Anônimo

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Era cinco horas da manhã e eu ainda não havia dormido. Estava lá assistindo ao filme, que ainda não havia chegado nem na metade.
Precisava ir ao banheiro fazer xixi, desci a escada pelo corrimão e usei o banheiro, lavei o rosto e subi para o quarto.
Antes de deitar de novo, tive que matar o leão que havia dentro de mim, abri a mini geladeira que tem ao lado da minha cama (sim, eu tenho uma mini geladeira embutida na parede), peguei um pedacinho de bolo de chocolate e um copo de coca, e continuei focada no filme.

Enquanto eu comia, meu celular por vez acendia e apagava, só para indicar que havia mensagem. Eu novamente não dei moral, e fiquei lá de boa.

Depois de uns dez minutos, após eu ter comido meu bolinho, eu resolvi ver quem havia mandado a mensagem, porque e para que, aliás, foi enviada de madrugada, o que eu não acho nada normal.

Desbloqueei o celular, cliquei no Hangouts, e TCHANRAM, era mensagem de número privado.

Sim, aqui no Canadá é possível enviar mensagens de número privado. Que coisa, não?

Abri a mensagem, e estava escrito assim:

Hey! Boa noite .
Não deixe as oportunidades atuais passarem, aproveite as hoje, porque amanhã elas talvez não sejam possíveis mais.
E como dizem por aí: Para viver feliz, viva sem arrependimentos! 

Eu li, e fiquei "Ué", comecei olhar para o celular e para o filme, para o celular e para o filme, pensando em quem seria o anônimo do SMS.

Fiquei curiosa então resolvi responder:

Adorei a reflexão. Mas, quem seria o autor desta bela frase?

Bloqueei a tela e voltei a tentar assistir ao filme, esperando que o anônimo respondesse.
Enquanto fiquei pensando e acabei pegando no sono.

Acordei umas seis e quarenta, com minha mãe me chamando para ir pegar minhas coisas para a viagem.

Eu estava bem afim de ficar na cama, dormindo até o meio-dia, mas não né, a tia Milly estava a espera.
Levantei, fui ao banheiro, lavei o rosto, escovei os dentes, arrumei o cabelo e subi para o quarto.

Aproveitei estar com o celular e mandei uma mensagem para Lili, pelo WhatsApp.

"Bom dia, Lilica! Tô indo viajar, mais tarde volto te mando mensagem para conversarmos, se os nossos horários baterem, é claro."

Eu estava pensando em que roupa vestir, ela tinha que ser confortável e fresca.
Enquanto procurava uma roupa, meus pais já estavam terminando de levar as malas para o carro. 

Enfim, após longos dez minutos decidi com que roupa ir, quando estava terminando de vesti-la, o celular vibrou novamente.

"Será que é o Anônimo?"

Eu estava muito curiosa, mas precisava descer correndo para o carro, porque já estávamos atrasados.

"Eu vejo a mensagem na viagem" — pensei.  

Tranquei a casa, e entrei no carro. 

Até a casa da tia Milly eram aproximadamente duas horas, e fazia apenas meia hora que havíamos saído de casa. Então, resolvi ver o SMS.

Aceita se eu disser que sou apenas um admirador secreto? 

"Admirador secreto, é sério?" Li aquilo e quase gargalhei, mas reparei meu pai me observando questionadoramente pelo retrovisor. Segurei o riso e respondi:

Uau, fico surpresa. A quem eu chamaria tanta atenção a ponto de me enviar SMS anônimo? Parece muito misterioso... O problema é que eu não sou fã de mistérios.

Em questão de segundos a resposta chegou: tudo bem, você saberá, segunda-feira.

SEGUNDA-FEIRA? Eu gostaria de pontuar que eu não sou a pessoa mais paciente do mundo... Caso você não se apresente ou qualquer coisa que seja que possa fazer pelo SMS, não lhe responderei mais e ignorarei quaisquer pessoas que possivelmente aparentam ser meu "admirador secreto". Afinal, isso é bizarro.

Após alguns minutos de muito suspense... "Tlin", chegou a resposta:

Calma aí, senhorita Maggie Laurence. Preciso mesmo me apresentar?

Ahaahahahah Matt? — Eu sorri e dei um alto suspiro que chamou logo a atenção dos meus pais para o banco de trás. Minha mãe me encarou ligeiramente e deu um sorrisinho.

Surpresa? — retornou Matt.

Nem um pouco — na verdade, eu estava sim muito surpresa, mas eu não precisava dizer isso para ele, não é?

As próximas mensagens foram como a seguir:

Matt: Jura?

Eu: Claro que estou, doutor Matthew Hudson.

Matt: Hmm... me senti melhor agora.

Eu: Ah, que bom.

Eu desconfiava que eraele, afinal não acredito que meu telefone seja muito compartilhado por aí, mas não se pode ter real certeza antes de saber toda a verdade.

Fiquei muito feliz, pela primeira vez alguém que eu gostava, estava gostando de mim!
Bom, mas em parte eu tinha receio, afinal, não é sempre que coisas assim dão certo.

No decorrer do caminho, eu e Matt, ficamos conversando, até chegarmos no km 189, e o sinal de área, simplesmente sumir. Então, acabou a graça, fiquei quieta novamente, com os pensamentos vagando, e cantando alguns raps bem loucos.

Minha tia morava numa cidadezinha, aos arredores de Yellow Ville, num sítio, com alguns animais fofinhos, nojentos, e barulhentos, porém por vezes amáveis.
O meu preferido é o Flucky, um cachorrinho, branco com pintas marrom e um olhar tão simpático. Toda vez que vamos para lá, ele reconhece o barulho do carro e sai correndo para porteira, para nos receber.

Ela também tem um gatinho, muito fofo, que chama Olaf, ele é branco, com o olho azul, e ama que façamos carinho nele.
Eu simplesmente amo eles!

Mas enfim, o que eu mais queria mesmo era que o sinal voltasse e eu pudesse conversar com Matt, que a essas horas provavelmente já estaria pensando na hipótese de ter sido ignorado, e isso não é algo consideravelmente bom. Faltava pouco para chegarmos, graças a Deus!

A área do celular começou a dar alguns sinais de vida, logo, logo, eu voltaria a falar com Matthew. Só mais um pouco.

Sem essa de era uma vezOnde histórias criam vida. Descubra agora