Capítulo III

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Realmente não sou uma pessoa matinal. O sol entrava pela janela através das cortinas. Cocei os olhos, a cama de Gloria estava vazia. Levantei preguiçosa, saindo em direção ao banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes. Depois fui até a cozinha, havia um bilhete na geladeira.

"Estou no curral. Tem leite na geladeira, ovos e bacon e torradas no armário. Anna."

O que diabos era curral? Abri a geladeira e peguei a garrafa de leite. Daí que lembrei de uma coisinha. Não sabia cozinhar porcaria nenhuma, nunca precisei. Cacei algo comestível, havia geleia de morango, peguei o pote e as torradas no armário. Comi ali, na bancada da pia mesmo. Deixei a louça suja e fui trocar de roupa.
E agora? O que faria aqui, onde não há nada? Liguei a TV, só havia antena local, nada de cabo, que horror. Fui até o quarto e pus o Iphone para carregar, sentei na cama, olhando para as paredes sem ter o que fazer.
Depois de horas olhando pela janela, indo até a porta e morrendo de tédio. Anna finalmente apareceu, montada em um alazão negro, que ela amarrou em uma árvore a cinco metros da casa. Me deu um sorriso enorme, carregava alguns vegetais.

- Bom dia. - lhe disse.

- Bom.

Ela passou direto para a cozinha, a segui pois não tinha muita opção. Quando entrou, seu olhar cresceu.

- Nós precisamos conversar Clark.

- Ok. - respondi unindo as sobrancelhas.

- Você acabou de chegar, sei que levava uma vida luxuosa e de regalias, mas aqui não funciona assim.

Não entendi.

- Como pode ver, não tenho empregados. Aqui cada um lava sua louça e roupa. Tirando o Harry porque trabalha mais pesado e ajuda nos afazeres da fazenda.

- Ah. - suspirei.

Não sou dona de casa. Droga. Nunca fiz nada disso antes.

- Nós acordamos muito cedo, isso vira hábito.

Acordar cedo, me deu vontade de chorar. 

- Não sei cozinhar. - murmurei baixo. Mas a verdade era que eu não sabia fazer nada.

- Aprende. Posso ensinar você, mesmo quando voltar, pode ser útil, nunca se sabe quando podemos precisar.

Esperava que pudesse voltar o quanto antes. Não iria aguentar essa vida.

- Vou fazer um frango hoje para a janta e você vai me ajudar, mas depois de lavar a louça.

Engoli o bolo em minha garganta e me encaminhei a pia. Olhei aquela esponja sebosa e o troço verde liguento que devia ser o sabão. Agarrei a esponja úmida, jorrando sabão líquido em cima, até que era cheiroso. Torci o nariz para aquela sujeira, mas logo liguei a água e me pus a fazer o serviço.
Lavei tudo, quebrei duas unhas e me espetei em dois garfos. Olhei triste para as minhas unhas, teria que cortá-las no tronco, seria melhor assim. 

Depois disso, Anna me ofereceu uma faca grande e com o cabo desgastado. 

- Cuidado com esta faca, está bem amolada.

Olhei para aquela faca pontuda e tremi.

- Observe-me cortar e tente repetir os movimentos, vou fazer bem devagar.

Concordei com a cabeça e me pus a olhar. Meus pedaços de frango não saíram tão bonitos, mas davam pro gasto. Anna me ensinou a temperar e algumas formas de o preparar. Assado, cozido, ou podia fritar o peito. Não sabia de nada disso, e não foi tão ruim a experiência. Seu fogão não era de acendimento automático, sorte que sabia manusear isqueiros pelo tanto de maconha que usava nas festinhas dos amigos. Fiz dois cortes nas mãos e me queimei um pouco nas panelas, mas até que me saí bem para uma primeira vez.
A parte boa foi que o tempo passou voando.

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