alguém, e agora terá que reparar o erro.

- Você não conhece o Thomas. Ele é esperto. Vai desconfiar! – a jovem disse isso aos jorros, antes que Ioran pudesse interrompê-la.

- Isso não é problema meu, Milen – sibilou Ioran.

A líder das bruxas virou as costas para a jovem. Tinha um conselho na Espanha. Anton ficaria bem. Sabia se cuidar melhor do que ela.

Não olhou para trás, onde Milen estava em meio às sombras.

***

Obrigado pela leitura! Se curtiu, vote, comente e divulgue, pois vai me ajudar bastante! Valeu!


O Inverno de AntonOnde histórias criam vida. Descubra agora