Capítulo XI - A Visão do Alto da Janela

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Quando saiu de sua caverna, notou que ainda nevava, e parecia que continuaria assim.

Não dormiu bem, o sono foi leve, e ele não podia averiguar se estava sendo emboscado, pois se botasse a cara para fora dos cobertores, morreria. Então tinha que confiar em seus instintos.

Ficou um pouco surpreso quando saiu da caverna e nada de ameaçador tinha sido armado contra ele. Será que tinham desistido do vampiro? Achava que não. Aliás, tinha quase certeza que não. O caçador lhe pareceu determinado e orgulhoso. Certamente estaria no seu encalço. Talvez ainda estivesse se recuperando da pancada na cabeça. Quem sabe o ritmo da cavalgada deles tivesse diminuído em razão disso. Poderiam até ter voltado. Afinal, o rapaz tinha morrido, e esse era um bom motivo para a retirada.

Olhou para trás, e a estrada estava tão vazia quanto nos outros dias. Uma neblina ameaçadora pairava a alguns centímetros do chão. Apurou os ouvidos, nada de anormal foi ouvido.

Anton Brogger tinha trocado de roupa, e usava um paletó azul e uma camisa branca. As roupas sujas de sangue tinha deixado na bolsa. Lavaria quando chegasse à sua casa. Seu castelo. Seu castelo de tantas lembranças.

Pousou a mão sobre os ferimentos.

Era impressionante o que um sangue jovem e novo podia fazer quando se tratava de ferimentos.

Seus dois furos agora não passavam de duas feridas recém cicatrizadas. Teve aflição ao pensar que se raspasse a unha nas feridas, elas se abririam de novo. Sempre pensava isso.

Ainda doíam de vez em quando, dependendo do safanão que levava de Hoif, mas já estava muito melhor, era apenas um incomodo esporádico. No dia seguinte, não sentiria mais nada, e os tiros que um dia quase o levaram a morte, não passariam de mais duas cicatrizes em seu corpo.

Hoif não reclamava do ritmo que Anton impunha na cavalgada. E o vampiro sentiu-se tranquilo. Em dado momento, temeu que o animal não suportasse a marcha forçada e a escassez de comida. No entanto, Hoif se mostrava a altura da necessidade.

Anton deu seu costumeiro sorriso quando se lembrou de Nom. O camundongo não dava nenhum trabalho, e se o animalzinho não se mexesse ás vezes, o vampiro nem lembraria que ele estava ali, em seu bolso.

A única coisa ruim de Nom ficar apenas no seu paletó, eram as fezes e a urina. Todos as noites, Anton precisava limpar o bolso. As fezes não passavam de pedrinhas geladas, e a urina congelava. A urina não chegava a seu corpo, pois era muito pouca, e Anton tinha reforços extras nos bolsos.

Os fatos da outra noite não o atormentavam tanto. Tinha a vaga idéia de que os caçadores ainda estavam na sua trilha, e talvez agora fosse mais do que dois. O motivo do atraso poderia muito bem ser esse. Eles poderiam ter passado no vilarejo e recrutado mais homens.

Não tinha como ficar pensando nisso. Eram apenas hipóteses, e se fosse considerar todas, precisaria ficar a noite toda pensando em modos de despistar os malditos.

Continuaria cavalgando no seu ritmo.

Comeu um pouco de queijo duro no almoço, e não sentiu gosto de nada na verdade. Já Nom parecia um esfomeado. Comia o quanto Anton lhe desse, e sua barriguinha já estava protuberante.

Não demorou na pausa. Apenas deu água e comida aos animais, e logo já estava de volta.

Sentiu uma estranha solidão. A sentia com frequência, mas era a primeira vez na viagem. Desde que soubera da notícia de que uma vampira vivia em Austmark, expulsou esses sentimentos, mas agora, ali, no meio de uma estrada coberta de neve, que levava ao norte da Noruega, se permitiu sentir a já conhecida solidão.

O Inverno de AntonOnde histórias criam vida. Descubra agora