Capítulo XV - Antes da Aurora

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Realmente não percebeu quando o sono foi embora, e a noite chegou mais uma vez. Levantou-se, e sentiu dores no corpo, porque dormir no chão duro todos aqueles dias estava começando a ser doloroso. Queria sua cama novamente.

Na noite passada, Anton tinha avistado Austmark. Segundo os seus cálculos, já tinha percorrido quase quinhentos quilômetros, e lá estava à cidadela, como disse Ioran.

No fim daquela noite, Anton chegaria ao seu destino.

- O que acha disso, Nom? – perguntou ao animalzinho.

Nom nem ao menos se moveu, e Anton deu um tampinha amigável no bolso, onde ficava o bichinho. Sentiu algo endurecido, como se fosse uma pedra. O vampiro enfiou a mão lá, e alçou o pequeno rato cinzento.

Anton deixou escapar um suspiro. O camundongo estava congelado. Nom tinha morrido durante o dia. O seu pobre amiguinho que nos dias mais quentes era ágil e de movimentos alegres, agora estava congelado na palma de sua mão, não tinha aguentado tanto tempo ao ar livre.

O vampiro sentiu um peso no estomago, e percebeu que Nom era mais importante do que deduzia. Sentiu tristeza, mas acima de tudo sentiu pena do ratinho. Anton tinha um grande carinho com ele, e agora ele estava morto.

- Não devia ter te tirado do castelo. Devia ter te deixado lá. Me desculpe.

Anton estava triste pelo falecimento, mas não chorou. Já tinha visto muita coisa, e a morte de Nom era algo muito pequeno perto do resto.

Mas olhar para o corpinho todo encolhido de Nom era triste.

Anton fez uma pequena fogueira, e lá queimou o bichinho, dando um funeral que se aproximava ao dos vampiros.

O vampiro permaneceu ali até Nom virar pó, e então deu de comer para Hoif. O animal estava magro e cansado, e Anton temeu que ele tivesse o mesmo destino do camundongo.

- Aguente mais uma noite, amigo. Só mais uma noite.

Anton estava começando a se sentir fraco, e não queria matar uma pessoa logo que chegasse a Austmark. Sendo assim, se embrenhou no meio dos galhos mortos e árvores cinzentas e encontrou uma lebre. Ela se movia devagar, e devia estar ferida, pois não fez nada assim que Anton se aproximou.

A lebre estava com uma das patas traseiras machucadas, e Anton refletiu que em breve ela seria presa de algum outro predador.

Particularmente, não gostava de sangue animal, muito menos de lebre. No caso era sua única opção.

Os caninos se projetaram, e Anton meteu os dentes na criatura peluda. A lebre se moveu bruscamente no primeiro instante, e logo cedeu.

O sangue animal era ruim. Era como se fosse gorduroso. O sangue humano era um vinho encorpado, e o animal era água. Essa era a comparação. O sangue humano era rico, e o animal, pobre.

Além do mais, o sangue da lebre era muito escasso, e logo já tinha acabado. Contudo, o novo líquido se juntou ao velho, e a mistura lhe manteria por mais algum tempo.

Jogou o corpo longe e voltou para a estrada, onde montou em Hoif, e seguiu a caminho de Austmark.

O salão estava cheio.

O castelo da família de Anton Brogger estava repleto de vampiros. Isso acontecia com alguma frenquência. Os vampiros ás vezes se escondiam dos humanos, e na maioria delas, um grande castelo os abrigava. O da vez era o de Anton.

Quando muitos se juntavam, sempre era perigoso, pois os humanos poderiam saber, e assim armar alguma emboscada contra eles, durante o dia. No entanto, isso não perturbava Anton. Isso nunca tinha acontecido, e achava pouco provável acontecer. O castelo de sua família era bem fortificado.

O Inverno de AntonOnde histórias criam vida. Descubra agora