UMA NOVA VIDA

Capítulo VII

Pela manhã, sentia meu corpo triturado, moído. Henry havia trocado o turno hoje, por isso já eram nove e meia da manhã e estávamos embolados um no outro. Levantei com cuidado para não acordá-lo, a cama rangeu um pouco, suas mãos pararam na minha cintura e minha costa bateu no colchão.

- Bom dia. - ele disse todo sorridente.

Ok. Desisto desse garoto.

- Bom dia. - falei com a voz embargada.

Tentei levantar, mas ele me aprisionou com parte do corpo a pairar sobre o meu.

- Tá tudo bem? - seus cabelos caíam, formando uma cortina cacheada. Os olhos brilhavam em toda sua cor.

- Não. Acho que estou resfriada. - funguei.

- A culpa é minha. - vociferou baixo.

- Sim. Por ter me deixado lá fora tanto tempo. - ele ficou calado. - Por que fez isso?

- Não faça perguntas difíceis. Como não trabalho hoje, vou cuidar de ti.

- Não é pra tanto. E pensei que só tivesse trocado de turno.

- Não. É minha folga.

- Sua folga? - tentei levantar, mas ele não deixou. - Então vai aproveitar. Eu estou bem.

Assim que pronunciei isso, virei rosto para poder espirrar.

- Sim. Está muito bem. - zombou. - Fica aqui, vou te trazer uma coisa.

Ele levantou e vestiu uma camiseta. Fiquei admirando abobalhada, seus músculos se contraindo e ganhando vida. Aproveitei para ir escovar os dentes e me olhei no espelho. Haviam olheiras proeminentes e meu nariz estava vermelho. Voltei para o quarto dele e me joguei na cama. Henry entrou alguns minutos depois, trazendo uma xícara com todo cuidado e uma aspirina. Sentou ao meu lado, tentei sentir o cheiro daquilo mas meu nariz estava entupido.

- É chá de limão e mel. Vai te fazer bem, toma tudo.

Pus a pílula na boca, peguei a xícara de suas mãos e levei aos labios. O vapor do chá desobstruiu minhas vias aéreas e então pude sentir o sabor, era muito bom.

- Obrigada. Mas não precisava. Estou mesmo bem melhor.

Levantei com a xícara, mas ele a apanhou. O segui para fora. Anna e Gloria bordavam toalhas na mesa e conversavam animadas.

- Me esqueceu de novo Gloria. - reclamei.

- Perdão Clark. É falta de costume. Mas a cama de casal é melhor que aquela caminha não?

- Ah... - pigarreei. - Sim.

- Hoje estás dispensada dos afazeres. Gloria me ajuda aos sábados.

Sorri internamente. Que alívio. Queria ir na rua, já me sentia mais disposta, quer dizer, não tanto. Mas logo aquele comprimido faria algum efeito, e acho que bastava. Precisava espairecer um pouco, resfriados não são desculpas para se enfurnar em casa. Vesti um moletom com capuz, o mesmo que usei quando vim pra cá e uma calça jeans. Por conta da chuva de ontem, fazia um friozinho. Calcei as botas meio elameadas que havia usado para ir ao bar, catei a bolsa e saí.

- Aproveite querida. - Anna sorriu.

Quando pus os pés no pátio, senti-me ser puxada para trás pelo capuz.

- Aonde pensa que vai? Esqueceu que está doente?

- Aff Henry. Vou dar uma volta, pegar um sol. Isso também faz bem.

- Hmm... Não sei se tenho mesmo que me sentir culpado. Talvez tua gripe venha dos germes do Leon. - sua careta era engraçada e acabei por soltar um risinho, o que só o fez frisar mais a testa.