Capítulo 5

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MARY
Estou encarapitada no alto da privada, abraçando os joelhos contra o peito.
A porta do cubículo se abre. A garota cuspidora daquela manhã está olhando para mim. A menina
asiática bonita está ao lado dela, e seu suéter branco tem uma grande mancha na frente.
- Quem é você? - pergunta Kat, num tom firme.
- Sou Mary. - Engulo com força. - Prazer.
- Muito prazer - responde Kat, secamente.
- Qual o nome de vocês?
Isso parece desarmar as duas.
- Eu sou Kat, e essa é a princesa Lillia.
A menina asiática olha feio para a outra.
- É só Lillia. - Então ela estreita os olhos, voltando-se para mim. - Por que você está escondida aqui?
- Hummm... não tem motivo. - É duro olhar nos olhos dela, já que a escutei chorar nos últimos dez minutos. Não parece correto, uma garota tão linda e popular não devia ter nenhum motivo para chorar. Seja o que for, deve ter sido algo bem ruim.
Lillia joga o cabelo por cima do ombro.
- Você está obviamente incomodada com alguma coisa. Ou talvez apenas goste de espionar os outros no banheiro?
Kat se encosta na porta.
- Deixe-me adivinhar. Você passou o verão com um cara. Você o deixou fazer o que quisesse com você, e agora ele nem se lembra do seu nome.
- Não chegou nem perto - digo, e mordo o lábio inferior. Não sei se devo contar alguma coisa a essas duas. Afinal de contas, Lillia é parte da turma de Reeve. Ela é amiga dele. E Kat... bem, ela é apenas assustadora. - Eu vi uma pessoa que achei que eu conhecia. Foi só isso.
- Quem? - pergunta Kat. Posso dizer pela forma como ela se recosta na porta do banheiro que não me deixará sair até eu contar.
- Esse cara. Ele... ele costumava me torturar quando estávamos no sétimo ano. Ele basicamente fez todo mundo na classe me odiar. Foi por causa dele que minha família se mudou daqui. De qualquer forma, eu o vi hoje, pela primeira vez em quatro anos, e ele nem me reconheceu. Depois de tudo que fez. - Parte do meu cabelo cai sobre o rosto. Eu o empurro para trás da orelha.
- Que idade você tem? - pergunta Lillia, mais calma e delicada agora.
- Dezessete.
- E você é daqui da ilha? Qual ginásio você frequentou? - pergunta Kat.
- Eu sou daqui, mas fui estudar no Belle Harbor Montessori, no continente. - Eu costumava tomar a balsa todo dia para ir e voltar da escola. Eu e ele.
Kat balança a cabeça e diz:
- Reeve.
Meus olhos se abrem. Estou nervosa por ela ter descoberto tão depressa, mas de uma forma estranha também me sinto reconfortada.
- Como você descobriu?
- Quem mais poderia ser? - diz Kat, segurando a porta do cubículo aberta para mim. - Nós nos conhecemos faz tempo.
Desço da privada. Lillia vai até a pia e molha um papel toalha.
- Não estou surpresa. Reeve é basicamente um Neandertal - diz ela, passando o papel no suéter manchado. - Ele arruinou meu suéter.
- Pensei que vocês fossem amigos - digo-lhe, sem entender. - Vi vocês juntos esta manhã.
Lillia suspira.
- Não somos amigos, mas não somos não amigos.
Kat gira os olhos para cima.
- Ótima resposta, Lillia.
- Por favor, não diga a ele que me viu - apresso-me em dizer. - A última coisa que eu quero é que Reeve fique sabendo que continuo chorando por causa dele.
O sinal toca, e Lillia pega um protetor labial de cereja no bolso detrás do short e o aplica no lábio inferior. Ela comprime os lábios um contra o outro e emite um estalido.
- Não se preocupe. Eu já esqueci seu nome. - Ela olha para Kat e diz: - Preciso ir - e sai do banheiro.
Kat a olha sair e, quando a porta se fecha, ela pergunta em voz baixa:
- Então Lillia estava chorando, certo?
Olho para minhas sandálias. Isso é particular. Eu nem devia estar aqui.
- Você a ouviu dizer alguma coisa? O que a estava incomodando?
- Não. Nada.
Kat suspira, desapontada.
- Onde você devia estar neste momento, Mary?
- Eu não tenho ideia.
- Onde está seu quadro de horários?
Procuro na bolsa, mas não consigo encontrar.
- Hum, acho que tenho química agora.
Ela afasta os cachos dos olhos e se vira para mim.
- Espere, você já é uma veterana? Por que ainda não fez química?
Umedeço os lábios.
- Fiquei muito doente no final do sétimo ano, por isso estou um ano atrasada.
- Que droga. Bem, o departamento de ciências fica na ala leste do prédio. Você vai ter de correr para chegar a tempo. - Ela faz uma pausa. - Escute, não deixe aquele idiota do Reeve atingir você.
O carma não falha. Ele vai ter o que merece.
- Eu não sei - digo. - Quer dizer, eu queria poder acreditar nisso. Mas Reeve parece estar bem. Sou eu quem estou me escondendo no banheiro a manhã inteira.
- Ele não vale a pena - diz ela. - Nenhuma dessas pessoas vale. Acredite em mim.
- Obrigada, Kat - respondo, sentindo-me realmente grata. Ela é a primeira pessoa a falar francamente comigo hoje.
Sigo Kat para fora do banheiro. Ela vira para a esquerda e segue pelo corredor. Eu a observo enquanto se afasta, mas discretamente, para o caso de ela olhar para trás.
Ela não olha.

Olho Por OlhoWhere stories live. Discover now