Capítulo XVIII

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Tudo começou naquela manhã de novembro. As folhas secas despencavam das inúmeras árvores à minha volta. Elas pareciam fazer uma festa ao som de seu farfalhar de galhos, vento soprando, enquanto suas folhas amarelo alaranjados caíam feito confetes pelo chão.
Sentada embaixo de uma árvore, comecei a pôr em ordem meus objetivos. Nunca havia sequer parado para pensar se tinha alguma meta de vida, pois tudo parecia previamente preparado para mim. As empresas funcionavam bem e tudo que teria de fazer era contratar pessoas que as gerissem. O dinheiro sempre fora meu, mesmo sem nunca ter tido que acordar um dia sequer para merecê-lo.
E tudo isso era um passado negro perante a luz que emanava desse lugar e de tudo que ele me trouxe de aprendizado. Então ali, as primeiras idéias começaram a se formar em minha cabeça e desde então adotei o espaço como um refúgio para que minha mente pudesse trabalhar. Tudo naquele lugar conspirava para que meu lado empreendedor até então adormecido despertasse. A cerejeira não tinha mais frutos, mas eu lembrava da cor e do sabor dos mesmos, assim como tudo que era novo, colorido e tão diferente de New York.
Peguei meu caderno e uma caneta, rabiscando os traços de um projeto que denominei Nature Life. Uma linha de cosméticos baseada em mulheres reais, com rendas reais, e coisas reais e palpáveis. Cheiros de flores, frutas, madeira... Tudo em uma linha acessível às camadas de classes mais baixas. Ver de perto esssas mulheres simples me trouxe um sopro de criatividade. Elas mereciam realçar sua beleza natural com produtos de qualidade. Eu não era química, então rabisquei cores, sabores e aromas que queria que fossem criados. Bem como materiais recicláveis, que traduzissem o apreço e respeito pela natureza, sem deixar de lado a beleza que era o essencial.

- Não acha que já chega desse caderno? - Yeda sentou ao meu lado com curiosidade.

- Não posso esquecer de nada. - continuei escrevendo enquanto falava.

- Eu sei. Eu amei seu projeto e tudo, mas acho que precisamos nos divertir um pouco também.

- Eu estou bem. - não me liguei no que ela acabara de dizer.

Hummm. Um batom laranja com sabor parecia perfeito. E perfumes florais, com cheiro de jasmin e...

- Clark! - guinchou.

- Eu.

Fechei o caderno e lhe dei atenção, com um olhar culpado.

- Amanhã temos uma reunião com aquela garota do blog de Adão e Eva lá...

- Jardim do Éden. - corrigi.

- Isso mesmo, mas é só amanhã. Hoje a galera vai pra Garden, o que acha de darmos um tempo e espairecer? - ela implorava com aqueles olhinhos puxados de asiática.

- Acho... Você vai com quem?

- Com o Leon. E o resto com o Luke na caminhonete.

- Posso ir com vocês? - mordi o lábio.

- O Henry vai também. - ela fez uma careta de obviedade.

- Justamente por isso. - bufei.

- Vocês ainda estão nesse chove não molha? Que saco. Geralmente depois que a gente transa tudo fica uma maravilha. - ela revirou os olhos e balançou a cabeça.

- Não é tão simples. Ele é complicado e acho que eu também. Além do mais, não quero me apegar a nada aqui. Daqui a vinte dias eu vou embora, assim que terminar o projeto. - dizer aquilo em voz alta tornava tudo mais real e me fazia sentir dor. Uma dor desconhecida proveniente de alguma coisa a qual não sabia definir.

- Ok, ok, viremos te buscar.

Ela levantou batendo as calças para tirar a sujeira.

- E Missy Everett. Sinto em lhe informar, mas acho que você já se apegou.

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