A ida

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Era inacreditável o que estava acontecendo, a Lili ia realmente embora.
A semana com certeza era pior da minha vida.
Quarta-feira de manhã, Lili me chamou por volta das seis horas. Era hora de partir, ela entregou uma caixinha, e disse que eu só poderia abrir assim que ela avisasse que já tinha chegado em Brisbane, é óbvio que fiquei hiper mega curiosa, mas naquele momento tão difícil e triste, resolvi apenas esperar a hora certa de abrir.
Foi uma despedida muito linda e triste, não digo linda por que gostei, na verdade, despedidas são horríveis e desesperadoras, e a dor de despedir-se, com certeza é a pior que existe.
Ficamos ali na calçada, chorando, sorrindo ao lembrar de grandes momentos, e então o pai de Lili a chamou, era a hora de ir.
Então pegamos uma na mão da outra, nos olhamos, e juntas dissemos:

" Aonde quer que estejamos, perto ou longe, sorrindo ou chorando, a nossa amizade não vai acabar, para sempre melhores amigas!"

Essa frase era o nosso lema, se posso assim dizer, criamos ela na quinta série, e sempre recitamos quando achamos necessário e importante.
Nos abraçamos ali novamente, e ela entrou no carro. Não consegui me conter, parecia que alguma coisa estava sendo tomada de mim para sempre, como se fosse deixar de existir, como se fosse o último adeus.

Entrei em casa, e fiquei jogada no tapete da sala, chorando e abraçada a uma caixinha que eu nem sabia o que tinha dentro.

A cada cinco minutos eu olhava quando ela foi vista por último, no Whats.
Parecia uma eternidade, cada minuto que passava, estava ficando estressada já.

Eu subi para o meu quarto e procurei no guarda-roupa onde estava o nosso álbum de fotografias desde que nos conhecemos, e entre lágrimas eu sorria e dizia "você é a melhor".

Coloquei a caixinha, em cima do criado, e por vezes eu fitava ele, morrendo de vontade de abrir.
De repente, meu celular vibrou, ERA A LILI, ela havia enviado um SMS dizendo:
"Estamos em Sydney, logo chegamos a Brisbane..."
Sim, ela estava me provocando para me tentar a abrir a caixinha, eu respondi com uma carinha de desprezo, e um "hahaha". Ela precisava chegar logo, se não eu ia acabar tendo um treco.

Era por volta das nove da noite quando Lili me enviou outro SMS.

"Já estou em Brisbane, pode abrir a caixinha"

ALELUIA!

Peguei a caixinha com tudo, sentei na cama, estava até tremendo de ansiedade, então abri.

NÃO ACREDITO!

Na caixinha envolto em um pano de tecido macio, estava a nossa pedra da amizade, calma, era a pedra que a gente havia achado na beira de um lago de águas cristalinas, quando tínhamos cinco aninhos!
Eu achava que ela tivesse perdido, mas não!
Em baixo do paninho tinha um papel todo dobradinho, e com um adesivo de coração.
Fui desembrulhando cuidadosamente, e com o coração palpitando, abri ele e comecei a ler.

"Mag, eu venho guardando essa pedrinha desde quando a achamos, bom talvez por um tempo esqueci onde tava, mas revirando a bagunça do meu quarto a encontrei enroladinha no paninho mais fofo que eu tinha.
Me desculpe por ter me esquecido dela algumas vezes, sinto muito, mas como você sabe sou muito esquecida, estou até pensando em começar tomar ômega 3, já que agora estou indo para a Austrália, posso pescar uns peixinhos hahaha.
Não sei o que tem a ver, mas vai que ajuda né?!
Estou passando por um momento um tanto complicado, não queria deixar você sozinha, nesse mundo cruel!, mas a saúde da minha mãe está em jogo, preciso cuidar dela e de minha família.
Prometo que quando der voltarei, e todos os dias vou te atualizar sobre minha nova vida.
E vou te comprar um presente.
Você sabe que você é a minha melhor da melhor do mundo, e sempre será, não importa a distância, somos amigas para sempre e sempre.
Os melhores momentos da minha vida, passei ao seu lado, isso ninguém tirará de mim.
Eu te amo muito, você além de melhor amiga é também minha irmã, eu realmente te amo!"

Claro, quase inundei meu quarto com lágrimas, parecia um bebê quando quer muito alguma coisa.

Desci para a cozinha e falei para a minha mãe que eu precisava mandar uma carta para Lili urgente. Minha mãe se assustou com meu nervosismo, e perguntou o que estava acontecendo, então lhe disse que não dava para explicar e fui na maior velocidade para o quarto, decidi que de manhã iria correndo para o correio assim que abrisse e escreveria lá mesmo.


Sem essa de era uma vezOnde histórias criam vida. Descubra agora