Capítulo XX

251 23 8
                                    

O último dia.
Queria mesmo pensar mais sobre isso, porém, meu cérebro simplesmente se empenhou em rejeitar qualquer alusão ao que essa frase significava.
Me mantive sentada em posição de Buda, olhando para aquelas paredes que foram meu abrigo durante alguns meses. Sentindo o toque das cobertas macias e do cheiro do amaciante que Anna fazia, ele era caseiro e cheirava tão bem. Sentirei falta disso. Me espreguicei mais uma vez, sendo recebida primorosamente pelos cálidos raios solares da manhã. Hoje, só por hoje desde que cheguei, deliberadamente fiquei na cama. Não consegui dormir, a inquietação pelo lançamento da marca me dava um nó no estômago, tentei leite quente, suco de maracujá e até um nocaute de analgésico, sendo que a única coisa que fizera algum efeito, foi suar meu corpo junto ao dele por boa parte da madrugada. Henry dormiu, eu por outro lado, nada. Vi-o se ajeitar para o trabalho ainda antes do sol nascer, fingi dormir para poder observá-lo sem que ele notasse. Parecia agitado, suspirava demais, como se frustrado por algo. Recebi seus lábios com delicadeza nos meus e logo estava só no nosso cubículo. Também sentirei falta disso.
Minhas malas estavam prontas no quarto de Gloria. Haviam algumas poucas coisas para guardar, mas não estava me preocupando por esquecer algo. Fui para a cozinha, encontrando Anna remexendo suas panelas.

- Bom dia. - sorri amplo.

- Clark, bom dia. Estou caçando minhas formas de bolo, pra fazer as coisas pra hoje, mas acho que emprestei pra Shauna. - ela coçou a cabeça, um tanto nervosa.

- Ainda temos muito tempo. - sorri de leve. Olhar para Anna e receber sua gentileza não ajudava em nada para o que vinha amanhã cedo.

- Eu sou ansiosa. Venha, vou te acompanhar no seu último café da manhã caipira. - ela pegou o leite e algumas frutas.

Catei um pedaço de bolo de milho, que descobri amar de paixão e duas xícaras, Anna costumava tomar muito café preto. Sentamos na pequena mesa redonda, ambas perdidas cada qual em seus limbos particulares.

- Bem, o tempo voou não é mesmo? - ela começou. Por favor, não, não, não.

- Aham. - pus meus olhos na xícara de leite. Os olhos dela me intimidavam, eram tão ele.

- Essa casa ficará meio vazia sem você minha querida.

Com um suspiro derrotado, a encarei.

- É bom ouvir isso Anna.

- É a verdade. Espero que tenhamos um espaço aí no seu coração também.

- Sempre. - disse com veracidade.

- E quanto à você e meu filho...

- Não se preocupe com isso. Henry deixou claro que seria um lance de férias, tipo assim. - o gosto amargo da bile me fez tossir. - Vai ficar tudo bem. - forcei o sorriso.

- Ele disse isso? - sua testa enrugou e uma careta tomou conta de seu rosto.

- Há algum tempo, quando engatamos esse nosso... Sei lá o quê. Então... - pensei em algo para pôr uma pedra no assunto. - Vocês poderiam ir mais a New York. Eu iria adorar.

- Mas é claro! - ela pôs a mão por sobre a mesa para agarrar a minha. - Sinto como se você fosse minha filha, onde agora eu tenho que deixar voar sozinha. Estou muito orgulhosa Clark, você se tornou uma mulher maravilhosa, aliás, acredito que você somente permitiu que ela saísse aí de dentro.

Meu peito parecia a ponto de explodir, minha garganta secou e lágrimas escorreram de meus olhos. Levantei e abracei Anna, ela retribuiu e me dei conta de que também chorava. Ficamos assim algum tempo, até ela me fazer rir, ao falar sobre como roupas da Bershka me caíam bem.

🎬

Pessoas corriam de um lado para o outro. O stand central com os produtos estavam cobertos e só seria finalmente apresentado quando Ale Ambrósio o tirasse no início da festa.

UMA NOVA VIDA Onde histórias criam vida. Descubra agora