Capítulo XVI - Thomas Conta Uma História

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A manhã estava mais cinzenta que o normal, e Thomas não desejou estar no meio de uma estrada em pleno inverno norueguês. Queria estar ou em Oslo, ou em Estocolmo. As cidades eram grandes, e ele se sentia comum em lugares grandes; sentia-se abrigado.

Ter matado Milen não estava fazendo mal a sua cabeça, não estava sentindo-se torturado. Fez o que tinha que fazer. Ela o havia traído, e agora estava morta. Nada mais justo.

A atitude um tanto exagerada de Dennis assustou Thomas. O velho ficou gargalhando enquanto a bruxa morria, e ficou gritando como se estivessem lhe roubando milho, ou uma caneca de cerveja.

Dennis não disse nada na última noite, e se tivesse dito, talvez o velho estivesse completamente banguela nessa manhã. Mas os velhos eram sábios, e percebiam quando as coisas não estavam favoráveis.

A morte de Milen tinha deixado o caçador um pouco confuso na última noite, porém agora, a confusão já não existia. Thomas não pensava mais nisso. Não tinha real importância. Milen fazia parte do passado, e o caçador gostava de se preocupar apenas com o futuro. E o futuro era Anton.

Tudo já estava preparado para a marcha, e Thomas admirou mais uma vez a eficiência do velho. Não comeram nada, já que não tinham apetite, e além do mais, a comida já estava intragável.

- Você está melhor? – o velho perguntou quando os dois iniciaram a marcha do dia.

Não estava nevando, e o vento estava feroz. Dennis parecia especialmente castigado.

- Estou. Na verdade, nunca estive mal – respondeu Thomas, com um sorriso sincero.

Dennis fungou, como se não tivesse engolido inteiramente a resposta.

- E você? Não se sente mais como um garotinho ao ver uma mulher nua? – Thomas se referia a extrema empolgação do maneta ao ver Milen apanhando.

A risada de Dennis foi rachada, e ele emendou com uma tosse brutal, como estava sendo comum ao velho. Thomas se perguntou se o maneta não estava à beira da morte.

Achou um pouco de graça no seu pensamento. Segundo o falecido Erling, Dennis já estava pra morrer a dez anos, mas até então o velho se mantinha vivo. Thomas se lembrou que Erling disse que Dennis o enterraria, e foi exatamente o que aconteceu.

- Gosto de ver os patifes morrer, só isso – afirmou Dennis após o ataque de tosse. – Principalmente se for um patife traidor.

O velho segurou a risada, que certamente viria após o termino de sua frase, para ela não se transformar em um acesso brutal de tosse.

- Você se assustou? – indagou de repente.

Thomas o fitou e então respondeu:

- Não. Por que me assustaria?

- Não sei. Apenas pensei... Deixe pra lá.

Thomas deixou.

- Pelo que me lembro, Austmark não está longe – disse Dennis após algum tempo. – Dois ou três dias. Algo assim. Não tenho como ter certeza.

- Pelas minhas contas também. O vilarejo não está longe. – Thomas ouviu os crânios tilintando próximo a sua perna. - Nos resta saber onde está Anton nessa história.

- Já deve ter chegado, ou está chegando – replicou Dennis.

Thomas fungou baixo, demonstrando insatisfação.

- Temo que ele faça o que tem que fazer e volte para seu castelo, ou vá para outro lugar – admitiu o caçador.

- É possível – falou apenas o maneta.

O Inverno de AntonOnde histórias criam vida. Descubra agora