Capítulo XXII

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Meu escritório não era muito grande, por opção minha. Haviam muitas plantas naturais e diferente do resto, mandei pintar de branco, me trazia paz.
Assumi a parte administrativa da Nature Life e de mais duas linhas que estava criando na Eve. Tinha bastante serviço, o suficiente para não pensar que há dezoito dias lhe mandei uma mensagem que nunca fora respondida. Eu liguei somente uma vez, para ouvir a voz irritante de Delilah atender o telefone, decidindo então não ligar mais. Ele não ligou. Talvez o destino estivesse seguindo seu curso. Talvez ele tenha revisto seus sentimentos depois que me fui, e percebeu que não era tão forte assim. Mas o meu era. E em nenhum só dia minha cabeça conseguiu se livrar das imagens dele.
Naquele dia em que mandei a mensagem, percebi que havia algo enrolado em meu pulso. Ele pôs aquilo em minha mão, antes que entrasse no carro. Era a bandana da Inglaterra. Aquela bandana. Aqui estava eu toda vestida em um conjunto de terno e calça cor de vinho e a bandana em meu pescoço, com um pequeno lacinho que se transformou em um lenço nada a ver para os outros, significativo para mim. Um simples pedaço de pano que já me serviu de sutiã um dia e que marcou a primeira vez que estivemos juntos. De alguma forma tinha o cheiro dele, ou me fazia lembrar de suas notas. Fosse o que fosse, eu a usava todos os dias.

- Ainda me intriga essa paixão pela Inglaterra.

Papai entrou em minha sala, trazendo os gráficos de vendas dos produtos e um punhado de novas pesquisas que deveriam ser feitas acerca deles.

- Ah não. Eu gosto de lá, mas prefiro a França, sendo bem sincera. - passei a mão rapidamente pelo tecido fino, esperando que ele esquecesse aquilo.

- É que você sempre usa este lenço.

- Foi um... Um presente. - argh. Tantos assuntos a serem tratados e ele tinha mesmo que ficar falando sobre o lenço?

- Imagino que essa pessoa seja muito importante.

Seus olhos me fitaram com atenção. Ele parecia muito atento às minhas reações, o que era bem estranho.

- Er...

- Sabe. O Henry e a Gloria são ingleses. - ele se sentou na cadeira à minha frente e imitei seu gesto. O que era engraçado, pois eu parecia a chefe e ele o empregado.

- Como? - me esgueirei para a frente, querendo saber mais.

- A Anna morava lá com o David antes de... Antes de ele falecer. - acho que em algum momento da minha vida, Matt me contou sobre o pai deles ter morrido, mas na época a vida deles me importava tanto quanto uma moeda de um centavo. - Quando isso aconteceu, ela voltou pra cá, para a nossa velha fazenda. Mas teve os garotos lá na Europa. - explicou.

- Ah... Ela, ela parece gostar tanto de Goldenville. Nunca mencionou isso, nenhum deles... - revirei minhas memórias de todas as conversas que tivemos e não recordava de menções à Inglaterra.

- Falar disso lhes trazem péssimas lembranças. E ela não ama aquele lugar, ele meio que se tornou um refúgio na época. Foi tudo que restou dos nossos pais e ela não aceitou minhas ofertas. 

- Não sei como aceitou morar na fazenda. - lhe disse. Eles não aceitavam ajuda de jeito nenhum. 

- Ela não teve escolha filha. David não lhe deixou nada, além de dívidas. Ela não aceita ajuda, porque ela diz que poder ficar com a fazenda e recomeçar com as crianças, é algo que ela nunca vai poder pagar. Por mim eles teriam uma vida muito melhor. Anna é uma mulher arrojada, mas também muito teimosa, e sabe o que dizem sobre os teimosos? - ele arqueou uma sobrancelha, esperando uma resposta.

- Não sei. O quê?

- Nunca deixe de insistir, alguma hora eles darão o braço a torcer.

Assim papai levantou e saiu da sala, me deixando intrigada. Porque ele tocou naquele assunto e qual o sentido de suas últimas palavras?
Resolvi parar de tentar decifrar o que ele quis dizer e me foquei no trabalho. A válvula de escape perfeita, há exatos dezoito dias.

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