Capítulo 12

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                            MARY
Não fui eu. Não poderia ter sido eu.
O que quer que tenha acontecido na escola, seja lá o que foi aquilo, eu nem quero pensar nisso. Só quero dar o fora daqui. Sair desta ilha, afastar-me de Reeve e de tudo que me faça lembrar dele e de quem eu era.
Quando chego em casa, o Volvo de tia Bette está na entrada. Deixo a bicicleta no gramado e caminho para a rua. Que se danem meus vestidos, minhas roupas. Tia Bette pode enviar tudo depois.
Tudo que sei é que tenho de pegar a próxima balsa e sair daqui.
Na calçada, paro e me viro para olhar para a casa uma última vez. Tento gravar na memória o tom exato das telhas cinza de cedro contra o céu pouco antes de uma tempestade de verão. Conto as lâminas das persianas brancas de cada janela. Doze. Traço no ar com o dedo o caminho de pedras.
Absorvo tudo, porque esta é a última vez que verei esta casa. Nunca mais vou voltar aqui. Nunca.
Então respiro fundo e começo a descer a colina na direção da balsa, combatendo as lágrimas o caminho todo. Fui uma louca pensando que Reeve ia pedir desculpas pelas coisas terríveis que me fez. Sempre esperei, em algum lugar lá no fundo, que ele se importasse comigo. Que, apesar de tudo, havia algo real entre nós. Que ele se interessava por mim. Que ele lamentava o que fizera.
Sei agora, sei com certeza, que estava errada. Ele nunca vai se desculpar, nem reconhecer o que fez. E por isso não há motivo para eu ficar.
Meu coração está batendo apressado no peito quando chego ao cais da balsa. Estou ofegante demais para falar, então, quando chego ao guichê, fico um pouco de lado para conseguir recuperar o fôlego. Vejo dali da costa quando um barco encosta no cais e os passageiros embarcam. Uma mulher
atrás de mim toma meu lugar na fila. Ela tenta comprar uma passagem, mas a balsa das quatro está lotada. Só há lugar na das seis.
Fica mais escuro. Mais pessoas chegam para comprar passagem, mas eu não me mexo. Fico ali e observo e espero. Quero voltar para a fila e comprar minha passagem. Quero muito fazer isso. Tudo dentro de mim está gritando vai, vai, vai, vai. Mas não posso. Algo está me segurando. Algo está me mantendo aqui.
O que está acontecendo comigo?

Olho Por OlhoWhere stories live. Discover now