KAT

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KAT
É o começo de uma noite perfeita de verão, do tipo em que todas as estrelas estão visíveis e não é
preciso usar pulôver, mesmo perto da água. O que é ótimo, porque deixei o meu em casa. Desabei
quando cheguei em casa do trabalho, dormi direto até depois do jantar. Quando acordei, tinha cerca
de cinco minutos para pegar a próxima balsa para o continente, então joguei as roupas que estavam
no chão na sacola, despedi-me do meu pai com um toca aqui e corri o trajeto inteiro desde T-Town
até o cais de Middlebury. Sei que esqueci várias coisas, mas Kim me deixará escolher no armário
dela, então não tem problema.
A Avenida Central está lotada. Não tem quase nenhuma loja aberta a essa hora, mas isso não
importa. Os turistas ficam andando sem rumo, parando nas vitrines para ver as porcarias de
camisetas e visores da Ilha Jar.
Odeio agosto.
Estou resfolegando quando passo por eles e abro caminho até o Java Jones. Se quero estar
acordada para o bis do Puppy Ciao, vou precisar de cafeína.
O Puppy Ciao está tocando na loja de música onde Kim trabalha, um lugar chamado Paul's
Boutique, no continente. A Paul's Boutique tem o espaço de uma garagem ao lado onde se fazem
shows, e, se é uma banda que eu quero ver, Kim me deixa passar a noite no apartamento dela. Ela
mora em cima da loja. A banda geralmente termina lá também, o que é ótimo. O vocalista da Puppy
Ciao parecia muito atraente na capa do disco deles. Não tanto quanto o baterista, mas Kim diz que
bateristas significam problemas.
Subo os degraus até o Java Jones de dois em dois. Mas, quando estou para empurrar a porta, um
dos funcionários a tranca.
Bato no vidro.
- Sei que vocês estão fechando, mas você podia me dar um triplo para viagem?
O empregado me ignora, desamarra o avental e desliga o luminoso. A entrada fica escura. Percebo
que devo estar parecendo uma das turistas riquinhas da Ilha Jar que acha que os horários das lojas
não se aplicam a elas, o tipo de esnobe com que tenho de lidar o dia inteiro na marina. Então jogo
meu cigarro pela metade na sarjeta, enfio as mãos nos bolsos da calça de cintura bem baixa e grito
em tom de desespero:
- Por favor! Eu moro aqui!
Ele se vira e olha como se eu fosse uma tremenda dor de cabeça, mas então a expressão suaviza.
- Kat DeBrassio?
- Sim? - Aperto os olhos. Ele me parece familiar, mas não consigo reconhecê-lo.
O cara destranca a porta e a abre.
- Eu costumava fazer corridas de bicicleta com seu irmão. - Ele segura a porta aberta para mim.

Olho Por OlhoWhere stories live. Discover now