Capítulo IV - A Visita no Meio da Noite

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O velho olhou para ele com um semblante que achava graça e que acreditava. Tudo ao mesmo tempo. Ficou assim por algum tempo. Thomas não disse nada, e sinalizou para o garçom encher sua caneca. Ele encheu como foi pedido, mas ficou encarando Thomas com um olhar quase ameaçador. Thomas não deu muita importância.

Todos naquela cidade eram camponeses estúpidos, salvo o velho maneta e a jovem prestativa. Thomas Ullmann estava em Bukesker há apenas algumas horas, mas já era o suficiente para querem matar todos daquele lugar miserável. Estava desacostumado das pequenas vilas. Há tempos que não visitava uma. Todos os camponeses medíocres deviam ser daquele jeito, tinha apenas se esquecido.

- Você quer matá-lo? – o velho perguntou com um tom de voz ameno, que transbordava sobriedade. Menos mau, não estava bêbado. Se estivesse, metade do que tinha dito estaria muito aumentado, e Thomas teria que tomar notas com outras pessoas.

- Eu não quero, eu vou. – Esvaziou a caneca e sinalizou novamente para o homem enchê-la.

O senhor fez o mesmo sinal, e teve sua caneca abastecida. O velhote não disse nada, tomou a cerveja devagar, e pousou a caneca mais vagarosamente ainda. Thomas achou que o maneta era controlado, e devia estar pensado se o que Thomas tinha acabado de dizer era verdade.

- E como vai fazer isso?

Thomas não se importava em responder, contudo não sentia-se disposto a abrir o jogo assim com o senhor. Por fim deu de ombros.

- Não sei exatamente. Vou caçá-lo, e quando o encontrar; arranco sua cabeça.

O maneta pareceu ponderar as palavras de Thomas.

- Muito interessante. Muitas pessoas já tentaram matar um vampiro – ele ergueu o toco esquerdo do braço -, mas não é tão fácil quanto parece. O velho Anton sabe de todos os truques usados pelos que lhe querem mal. Ele sobreviveu a muitos caçadores, e nós não podemos matá-lo. Você acha que se quiséssemos, nós não conseguiríamos entrar no castelo dele? Claro que conseguiríamos, mas nós temos medo, viajante. Temos medo – deu uma risadinha engraçada. – Não podemos matá-lo.

O velho não sabia com quem estava falando. Thomas deixou um sorriso escapar de seus lábios.

O outro o encarou.

- Ele não faz quase nada contra a gente. Fica quieto em seu castelo por muito tempo. Ás vezes ele aparece, sempre à noite, com um capuz na cabeça. Pensa que não sabemos quem ele é – o velho sorriu. – Vem comprar feno, vinho, pão, queijo, essas coisas. Não faz nada. Paga pelo que leva e vai embora.

- Por que vocês ainda não fizeram uma emboscada para ele? – Thomas estava inconformado com as oportunidades perdidas por aqueles camponeses.

- Temos medo. Já falei – o outro respondeu sem receio.

Como eram covardes! Além de estúpidos eram covardes. O velho ainda tinha um desconto, pois só tinha um braço e o perdeu lutando bravamente com sabe-se lá o que. Possivelmente estava bêbado no momento que perdeu o membro, e nem devia se lembrar o que acontecera de fato, então ficava inventando histórias.

- Ele mata as pessoas daqui?

- Ás vezes. Quase nunca, mas mata – o senhor tomou mais um gole de sua bebida, e ficou olhando para frente.

- E mesmo assim vocês não fazem nada?

- Tememos que ele escape e depois se vingue de nós. Temos amor à vida, viajante. Sinto muito se você não tem.

Ah sim. Thomas tinha amor a sua vida.

Os homens faziam barulho enquanto jogavam baralho. Talvez pôquer. As prostitutas ficavam em volta da mesa, gritando a cada jogada. O garçom ficava ao lado, fingindo prestar atenção no jogo dos bêbados, na verdade estava de ouvido em pé na conversa de Thomas.

O Inverno de AntonOnde histórias criam vida. Descubra agora