LILLIA
Minha mãe está em seu quarto falando ao telefone com meu pai. Nadia e eu vemos televisão aqui
embaixo e dividimos um pote de sorvete caseiro de doce de leite da Scoops. A princípio, quando
perguntei se queria um pouco, ela disse não, apesar de esse ser seu sorvete predileto. Eu sabia que
ela estava pensando no que Rennie havia dito no treino das animadoras de torcida. Levei o pote para o sofá, e ela ficou me olhando lamber a tampa do pote.
- Só uma colherada, está bem? - disse ela, justo como imaginei que faria. Todas as garotas da nossa família adoram doce.
A secadora emite um bipe, e eu pauso a imagem na televisão. Vou até alavanderia, coloco as roupas secas numa cesta e as levo para a sala. Aumentei o tempo da secadora, e por isso a roupa ainda está quentinha. Encosto uma camiseta no rosto e sinto seu calor. Começo a dobrar uma pilha de camisetas e então vejo o top de Nadia. Eu coloquei removedor sobre a mancha de daiquiri de morango, e ela desapareceu. Nem me dei ao trabalho de tentar tirar a mancha do meu suéter de caxemira. Só o coloquei no saco de roupa suja e torço pelo melhor.
- Aqui está seu top de volta - digo, entregando-o a ela.
Nadia fica pálida. - Hum, obrigada.
- Eu tirei a mancha - digo e a observo atentamente. - Alex disse que alguém trombou em você e derrubou a bebida.
- É. - Nadia pega uma grande porção do sorvete, evitando meus olhos.
- Onde está a camisa de Alex? Procurei no seu quarto para lavar e devolver a ele.
Ela hesita.
- Está na Janelle. Lembra que eu ia dormir lá depois da festa? Eu disse para levá-la à escola hoje, mas ela se esqueceu.
Meu celular toca. É Ashlin. Todos vão se encontrar esta noite no Bow Tie depois que Rennie sair do trabalho.
- Quem era? - pergunta Nadia. - Você vai sair?
Desligo o telefone, porque isso é um assunto sério.
- Nadia, diga agora mesmo. Você bebeu na festa de Alex, mesmo eu tendo lhe dito para não beber?
- Não! - Ela está com duas manchas vermelhas nas faces.
- Então jure. Jure pela nossa ligação de irmãs. Nadia não olha para mim.
- Lillia, pare com isso. Eu já disse que não bebi.
Meu coração se quebra ao meio. Ela não quer jurar porque está mentindo. Ela está mentindo para mim como se isso não fosse nada. Nunca menti para Nadia. Nunca, nem uma vez sequer. Eu nunca faria isso com ela.
- Eu vou lhe dar mais uma chance. Você vai me dizer a verdade agora mesmo, Nadia, ou eu vou contar tudo para a mamãe.
Os olhos de Nadia se abrem muito, cheios de medo.
- Está bem! Espere! Eu tomei, sei lá, tipo meio copo de daiquiri de morango. Eu não quis beber.
Uma das minhas amigas me deu. Eu achei que era sem álcool. Tomei dois golinhos, para não jogar fora. Não é nada demais. Você bebia nas festas quando estava no primeiro ano!
Está bem. Sim, mas foi no final do meu primeiro ano. Quando Rennie e eu começamos a ir a festas, ela bebia cerveja, bebia tudo que tivesse à frente. Os rapazes a chamavam de Meio Litro, porque ela era muito pequena, mas aguentava bem. Ao contrário de mim, eu tinha tanto medo de me meter em confusão que ficava com um mesmo copo de cerveja a noite toda.
- Pare de tentar justificar isso! Você mentiu. Mentiu para mim, Nadia. - Encosto-me no sofá. Não podia acreditar que ela mentira para mim. - Você está de castigo agora. Nada de festas, nem ficar com meus amigos, porque você obviamente não sabe se controlar. E se eu ficar sabendo que
você bebeu mais do que me disse, estamos acabadas.
- Eu lamento, lamento muito.
Não é nem sobre ela ter bebido.
- Eu pensei que você jamais mentiria para mim.
Uma grande lágrima escorre-lhe do rosto.
- Eu não vou beber nunca mais, Lilli! Você tem de acreditar em mim.
- Como vou poder acreditar em qualquer coisa que você me disser daqui para a frente? - Levanto. Sinto que estou a ponto de começar a chorar. Saio da sala e subo para o meu quarto.
Eu não devia ter saído da festa. Isso é culpa tanto minha quanto de Nadia. Talvez seja mais minha.
Eu sou sua irmã mais velha. É meu trabalho cuidar dela, mantê-la em segurança.
Quando chegamos à outra festa, havia milhares de pessoas lá. Ninguém que conhecêssemos, na maioria era gente de fora da cidade. Gente de faculdade. Não havia um tema nem nada assim. Só um grupo de pessoas reunidas, escutando música.
Os rapazes vieram e nos encontraram na mesma hora. Ficamos orgulhosas do modo como eles estavam esperando por nós, como nos davam tanta atenção. De início, fiquei olhando meu celular para ver as horas. Não queria ficar lá mais que aquela uma hora que Rennie prometera que seria.
Eles perguntaram o que queríamos beber, e Rennie disse para misturarem vodca com suco de
mirtilo e uma colher de açúcar, porque ela sabia que eu só beberia se fosse superdoce. Toda vez que nossos copos ficavam vazios, eles logo os enchiam novamente. Estávamos nos divertindo, os quatro, e eu parei de olhar o celular e de pensar na outra festa de onde havíamos saído para ir para lá.
Lembro-me de rir de tudo que o cara que estava comigo, o mais alto, dizia, mesmo quando não era a nada assim tão engraçado. Acho que isso mostra quão bêbada eu estava.
Mike. Esse era o nome dele.
Por volta das 11 horas bato na porta do quarto de Nadia. Ela não responde, mas posso ouvir sua televisão. Falo através da porta fechada.
- Eu estou tentando cuidar de você, Nadia. É meu trabalho.
Espero alguns segundos pela resposta dela. Sempre que Nadia fica brava, ela fica emburrada, e não é fácil reconquistá-la. Odeio quando ela fica brava comigo. Odeio isso mais que qualquer outra coisa. Mas também tenho motivo para estar brava.
Encosto a cabeça na porta.
- Vamos juntas para a escola amanhã, está bem? Eu dirijo, só nós duas. Se sairmos mais cedo, podemos parar no Milky Morning e comer muffins de framboesa saídos do forno. Você adora.
Nadia não dá sinal de vida. Eu suspiro e volto para o meu quarto.
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Olho Por Olho
ActionAlguma vez você já quis realmente se vingar de alguém que a ofendeu? Talvez uma ex-amiga que a apunhalou pelas costas, ou um namorado traidor, ou um estúpido da escola que a humilhou desde que você era pequena... Alguma vez você já sonhou em envergo...