Capítulo XXIII

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- Tá bom. Estou perdida. O que houve nesses dezoito dias, que MEU pai sabe e eu não sei.

Comecei a inquisição.

- Como soube que tio Matt estava envolvido? - ele se curvou para frente.

- Hoje. Ele me veio com umas conversas esquisitas e liguei as coisas quando te vi. - me inclinei para frente também. Olhando no fundo de seus olhos fantásticos.

- Vamos começar do início. Você me perguntou qual meu maior sonho. E eu te digo.

Estávamos sentados em um café próximo ao prédio da Eve. Henry estava maravilhado com a cidade e constantemente se perdia no diálogo, observando o barulho, os carros, as pessoas...

- Henry, teremos tempo para passear, prometo. Minha curiosidade está me matando.

- Imagino. - ele sorriu de lado. - Então... Meu sonho. Eu lembro de Londres, imagens vagas eu era muito pirralho. Mas sabe o que eu amava? Os prédios, as pessoas por toda parte, tudo sempre tão vivo, algo como isso aqui, só que sem muito sol. - ele parecia momentaneamente perdido em memórias distantes.

- Isso quer dizer que seu sonho é voltar pra lá? Meu pai me disse que vocês nasceram lá... - minhas palavras foram morrendo e uma tristeza horrível invadiu minha expressão.

- É. Era. - se corrigiu. - Eu queria muito mais do que Goldenville podia oferecer. Eu queria estudar e morar na Inglaterra, mas... Agora eu quero estudar e morar onde possa estar contigo.

Sorri amplamente mediante esta confissão, o coração voltando a bater normal.

- Eu gosto de cidade grande, eu fiquei preso na fazenda. Me dediquei pela Gloria e pela mãe, desisti dos meus estudos pois só um de nós teria tempo para tal, priorizei minha irmã e depois eu tinha que trabalhar e dar conta e meu sonho não passava de um borrão...

- Mas... - incentivei.

- Não estou fazendo drama, só estou te pondo a par de tudo. Leon insistiu em pagar a Garden College mas recusei, nós... Sempre recusamos qualquer tipo de ajuda.

- Sei bem.

Nossas mãos se uniram por sobre a mesa e ele acariciava sempre com o polegar.

- Quando você disse que me amava eu tive que deixar o orgulho pra lá e decidi batalhar por isso. E aí que entra o tio.

- Conte-me mais sobre isso. - ergui a sobrancelha em tom conspiratório.

- Eu conversei com minha mãe e ela compreendeu. Então liguei pro tio Matt, e nem precisei de muito. Ele disse: finalmente seus teimosos, tenho a oferta perfeita. - ele imitou a forma de meu pai falar e foi engraçado.

- Que seria?

- Ele comprou a fazenda. E nós compramos um lugar aqui.

- Meu Deus. Mas a Anna, ela... Ela amava cuidar de plantas, animais e...

Meu pai não tinha limites. E saber que ele fez isso por mim em partes era... Tão surreal.

- É um sítio Clark. A oito quilômetros da cidade. O dinheiro rendeu, comprei um carro melhor e pude pagar uma universidade. Não é uma Yvy League, mas é alguma coisa.

- Eu... Eu estou tão feliz. - meus olhos encheram de água. - Está realizando seu sonho Henry. Não tenho palavras.

- Se não fosse você ter ido infernizar nossa vida, isso não teria acontecido. Obrigado.

Tivemos um momento fofo qualquer, onde palavras deram lugar para olhares bobos e sorrisos contagiantes.

- E a Gloria? - lembrei.

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