Capítulo 20

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KAT


Assim que o alarme de incêndio dispara, giro a mão para fechar a tampa do meu isqueiro Zippo. Bem


na hora, porque acho que está quase sem gás. Além disso o corpo de metal está realmente quente.


Sopro o isqueiro, salto de cima do aquecedor do banheiro feminino e me abaixo junto à porta. A

parte superior da porta é de madeira, mas na parte de baixo há uma veneziana. Fico vendo as luzes

do corredor sendo encobertas e descobertas por pares de pernas um após o outro correndo para a

saída mais próxima. Escuto um dos professores dizer:


- Não tínhamos uma simulação de incêndio planejada para hoje, tínhamos?


Outro professor diz:


- Acho que é pra valer.


E ambos instruem os estudantes a correrem dizendo Isso não é um treino, em tom urgente.


Sim. Corram todos. Tenho algo a fazer.

Tiro a mochila, passo os braços pelas alças, de forma que ela fique na frente do meu corpo, e abro

o zíper. Dentro estão as fotocópias que fiz na semana passada. Tenho também um rolo de fita adesiva

que roubei da sala de artes. Pego a fita e corto pedaços, que colo nos braços para agilizar o trabalho.


A Ilha Jar tem apenas um corpo de bombeiros voluntários, então calculo que levará pelo menos

dez minutos até eles chegarem. Leva um minuto, talvez um minuto e meio, para a escola esvaziar-se.


Assim que a barra está limpa, empurro a porta e começo a correr.


O corredor dos formandos é onde pode acontecer um estrago maior, então é por ali que começo,


colocando uma fotocópia a cada poucos metros. Nas portas das classes, nos armários, no bebedouro.


Sei que isso devia ser a vingança de Lillia, mas tenho de admitir, essa sensação é realmente

incrível. Alex me telefonou algumas vezes na semana passada. Mas eu não me dei ao trabalho de

atender ou de ligar de volta. Ele não merece nem falar comigo de novo. É assim que é comigo, se

fizer algo errado, você está morto para mim.


Exceto Lillia. Estou abrindo uma exceção temporariamente para ela.


Ao final do corredor, chuto a porta que dá para a escada e subo de dois em dois degraus, colando

cópias no caminho. O alarme está tão alto que meus ouvidos estão a ponto de sangrar. As luzes de

emergência produzem flashes brilhantes. Lembro-me de Luke, um amigo do meu irmão, disparando o

alarme no meu primeiro ano. Ele foi suspenso por uma semana e teve de pagar uma multa pesada por

desperdiçar o tempo dos bombeiros. Corro ainda mais depressa.


Quando chego ao patamar, abaixo-me para não ser vista pela janela, daí corro o resto do caminho

até o segundo andar, onde ficam os armários dos calouros. A adrenalina está bombando, e sinto que

posso correr para sempre. Penso em Nadia entrando e vendo o rosto de Alex e lendo esse poema estúpido e ficando


completamente mortificada. Duvido que ela vá querer dar uma volta na SUV dele outra vez. Eu adoro

isso. Adoro saber que Alex levará um fora de uma primeiranista, que todos na escola rirão dele.


Completo outro trecho de corredor, mas isso levou muito mais tempo que o esperado, porque tive

de parar para cortar mais fita adesiva.


Então escuto as sirenes.


Não tenho muito mais tempo. O que é uma droga, porque ainda falta cobrir mais da metade da

escola. Por isso dispenso a fita adesiva e passo a apenas jogar as folhas como confete. O que é bem

mais rápido. Termino a ala de ciências e o corredor de inglês. Quando deslizo pelo corrimão da


escada dos fundos, vou jogando folhas por cima do ombro.


Estou chegando ao primeiro andar quando um grupo de bombeiros passa pelas portas. Eles estão

com seus chapéus, suas lanternas acesas e os rádios emitindo chiados.


Por sorte, estou bem na frente do auditório. Entro e me escondo nas dobras da grande bandeira dos


Estados Unidos. Um segundo depois dois bombeiros entram. Seguro a respiração e vejo as lanternas

deles no teto, no palco.


Eles gritam que está tudo em ordem e correm para fora, continuando a busca pelo fogo.


Eles não encontram nada, mas Alex arderá em chamas.

Olho Por OlhoWhere stories live. Discover now