Prólogo - A Mulher no Canto da Taberna

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Logo que entrou na taberna da afastada Austmark, Ioran Rise viu como o lugar estava cheio. Praticamente todas as mesas ocupadas por noruegueses bêbados e sujos. Havia algumas exceções, claro. Uma delas era a pessoa que estava procurando.

Estava frio lá fora, mas para Ioran isso não fazia a mínima diferença. As bruxas não sentiam frio.

Ela era uma mulher velha, porém sua aparência não demonstrava nem um pouco de sua verdadeira idade. Ioran tinha mais de oitocentos anos, mas seu rosto denunciava no máximo quarenta e cinco.

O salão da taberna tinha a coloração amarelada das lamparinas a óleo, e tresandava a cerveja. Retirou a capa que a cobrira da neve do lado de fora. Através das janelas encardidas via-se flocos gordos de neve caindo vagarosamente.

A bruxa vestia roupas de inverno como qualquer outra pessoa; não gostava de chamar atenção. Havia aprendido a ser discreta há mais de quinhentos anos, quando costumavam queimar as bruxas e feiticeiras.

Sentou-se no balcão e pediu uma cerveja. Não gostava de beber nada que pudesse anuviar sua cabeça, mas dessa vez era preciso, tinha que confirmar uma coisa, depois... Bem, depois ela poderia ir embora daquela taberna imunda.

Deu um gole tímido na cerveja e olhou em volta. Não foi difícil de encontrá-la. Lá estava ela, a apenas alguns metros de distância, sentada em uma mesa no canto, sozinha e com a cabeça baixa. Parecia ser uma mulher mirrada, passando uma impressão de fragilidade. Entretanto, Ioran conhecia as do tipo dela, eram perigosas quando preciso, e fatais quando ameaçadas. A bruxa não gostaria de chamar a atenção da mulher que vestia roupas simples de camponesa. Aliás, ela também não sentia frio.

Se Ioran Rise não fosse tão experiente, não a teria reconhecido. A não ser pelas roupas leves no inverno rigoroso, a moça não dava pistas de ser o que era.

Contudo, Ioran era experiente, e não contava com pistas para descobrir certas coisas. Ela sentia. Podia sentir a vibração vinda da mulher à sua esquerda; podia sentir como era fria por dentro. Como era perigosa.

Sim, tinha encontrado.

No princípio, as coisas não foram tão fáceis, e por dois anos Ioran não encontrou nada. De repente, de uma noite para a outra, a mulher apareceu bem diante de seu nariz. Ou sorte ou outra coisa... Por isso não se mostrou para a mulher. Ioran era uma bruxa desconfiada.

Agora, ali, a poucos passos dela, Ioran percebeu que tudo devia ter sido apenas um golpe de sorte. Afinal, um dia a mulher teria que aparecer.

Ioran pagou pela bebida e saiu da taberna do mesmo modo cauteloso que entrou. Logo que a brisa noturna de inverno tocou seu rosto, sentiu-se agradecida de ter saído daquele lugar sujo e cheio de homens que não valiam nem a cerveja que bebiam.

A moça que Ioran estava procurando morava na vila de Austmark, em uma cabana de teto de colmo, que ficava afastada. Bom, já tinha as informações que seu amigo precisava. Tinha que ir informá-lo.

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