Sexta feira.
Geralmente as sextas tinha uma festa daquelas em algum lugar, hoje não havia nada. E isso era muito, muito estranho. Meus dias se resumiam as trivialidades da fazenda, aos encontros com meus novos amigos, e no Henry. Ele era o que mais me fazia companhia, nossas conversas não fluíam melhor porque o garoto era de lua, o que me fazia retrair quando pensava ter algum progresso. Ele me resumia com tanta facilidade, o que era de uma extrema irritancia, ao mesmo tempo em que o fato de ele estar me observando, massageava o ego, custava-me admitir. Agora já foi.
Resolvi ir lá fora e parar de pensar tanto, já podia sentir a fumaça negra evaporando do meu crânio. Peguei um cesto de vime e me encaminhei até as amoreiras para me distrair um pouco. Os pés de amora estavam carregados, não sabia bem quando estavam devidamente maduras, portanto, pegava as mais roxas que via. E comecei a comer sem me dar conta, eram uma delícia, nunca havia provado nada igual, assim direto do pé. Perdi as contas de quantas havia comido, quando percebi alguém me observando. Virei para trás, a tempo de ver Henry encostado em uma árvore, observando sem expressão alguma minha comilança desenfreada.- Quer algumas? - quebrei o silêncio.
O cesto estava pela metade e as pontas dos meus dedos estavam roxos. Ele andou até mim e passou o polegar no canto da minha boca, logo após levando a sua e chupando em seguida.
- Você come igual criança. - sorriu.
- Não tenho o costume. - pus uma mecha de cabelo atrás da orelha, com vergonha de ter me melecado tanto.
Meu telefone vibrou no bolso do short. Joguei a cesta no chão, limpei os dedos rapidamente na blusa e atendi-o sem olhar no visor.
- Alô?
- Oi Clark. É o Leon.
- Oi Leon. - abri um sorriso, não exatamente por ser o Leon. Mas como não olhei o ecrã antes de atender, poderiam ser meus pais.
Henry cruzou os braços no peito e não deixava de me encarar com olhos e lábios apertados.
- Quer ir a um lugar hoje?
- Depende... Que lugar?
- Cataclism. Conhece?
- Hmmm... Já passei por lá.
- A galera vai hoje, tá afim? Se quiser, posso te pegar aí.
- Eu...
Lembrei de hoje. Conversava com Yeda pelo Skype. Ela perguntou do Theo de como estavam as coisas. Um dia me disseram que imagens valem mais do que mil palavras, então lhe mandei o seu instagram. Ela o seguiu, por ser meu namorado mas não gostei nada do que veio a seguir. Ele começou a curtir todas as fotos sensuais dela e a seguiu de imediato. Nunca fui de bancar a ciumenta. Mas sabe quando você sente uma pontada no fundo do teu subconsciente, de que algo não cheira bem? Então. Era exatamente assim que me sentia em relação ao Theo nos últimos dias. Namorados normais procurariam saber como você está, te procurariam com frequência, ele parecia se forçar a lembrar que eu existia. Talvez ele o fizesse. O fato é que isso tornava sua figura cada vez mais distante, cada vez mais cinza.
- Vou sim. Vou te esperar.
Ouvi um riso na linha.
- Te pego as nove.
Com isso desligamos.
- Vai ao Cataclism? - Henry e sua voz rouca me lembraram de sua presença ali.
- Como sabe? - será que dava para ouvir?
- Hoje vai rolar uma festa tipo boate lá. Só imaginei...
- Ahn... Eu vou sim. - juntei o cesto. Iria por as frutas na cozinha para ver se Anna queria fazer geléia.
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UMA NOVA VIDA
FanfictionClark Everett tinha tudo que uma garota de vinte anos poderia querer. Carro importado, um namorado bonito e rico, viagens... Tudo o que o dinheiro da única herdeira de um dos maiores impérios do cosmético pudesse comprar. Mas o que aconteceria se ao...